quarta-feira, 30 de dezembro de 2015

ANÁLISE



PRODUÇÃO CULTURAL ESCASSA E  CURTA TEMPORADA


Sobre Isto, Meu Corpo Não Cansa - Quasar Cia. de Dança

          
Com crise ou sem crise, Goiânia já viveu dias melhores na produção cultural. Até bem pouco tempo, a cidade vivia uma efervescência criativa e produtiva apesar de todas as dificuldades financeiras, que sempre foram um entrave para a cultura de modo geral. Costuma-se dizer que quando o governo vai mal, como agora, a cultura é a primeira a ser atingida, como se não fosse ela importante para o povo.

A redução dos investimentos, adiamentos constantes, cancelamentos e o atraso nos repasses dos Fundos de Cultura e das Leis de Incentivo são alguns dos motivos apontados para a redução da produção cultural. Apesar disso, a maioria dos grupos de teatro mantém o entusiasmo, driblando as dificuldades como pode. Fazem investimentos do próprio bolso, buscam financiamento em empresas em troca de divulgação. Até a bilheteria entra como patrocinadora dos espetáculos. Infelizmente, o número de estreias está cada vez menor. São insuficientes para ocupar os espaços culturais da cidade com regularidade.

Quando uma peça estreia dificilmente ficará mais do que três dias em cartaz. Outras fazem apresentação única a fim de cumprir a exigência da lei, e ponto final. Desaparecem de cena. 
Aliada à falta de dinheiro, a produção cultural de Goiânia tem deixado a desejar no quesito qualidade. Poucas têm sido as produções que entusiasmam o espectador e o tira de casa para ir ao teatro. 


NOVOS TALENTOS SURPREENDEM NA DANÇA CONTEMPORÂNEA


Coreografia Ali Se ...


Houve um tempo em que a movimentação artística da cidade girava principalmente em torno da dança clássica. As escolas, algumas tradicionais, investiam com vontade no gênero, recriando grandes espetáculos de repertório. Para abrilhantar mais os espetáculos, convidavam consagrados bailarinos como Ana Botafogo, Marcelo Misailides e Cecília Kerche, do Teatro Municipal do Rio de Janeiro, para dividir o palco com a garotada. Foram bons tempos aqueles... Hoje, bem sabemos os motivos, a famosa produção minguou, e as escolas cumprem apenas seu papel pedagógico.

Uma das principais do País, reconhecida no exterior, a Quasar Cia. de Dança, criada em 1988, tem influenciado muito a dança contemporânea de Goiânia. Bailarinos e coreógrafos têm se espelhado no trabalho do grupo de Henrique Rodovalho, mas em busca da sua própria linguagem artística. Tem havido surpresas, e isso é muito estimulante para o meio. 

Na dança contemporânea, o ano começou bem com a estreia da coreografia Sobre Isto, Meu Corpo Não Cansa, da Quasar Cia. de Dança. Uma vez mais a companhia mostrou no palco porque está entre as melhores desde que foi criada. Movimentos ágeis, aliados a bela trilha sonora, ao elegante figurino e a uma iluminação de extremo bom gosto mostram a força criativa de Henrique Rodovalho.  

No rastro do grupo, três novos talentos despontam como criadores independentes. Experientes bailarinos e coreógrafos promissores, João Paulo Gross, Daniel Calvet e José Villaça estrearam espetáculos muito bem avaliados. Os espetáculos O Crivo e Sobre a Pele, de João Paulo Gross, Lupita, de Daniel Calvet e Ali Se..., de José Villaça foram boas surpresas da temporada 2015. 

Inspirada na obra de João Guimarães Rosa, O Crivo exigiu muita concentração dos bailarinos João Paulo Grosso e Daniel Calvet. Recriado com as cores quentes do sertão, a iluminação tem o tom aos intensos movimentos dos bailarinos que rolavam no palco como dois sertanejos no sol inclemente. Bela leitura da obra do genial escritor mineiro. Na criação de Sobre a Pele, João Paulo Gross investiu no livro Pequeno Discurso Amoroso, de Roland Barthes, para falar de amores mal resolvidos, relacionamentos conturbados, falta de amor com os bailarinos da Das Los Grupo de Dança, da diretora Tassiana Stacciarini. O resultado só podia ser emocionante. 

 
Lupita, de Daniel Calvet

Descontraída e alegre, Lupita, de Daniel Calvet, cativa o público logo no início do espetáculo. Baseado nos roteiros das novelas mexicanas, a coreografia destaca toda a dramaticidade dos tipos canastrões, das mulheres exuberantes e sensuais. Vibrante, bem humorada, Lupita é colorida e divertida. Diferentemente, de João Carlos Gross e Daniel Calvet, José Vilaça investe na brincadeira, na singeleza do espetáculo Ali Se... que aborda de forma leve o ir, o vir, a chegada, a partida. Músicas bem selecionadas, figurino divertido e muita alegria no palco, a coreografia encanta do início ao fim.


TEATRO



                                                     CENA TEATRAL MORNA 

Rita Alves e Bruno Peixoto em Lágrimas de um Guarda-Chuvas


A cena teatral manteve-se morna Em 2015, com uma estreia aqui outra ali. O diretor Danilo Alencar, do Grupo Arte & Fatos da PUC Goiás, emplacou duas peças: Os Avessos, inspirada no conto Sorôco, Sua Mãe, Sua Filha, de Guimarães Rosa, e Lágrimas de Guarda-Chuva, texto inédito do mineiro Eid Ribeiro. A vantagem de Danilo é contar com o apoio da universidade para financiar seus projetos. Bem produzidas, as duas produções fizeram curta temporada e saíram de cartaz. Lágrimas de Um Guarda-Chuva ganhou diversos prêmios em festival no interior de Minas.  Pode ser que retornem ao palco em 2016.  Danilo Alencar mantém-se firme no posto de diretor mais atuante. Está sempre investindo em alguma produção.    
  
Patrocinada pela Petrobras, a Cia. Nu Escuro estreou Pitoresca, comédia inspirada na história do Brasil, mas não empolgou. Fez o dever de casa, com temporada no Sesc Centro, retornou em poucas sessões e saiu de cena. O diretor João Bosco Amaral, da Cia. Oops! deu continuidade à trilogia iniciada com Olho, em 2012, encenando o monólogo Gato Preto, com a atriz Sol Silveira no papel central. Baseado no conto homônimo de Edgar Allan Poe, a peça teve apoio do Prêmio Myriam Muniz da Funarte/MinC. Cumprida as exigências da importante premiação do teatro, a montagem pode retornar em 2016, caso tenha outro patrocínio. 

Comemorando nove anos do grupo Sala3, Altair de Souza, produziu vários espetáculos ao mesmo tempo, dois deles do espanhol Federico Garcia Lorca. Com recursos das leis de incentivo, o diretor investiu em Yerma, texto dramático que exige elenco afinado e experiente. O colorido dos figurinos e o cenário exuberante suplantaram a atuação dos atores, ainda imaturos para os papéis. Foram poucas as apresentações das peças da Sala3. Nenhuma ela ficou em cartaz.


FESTIVAIS








         




ANÁLISE


 
            BREVES COMENTÁRIOS CULTURAIS DO ANO QUE NÃO TERMINA...


Aguardados com expectativa pelos artistas, produtores, diretores e outros profissionais da arte, desde que foram criados, os Festivais Goiânia em Cena, Mostra Nacional de Teatro de Porangatu – TeNpo e Canto da Primavera, edições 2015, foram cancelados.


Enquanto a secretária de Educação e Cultura, Raquel Teixeira, se derramou em explicações, culpando a crise econômica pelo cancelamento do TeNpo e do Canto da Primavera, a Secretaria Municipal de Cultura nem demonstrou a mesma preocupação. Não realizou o Festival Goiânia em Cena e ponto final. Nos bastidores sabe-se dos motivos. Oficialmente não houve nenhum comunicado.


Pouco tempo depois, a Seduce voltou atrás “atendendo ao clamor dos artistas goianos”, ou do comércio pirenopolino, e decidiu promover uma edição reduzida do Canto da Primavera. Na grade de programação, apenas atrações locais. Os organizadores garantem que foi um grande sucesso. O TeNpo se perdeu no tempo e ficou para 2016, se tudo correr bem.


Como diz o ditado: do jeito que a coisa anda, os festivais vão para o brejo. Os teatros ficarão vazios. Por todos os “canto’s” perderemos nosso TenPo. Só encontraremos cultura nos Cabarés.