sexta-feira, 25 de novembro de 2016



 DIRETORES EM FOCO
                     


                      DO TEATRO EXPERIMENTAL A DIRETOR  PREMIADO


Danilo Alencar


Colecionador de premiações, o Grupo Arte & Fatos da Coordenação de Arte e Cultura da PUC Goiás é um dos mais importantes da cena teatral goiana. Com mais de 20 anos de criação, o grupo arrebatou mais de 150 prêmios em diferentes categorias em conceituados festivais de teatro do País. Recentemente ganhou o Diploma de Mérito Cultural, concedido pelo Conselho Estadual de Cultura, pelo espetáculo  Balada de um Palhaço, há 10 anos em cartaz. 

Todo esse êxito se deve em grande parte ao diretor Danilo Alencar, dedicado mestre de oficinas de formação de atores na própria PUC, e criador do grupo há 28 anos. Paixão e talento são os grandes aliados do artista, que dedica a maior parte do seu tempo ao fazer teatral: escreve, dirige, atua, forma atores, compõe. Desde a criação do grupo em 1988, dirigiu cerca de 20 espetáculos de repercussão. Os prêmios foram apenas uma conseqüência. 

Natural de Tiros (MG), Danilo Alencar veio para Goiás com a família ainda menino. Viveu alguns anos na região do Vale do São Patrício, até mudar-se para Brasília. Na adolescência, escrevia poesia, compunha músicas, brincava de ser ator. Nos anos 1970, fundou com amigos o primeiro grupo de teatro experimental no Cruzeiro, um bairro de Brasília, digamos assim. Sem dinheiro, sem técnica, sem adereços, o grupo atingia o público com suas montagens improvisadas. Paralelo ao teatro amador,  trabalhava como vendedor de uma multinacional de televisores. Em 1975, foi transferido para Goiânia, onde fixou-se definitivamente. 

Como compositor, outra de suas tantas habilidades, estreou em festivais de música, à época muito populares no meio cultural, pois abriam portas para os novos talentos. Participou do Gremi – Festival de Artes de Inhumas e do ComunicaSom, ao lado de grandes nomes da música goiana. Em 1988, ingressou na PUC Goiás para estudar História, curso que abriu as portas para sua arte.  

Obstinado, curioso, Danilo redescobriu o teatro no curso de História. Os fatos históricos foram o ponto de partida para sua criação teatral. Sob a supervisão de seus professores fez da sala de aula um palco. Queria fugir da mesmice, das aulas maçantes, pretendia falar de história de uma forma diferente. Ainda sem a técnica, mas contando com a boa vontade dos colegas, foi em frente, sempre incentivado pelos mestres.

A primeira montagem do grupo que nascia foi Liberté Uai, texto inspirado na Revolução Francesa. Incentivado pela professora Sônia Marquez, Danilo mesclou fatos históricos da França à Inconfidência Mineira, que chegava aos 100 anos. A encenação marcante levou-o a investir em uma nova possibilidade de carreira. “Fiquei fascinado com o resultado. O palco cheio de atores e a plateia aplaudindo”, recorda. 

Nos livros indicados aos vestibulares das  Universidades Federal e Católica, encontrou mais uma oportunidade de ocupar o teatro. As adaptações de nomes consagrados da literatura viraram produções muito aplaudidas pelos vestibulandos. Danilo escrevia os textos em parceria com o professor Gil Mendes. Para ele, o período foi enriquecedor. Proporcionaram muitas experimentações e novas experiências.  Achava-se apto para o trabalho, mas ainda faltava técnica, a carpintaria, as nuances do fazer teatral. Aconselhado pelo diretor teatral e professor da antiga Escola Técnica Federal de Goiás, hoje Instituto Tecnológico de Goiás, Sandro di Lima, investiu pesado na  sua profissionalização a fim de escapar do amadorismo.

Canudos 
Para escrever Sob o Sol de Canudos, o diretor mergulhou fundo na complexa história de Antônio Conselheiro, o messiânico cearense que fundou a comunidade de Canudos no sertão da Bahia. Formou o elenco com 40 pessoas, a maioria estudantes da PUC e pessoas comuns da comunidade. Queria fugir da mesmice. E conseguiu. A partir daí o nome de Danilo Alencar despontou no meio e chamou atenção.  Sob o Sol de Canudos foi considerado o melhor texto do Festival de Teatro de Anápolis.

Entusiasmado, achou que poderia galgar outros degraus. Com dificuldade, reuniu o grupo, pegou a estrada e partiu rumo ao Paraná para participar do tradicional Festival Nacional de Teatro, promovido pela Universidade Estadual de Ponta Grossa (PR). No início, choveram críticas da comissão julgadora. Para os jurados “aquilo” não era teatro. “Fiquei triste demais. Mas, não desisti”, conta o diretor. No mea culpa,  reconhece: “O pessoal que viu Canudos em Goiânia, a maioria candidatos de vestibular, estava interessado na história de Canudos, e não na carpintaria, nos conflitos, na confecção do espetáculo”, lamenta. Danilo aprendeu a lição. Com humildade, correu atrás do prejuízo, investindo mais na sua própria formação. Conquistou fama de diretor que lotava teatros. Mas, era pouco para ele, que queria ser reconhecido como profissional do teatro.

Prática
Danilo Alencar aprendeu tudo o que sabe de teatro na prática. Curioso, quase obsessivo, investiu no que queria até conseguir desenvolver um trabalho que tem a sua marca. Um espetáculo nunca é o mesmo na sua mão. Mexe, remexe no texto, no cenário, a entrada dos atores, na performance a cada nova sessão. 

 Ele confessa ter sofrido com as críticas do início da carreira. Não sentiu-se intimidado. Por indicação do diretor Sandro di Lima, leu muito, estudou, pesquisou. Tinha consciência de que precisava lapidar o que era nato, dar respostas técnicas e nível profissional ao seu trabalho. Os atores também exigiam, e era preciso atendê-los. “Sandro di Lima foi muito importante na minha carreira. Incentivou e deu  respaldo desde o início”, revela. 

Surpreendente foi o espetáculo Herdeiros de Zumbi, em 1995. Dezenas de atores, a maioria negros, ocuparam o palco do Teatro Goiânia com a dramaturgia escrita por ele, sob a supervisão dos professores do curso de História da PUC, Sônia Marquez, Laís Bueno, Gil Mendes, Ironildes Bueno e do poeta e escritor Pedro Tierra (Hamilton Pereira), que abordava a questão do negro, ressaltando a figura de Zumbi dos Palmares, heroi da resistência à escravidão.  Para surpresa do diretor, ao final de uma apresentação na cidade de Goiás, dentro da programação do Festival Internacional de Meio Ambiente e Vídeo Ambiental (Fica), os atores devolveram os figurinos dizendo que aquele não era o tipo de espetáculo que queriam fazer. “Levei um tempo para absorver aquele constrangimento. Muitas vezes o ser humano é perverso. Esse preconceito contra meu trabalho me massacrava. Levei tempo para recomeçar”, afirma.

A encenação didática, baseada em fatos históricos, estava longe de ser classificada como uma peça de teatro propriamente dita. Herdeiros estava  mais para uma simples encenação. Passada a poeira da decepção, o diretor retomou o espetáculo. Mexeu e remexeu na produção, cercou-se de profissionais como o cenógrafo de Shell Júnior, o iluminador Ricardo Grillo, atores mais experientes como Wellington Dias, no papel de Zumbi, Adriana Brito, Liomar Veloso e outros. Daí em diante o espetáculo deslanchou. A alegria que o espetáculo daria começou com a seleção para primeira edição do Festival de Artes Cênicas Goiânia em Cena. A participação no evento deu o respaldo necessário para a disputa do Festival Universitário de Ponta Grossa (PR), um dos mais tradicionais do País.

Formada por mais de 40 pessoas, entre atores e técnicos, a trupe partiu de Goiânia em ônibus fretado, esperando conquistar seu espaço. A decepção veio em forma de crítica do jurado Toninho do Vale, para quem “ Herdeiros de Zumbi não era teatro”. Apesar da campanha contra, o Grupo Arte & Fatos, que dava um passo importante rumo à profissionalização, arrebatou 12 prêmios no Festival de Ponta Grossa. Ganhou troféus em todas as categorias, menos o de melhor atriz, porque não tinha no elenco da peça. 

Os prêmios foram o respaldo que Danilo Alencar aguardava para consolidar seu improvisado grupo, que ensaiava nas madrugadas em sala cedida pela PUC, já que não tinha vínculo empregatício com a universidade. Estava dada a largada definitiva do grupo Arte & Fatos.
Além de dirigir, Danilo Alencar também atua, escreve e é professor de Teatro da Coordenação de Arte e Cultura da PUC Goiás. Com o diretor Marcos Fayad, considerado um grande formador de atores em Goiás, atuou na segunda montagem da peça Martim Cererê, da Cia. Teatral Martim Cererê, Cara-de-Bronze, Rasga Coração e muitas outras. 


Novos temas

Balada de um Palhaço

Por muito tempo, Danilo Alencar manteve-se fiel à história. A maioria de seus espetáculos eram adaptações de fatos históricos, afinal estava diretamente ligado ao Departamento de História da PUC. Aos poucos, desvencilhou-se partindo para novos temas, como o monólogo A Clara do Ovo, vencedor do Festival de Monólogos da Federação de Teatro de Goiás 2004. O  espetáculo Balada de um Palhaço, de Plínio Marcos, que estreou em 2006,  é considerado um marco em sua carreira. Há 10 anos em cartaz, a peça continua em cartaz com a vitalidade e a dupla de atores Bruno Peixoto e Edson de Oliveira. Simultaneamente, o Grupo Arte & Fatos tem feito trabalhos relevantes, que fizeram dele um dos mais importantes do teatro de Goiás.  

Com humildade, Danilo Alencar galgou degraus, abriu portas, aperfeiçoou a técnica e tem feito um reconhecido trabalho teatral. Sempre que tem oportunidade, pega a estrada, levando a cultura goiana para outros centros. Um dos pontos favoráveis do seu grupo é contar com o apoio da PUC, que oferece condições para se manter. Como servidor da universidade, o diretor tem oportunidade de fazer o que gosta: pesquisar, experimentar, escrever e formar novos atores. 

Ser Tão Grande


CONVERSA VAI, CONVERSA VEM ...

É possível fazer teatro sem dinheiro?
É. O que a gente não consegue é ator para trabalhar de graça, sem dinheiro. Houve uma mecanização, uma sistematização de uma outra leitura do fazer artístico. Se tiver pessoas sedentas para fazer teatro, garanto a mesma excelência, a mesma dedicação, a mesma paixão e coloco no palco.

Atores e grupos alegam que sem o apoio das leis de incentivo é impossível sobreviver.  
Não é verdade. As leis são um ganho importante porque o mundo avançou. É justo. Mostra que continuamos com o pires na mão. Mas podemos sobreviver de outras formas.  

O teatro pode viver só de bilheteria?
Não. Paralelamente aos meus afazeres no teatro, sempre tive outras atividades. Meus espetáculos sempre são contemplados nas leis de incentivo, mas ficam anos em cartaz, como o Balada de um Palhaço, que está completando 10 anos no repertório do grupo. O teatro é muito maior do que o sistema de leis. Por exemplo, tem espetáculo que não gastei um tostão para fazê-lo. Entrei dentro de um depósito e recolhi os adereços, reuni pessoas apaixonadas pelo fazer artístico, como André Larô, Rita Alves, Taíse e Leopoldo Rodrigues. Fizemos Os Avessos, que nada deixa a dever aos meus outros trabalhos. Nós acreditamos que o teatro pode ser feito de várias formas. Basta querer.

Sem dinheiro, tem de ter muito amor à arte.
Quando descobri o teatro, fui obrigado a encarar enormes dificuldades. Paguei um preço muito alto por isso. Nunca consegui levar o teatro só como entretenimento. Tenho sérios problemas de saúde hoje, porque não soube dosar as atividades. Não estou atribuindo meus problemas só ao teatro, mas peguei muito pesado.

Você começaria tudo outra vez?
Faria sim, porque a causa foi muito justa. Foi assim que fiz. É assim que faria.   

Antes de ter o apoio da PUC, como fazia teatro?
Na fé. Nós nos reuníamos com professores apaixonados, alunos sedentos, sem a febre do capitalismo, sem o “eu preciso ganhar dinheiro”, o que não está errado de jeito nenhum para quem fez a opção de ser ator. Mesmo sem dinheiro, eu trabalhava com a mesma intensidade que trabalho hoje, com o mesmo entusiasmo. A única diferença é que como não tinha horário para cumprir todos os dias, às 2 horas da manhã, durante 12 anos eu estava dentro do meu carro levando ator em casa depois dos ensaios. Mas, nunca abri mão de colocar no palco, contextualizado ou não, algo em que acreditasse.

Como você abriu as portas da PUC para seu grupo?
Na inauguração do Memorial do Cerrado, apresentamos o espetáculo Opereta do Cerrado. A professora Clélia Brandão, à época reitora da PUC, disse que não admitia mais que eu continuasse dentro da PUC sem ter vínculo com a instituição. Com o aval da professoras Sônia Marquez e Laís Machado, a universidade me contratou.

Principais montagens 
1988 – Nos Trilhos da História – Desagregação do sistema primitivo, adaptações dos textos de Marx e Engels.
1989 – Liberté, Uai – Bicentenário da Revolução Francesa e Centenário da Inconfidência Mineira.
1990/1995 – Sob o Sol de Canudos, Centenário do Movimento de Canudos.
1995 – Primeira montagem de Herdeiros de Zumbi.
1997 – Anjos Poetas, Tributo aos 150 anos da morte de Castro Alves.
 2000 – Opereta do Cerrado – para a inauguração do Memorial do Cerrado da Universidade Católica de Goiás.
 2002 – Toca Mariles! Uma História da Ditadura Militar.
 2003 – A Aurora da Minha Vida, de Naum Alves de Souza
 2004 – A Clara do Ovo, de Danilo Alencar
 2006 –  Balada de um Palhaço, de Plínio Marcos
 2011 – Ser Tão Grande, de Danilo Alencar
 2014- Travesseiro, de Danilo Alencar
2015 – Os Avessos, de Danilo Alencar
2015 – Lágrimas de Guarda chuva, de Eid Ribeiro
2015 –  Mundo Cerrado, de Danilo Alencar

Premiações

- 2º Festival Nacional de Teatro de Juiz de Fora/MG – Elizabeth Savala.
Setembro de 2007.

Prêmios:
Melhor Espetáculo
Melhor Diretor: Danilo Alencar
Melhor Ator: Edson de Oliveira
Melhor Cenário
Melhor Espetáculo Júri Popular

- 30º Fenata – Festival Nacional de Teatro de Ponta Grossa/PR

Prêmios:
Melhor Diretor: Danilo Alencar
Melhor Ator: Bruno Peixoto

- 22º Festival de Teatro de Blumenau/SC
Julho de 2008

Prêmios:
Melhor Cenografia: Paulinho Pessoa
Melhor Figurino: Rosi Martins
Melhor Ator: Bruno Peixoto
E todas as indicações.

- Festival de Teatro de Resende/RJ
Julho de 2008

Prêmios:
Melhor Espetáculo
Melhor Direção: Danilo Alencar
Melhor Ator: Bruno Peixoto
Melhor Cenografia: Paulinho Pessoa
E Indicação em todas as categorias.

- FIT 2009 – Festival Ipitanga de Teatro – Lauro de Freitas|BA
Junho de 2009

Prêmios:
Melhor Espetáculo
Melhor Diretor: Danilo Alencar
Melhor Ator Coadjuvante: Bruno Peixoto
Melhor Cenário: Paulinho Pessoa
Melhor Figurino: Rosi Martins
E 9 Indicações 

Lágrimas de Guarda-Chuva


- 44º Festival Nacional de Teatro de Ponta Grossa/PR
  Outubro de  2016

 Prêmios:
Melhor Texto: Eid Ribeiro
Melhor atriz : Rita Alves
Melhor direção: Danilo Alencar
Melhor sonoplastia:  Sarah Alencar, Danilo Sene e Tomás Bastos
Melhor maquiagem: Franco Pimentel
Melhor figurino: Caroline Albuquerque/Camila Witkowski

Fotos: Divulgação

sexta-feira, 18 de novembro de 2016



                                        SIM, O TEATRO GOIANO TEM MEMÓRIA


Memória da Cena Teatral Goiana 1, de Gilson P. Borges



Deixamos de registrar a maior parte das nossas memórias. Quando menos se espera o tempo passou, as lembranças foram se apagando, e tudo fica mais difícil de resgatar. Já não conseguimos mais rever os pequenos detalhes, minúcias de acontecimentos e fatos.

Vivemos no mundo do efêmero. Daí a importância de registrar a história, nossa e dos outros. Verdade que nem sempre encontramos tempo ou disposição para fazê-lo. Vamos deixando tudo para depois.  Infelizmente, o que seria fundamental para o futuro, para pesquisadores e historiadores vai se perdendo pela ação inexorável do tempo. 

O que é notícia hoje já não é mais dentro de poucas horas. Diante da infinidade de informações, esquecemos rapidamente determinados assuntos. A internet, essa poderosa ferramenta contemporânea, largamente utilizada torna-se nosso diário atual, nossa fonte de informação e documentação.  Porém, arquivar fotos,  guardar livros, filmes e vídeos, panfletos e catálogos, recortes de jornais e revistas é tão importante quanto os apontamentos, as anotações, os diários e os  impressos. 

Tudo é memória. Tudo compõe a história. Futuramente, esses dados serão compartilhados, manuseados, pesquisados, compreendidos.  A história do teatro em Goiás vem sendo construída. Muitos são os registros já feitos sobre os primórdios do teatro goiano, o legado, experiências e vivências de grupos, atores, atrizes, diretores e outros temas relacionados.  

Resgate

 
Memória do Teatro Goiano, de Hugo Zorzetti
 Autor, diretor, professor e criador do Grupo de Teatro Exercício, Hugo Zorzetti assina uma coleção sobre a História do Teatro em Goiás (Editora UFG/2014). São três livros imprescindíveis para quem atua na área. Memória do Teatro Goiano – A Cena na Capital focaliza personalidades históricas como Otavinho Arantes, fundador do Teatro Inacabado, Cici Pinheiro, atriz audaciosa que ousou beijar seu parceiro de cena na primeira novela levada ao ar em Goiânia, causando o maior rebuliço na sociedade, e João Bennio, um mineiro quase goiano que atuou tanto no teatro como no cinema.
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No segundo volume das memórias, Hugo Zorzetti aborda A Cena no Interior. Ele resgata a cena teatral de Morrinhos, fala sobre a atuação marcante da família Diniz, fundamental para agitação cultural na cidade. A fundação do Teatro Juquinha Diniz é outro foco da obra de Zorzetti, um profundo conhecedor do fazer cultural de Goiás. Outro ponto importante da obra diz respeito a cena teatral de São Luís de Montes Belos, e sua grande incentivadora, a atriz e diretora Carmosina Vitória, em Trindade, Anápolis, Quirinópolis, Pirenópolis e Silvânia.

Vale apena conhecer o teatro feito durante a ditadura militar (1964/1985). Zorzetti fala sobre assuntos que na época eram tabu.  Censura, perseguição política a autores, atores e diretores são alguns temas do terceiro volume da série Memória do Teatro Goiano -  A Cena da Ditadura. A atuação marcante do Teatro Exercício, a criação do Tese,  grupo de teatro do Colégio Universitário (Colu), e do Teatro Universitário Galpão são temas da obra, que traz também temas polêmicos para a época como a censura, a perseguição política, os protestos contra o regime no palco, a saga dos pioneiros do teatro. Zorzetti resgata a história de muitos atores que deram imensa contribuição à arte e que continuam atuantes no meio.  

 Atriz, diretora e historiadora, Renata Caetano é autora do livro Palco em Cena, que traz amplas entrevistas dos diretores Sandro di Lima, Danilo Alencar, Mauri de Castro, Samuel Baldani, nomes fundamentais da cena teatral de Goiás. A autora elege o texto teatral como ponto de discussão: atos, cenas, personagens, estilos, iluminação, cenografia. Renata contextualiza cada parte nos aspectos históricos a partir dos anos 1960/1970 e personagens, no caso os quatro diretores. 

Teatro Goiânia: Histórias e Estórias, de Gilson P. Borges


Teatro Goiânia
Um dos mais importantes espaços culturais da capital, o Teatro Goiânia ganhou um  livro inteirinho  sobre ele, escrito por Gilson P.Borges.  Teatro Goiânia: Histórias e Estórias integra a coleção Goiânia em Prosa e Verso, lançada pela Secretaria Municipal de Cultura, em parceria com a Editora UFG, em 2007. Ilustrado com fotos da época da sua construção, a obra resgata toda a história do Cine Teatro Goiânia, as primeiras peças encenadas, os primeiros filmes exibidos, a primeira grande reforma que o transformou apenas em teatro e outros assuntos interessantes.  Gilson mergulhou na pesquisa levantando todas as informações sobre o prédio art déco, tombado pelo Patrimônio Histórico. Inaugurado em 1945, nas comemorações do Batismo Cultural de Goiânia, é considerado um marco da cidade. 

Gilson P.Borges também organizou o livro Memória da Cena Teatral Goiana 1. Trata-se do primeiro volume de uma série que o autor prepara sobre grupos, diretores, atores, dramaturgos e técnicos de teatro em Goiás. O organizador baseou seu trabalho a partir da criação do Banco de Dados do Teatro Goiano, à disposição dos interessados na Biblioteca Carmelinda Guimarães do Instituto Tecnológico de Goiás Basileu França, ex-CEP Basileu França (Av. Universitária, nº 1750, Setor Universitário – Goiânia). 

No primeiro livro, Gilson P. Borges registrou a obra dos grupos Trama Teatro, do diretor Deusimar Gonzaga, Teatro GTI, do ator Bruno Peixoto, Olho da Rua e Reinação, da atriz Rita Alves. O Grupo de Teatro Bastet, de Thiago Moura também mereceu destaque nas memórias, bem como o Grupo Trupicão Cia. de Teatro, de Sandro Freitas. Um dos mais atuantes da cena teatral, o trabalho do Grupo Zabriskie, de Ana Cristina Evangelista e Alexandre Augusto e Cia. de Teatro Novo Ato, de Luiz Cláudio e Marília Ribeiro estão registrados na obra.

Fundada no Rio de Janeiro pela atriz, diretora e acrobata Lua Barreto, a Cia. Corpo na Contramão tem sua história contada no livro de Gilson Borges. O leitor poderá conhecer também o trabalho realizado pela Cia.Teatral Oops!... de João Bosco Amaral e Sol Silveira. Além dos textos, o livro é ricamente ilustrado com fotografias feitas pelo próprio autor, o que enriquece muito o seu trabalho. Cada grupo pode falar da criação do grupo, a técnica desenvolvida e contar curiosidades de sua atuação. Não houve, por parte do organizador, a preocupação de reescrever os textos, que são narrados em primeira pessoa.

Memória da Cena Teatral Goiana 1 apresenta um panorama amplo sobre os grupos da cidade, com ótimo material de pesquisa. Espera-se que tenha continuidade, pois ainda há dezenas de outros esperando contar sua história. Editado pela Nega Lilu Editora, a obra é patrocinada pela Lei Municipal de Incentivo à Cultura.  

Palco Aberto, de Renata Caetano


Bibliografia
- ZORZETTI, Hugo. Memória do Teatro Goiano – A Cena na Capital. Goiânia. Editora UFG, 2014.
- ZORZETTI, Hugo. Memória do Teatro Goiano – A Cena no Interior. Goiânia. Editora UFG, 2014.
- ZORZETTI, Hugo. Memória do Teatro Goiano – A Cena na Ditadura. Goiânia. Editora UFG, 2014.
- CAETANO, Renata. Palco Aberto. Goiânia. Gráfica e Editora América. 2009.
- BORGES, Gilson P. Teatro Goiânia: histórias e estórias. Goiânia. Editora da UCG. 2007.
- BORGES, Gilson P. Memória da Cena Teatral Goiana I. Goiânia. Nega Lilu Editora. 2015.