quarta-feira, 19 de setembro de 2018


   
BODAS DE SANGUE
 


                        EXCESSOS TIRAM A ESSÊNCIA DO TEXTO DE LORCA  

Elenco de Bodas de Sangue

                        

O diretor Altair de Souza, da Cia. Sala 3, completou a trilogia rural de Federico Garcia Lorca com a encenação de Bodas de Sangue. O espetáculo continuará na pauta da companhia, devendo ser exibido em outras oportunidades. Anteriormente, o grupo já havia produzido Yerma e A Casa de Bernarda Alba, projeto da companhia que começou em 2015, com o patrocínio da Lei Municipal de Incentivo à Cultura e apoio do Centro de Estudo e Pesquisa Ciranda da Arte da Secretaria de Estado da Educação e Cultura.

Altair não economizou na encenação da obra clássica do autor espanhol. Convidou Rosi Martins para preparar o elenco, Renata Paolucci para elaborar as coreografias flamencas e Sheila e Sérgio de Paiva para selecionar as canções típicas da Espanha. Cercou-se também de profissionais experientes para compor a extensa ficha técnica. Rodrigo Assis cuidou da iluminação, Dieferson Gomes dos figurinos e Adriana Rufino da cenografia. Porém exagerou na composição cenográfica, no figurino e nos adereços. Cores intensas (vermelho principalmente), rendas, tules, babados e flores dão um aspecto exagerado à produção, que também faz excessivas referências à cultura espanhola. Adepto do exagero informativo, Altair tira a essência do texto. O mesmo havia acontecido com Yerma e A Casa de Bernarda Alba. 

Bodas de Sangue baseia-se, segundo revelou o autor, em uma história real de traição ocorrida na zona rural de Andaluzia. Tragédia tingida de sangue, molhada de lágrimas, ódio e paixão, serviu de mote para o autor, morto em 1936 durante a ditadura de Francisco Franco, na Espanha.  Uma viúva, dona de uma vinha e muitas terras aceita casar seu filho único com uma herdeira de terras próximas às suas. No dia do casamento, a noiva reencontra seu antigo amor e ex-pretendente e com ele foge a cavalo. Descoberta a fuga, o noivo sai a sua procura até encontrá-la ao lado do outro. Do confronto entre os dois rivais termina em morte, muita revolta e sede de vingança. À noiva restará a eterna solidão. Vida sem amor e sem futuro.

Para o elenco, foram convidados atores veteranos como Mauri de Castro, Bruno Peixoto e Mirella Araújo, todos corretos no desempenho de seus personagens. Formada em Artes Cênicas na UFG e com pouca atuação no palco, Maria Cristina Magalhães surpreende como mãe do noivo, uma mulher forte e dominadora. Mesmo com seu belo visual, Jhey Matos não consegue extravasar a paixão da noiva pelo amante. Não convence como a mulher corajosa, decidida a viver um amor impossível. O espírito maledicente de Bruno Peixoto é uma solução um tanto confusa encontrada pelo diretor para, quem sabe substituir, as vizinhas faladeiras. 

Na abertura, os atores citam casos de mulheres mortas pelos maridos, amantes e namorados. Diferentemente dos casos de feminicídio que aumentam as estatísticas de mortes de mulheres, Bodas de Sangue fala de traição, de paixão sem limite. Nada a ver com o texto original.



        

      

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