BODAS DE SANGUE
EXCESSOS TIRAM A ESSÊNCIA DO TEXTO DE LORCA
Elenco de Bodas de Sangue |
O
diretor Altair de Souza, da Cia. Sala 3, completou a trilogia rural de Federico
Garcia Lorca com a encenação de Bodas de Sangue. O espetáculo continuará na
pauta da companhia, devendo ser exibido em outras oportunidades. Anteriormente,
o grupo já havia produzido Yerma e A Casa de Bernarda Alba, projeto da
companhia que começou em 2015, com o patrocínio da Lei Municipal de Incentivo à
Cultura e apoio do Centro de Estudo e Pesquisa Ciranda da Arte da Secretaria de
Estado da Educação e Cultura.
Altair
não economizou na encenação da obra clássica do autor espanhol. Convidou Rosi
Martins para preparar o elenco, Renata Paolucci para elaborar as coreografias
flamencas e Sheila e Sérgio de Paiva para selecionar as canções típicas da
Espanha. Cercou-se também de profissionais experientes para compor a extensa
ficha técnica. Rodrigo Assis cuidou da iluminação, Dieferson Gomes dos
figurinos e Adriana Rufino da cenografia. Porém exagerou na composição cenográfica,
no figurino e nos adereços. Cores intensas (vermelho principalmente), rendas,
tules, babados e flores dão um aspecto exagerado à produção, que também faz excessivas
referências à cultura espanhola. Adepto do exagero informativo, Altair tira a
essência do texto. O mesmo havia acontecido com Yerma e A Casa de Bernarda
Alba.
Bodas
de Sangue baseia-se, segundo revelou o autor, em uma história real de traição
ocorrida na zona rural de Andaluzia. Tragédia tingida de sangue, molhada de
lágrimas, ódio e paixão, serviu de mote para o autor, morto em 1936 durante a
ditadura de Francisco Franco, na Espanha. Uma viúva, dona de uma vinha e muitas terras
aceita casar seu filho único com uma herdeira de terras próximas às suas. No
dia do casamento, a noiva reencontra seu antigo amor e ex-pretendente e com ele
foge a cavalo. Descoberta a fuga, o noivo sai a sua procura até encontrá-la ao
lado do outro. Do confronto entre os dois rivais termina em morte, muita
revolta e sede de vingança. À noiva restará a eterna solidão. Vida sem amor e
sem futuro.
Para
o elenco, foram convidados atores veteranos como Mauri de Castro, Bruno Peixoto
e Mirella Araújo, todos corretos no desempenho de seus personagens. Formada em
Artes Cênicas na UFG e com pouca atuação no palco, Maria Cristina Magalhães
surpreende como mãe do noivo, uma mulher forte e dominadora. Mesmo com seu belo
visual, Jhey Matos não consegue extravasar a paixão da noiva pelo amante. Não
convence como a mulher corajosa, decidida a viver um amor impossível. O
espírito maledicente de Bruno Peixoto é uma solução um tanto confusa encontrada
pelo diretor para, quem sabe substituir, as vizinhas faladeiras.
Na
abertura, os atores citam casos de mulheres mortas pelos maridos, amantes e
namorados. Diferentemente dos casos de feminicídio que aumentam as estatísticas
de mortes de mulheres, Bodas de Sangue fala de traição, de paixão sem limite. Nada
a ver com o texto original.
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