sexta-feira, 26 de junho de 2009

CICI PINHEIRO - 80 ANOS

Pela importância da atriz, diretora e autora Cici Pinheiro posto neste blog a matéria publicada no dia 5 de junho de 2009, dia em que ela completaria 80 anos. Editada por Rosângela Chaves, o resgate da memória da artista que tanto fez pelo teatro em Goiás vale como registro para a posteridade.

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Se viva estivesse Cici Pinheiro, um dos mais importantes nomes do teatro em Goiás, faria hoje 80 anos. Não há homenagens especiais para comemorar a data. Mas a família planeja, em breve, reunir em livro recortes de jornais e revistas, fotografias e depoimentos da artista, considerada um ícone nos anos 1950, quando iniciou a carreira em Goiânia com o teatrólogo Otavinho Arantes. O primeiro passo está sendo dado por uma sobrinha da artista que prepara uma dissertação de mestrado na Universidade de Brasília sobre a sua trajetória como autora, diretora e atriz.

Conforme seu sobrinho Antenor Pinheiro, Cici deixou um extenso material sobre si mesma e sobre o teatro brasileiro, muito bem preservado, como uma coleção de fotografias marcantes de sua atuação como atriz ao lado de Dina Sfat, Paulo Autran, Célia Biar, Nídia Lícia, Armando Bogus, Walmor Chagas, Heloísa Mafalda. Como Como integrante do Teatro Brasileiro de Comédia, ela dividiu o palco com Cacilda Becker e Walmor Chagas, Flávio Rangel e Augusto Boal, entre outros artistas que escreveram a história do teatro no Brasil.

Morta no dia 10 de abril de 2002, Cici é nome de escola e de prédio. Sua carreira está registrada no livro Memória do Teatro Goiano – A Cena na Capital: os Chamados “Pioneiros”, do dramaturgo, professor e diretor do Grupo Exercício, Hugo Zorzetti. A obra foi publicada em 2005, pela Editora da UCG.

Nascida em Orizona no dia 5 de junho de 1929, Cici lutou com as armas que tinha para conquistar o seu espaço no teatro, no rádio e depois na TV. O talento herdado da mãe Julieta de Resende Pinheiro, conhecida em Orizona como oradora e atriz de peças montadas pelos grupos amadores da cidade, levou-a à carreira profissional como atriz, autora e diretora. Pelas mãos da irmã Florami Pinheiro, a Mimi, integrou o grupo de Otavinho Arantes, com o qual estreou em 1949 como atriz substituta. Em 1950, ocuparia o cargo de primeira atriz da Agência Goiana de Teatro interpretando papéis de destaque em peças como O Escravo de Lúcio Cardoso e Carlota Joaquina, de R. Magalhães Júnior.

Primeira voz feminina do rádio goiano, Cici produziu para a Rádio Brasil Central o programa Magazine no Ar. Depois viriam o Cinema em Revista e Noturno Romântico. Para a Rádio Clube de Goiânia, escreveu e interpretou a radionovela Uma Senhora Mais Brilhante Que o Sol, que marcaria a vinda da imagem de Nossa Senhora de Fátima a Goiânia. Ainda nos anos 1950, Cici Pinheiro mudou-se para São Paulo onde já se encontrava sua irmã Florami Pinheiro. Ao lado de grandes nomes do teatro fez vários papéis, aperfeiçoou sua interpretação e conviveu com artistas consagrados. Diante da insistência da família, ela voltou para Goiânia, e aqui criou seu próprio grupo de teatro.


Beijo polêmico
Dona de um gênio forte e sem papas na língua, Cici Pinheiro fazia e dizia o que queria numa época em que as mulheres não tinham tanta liberdade assim. Pioneira do rádio e da TV, a atriz protagonizou os primeiros beijos em cena nos idos dos anos 1950 com o ator William Aia na peça Deslumbramento, dirigida por João Ângelo La Banca, de São Paulo. A conservadora sociedade goiana não viu a cena com bons olhos. Cici foi execrada. “Eu me lembro que quando aconteceu no palco, o beijo, a platéia parece que subiu e eu ouvi aquele oh,oh,oh,oh...e aí começou o tititi”, contou Cici no livro de Zorzetti. “No outro dia eu não tive mais acesso a nenhum lar em Goiânia . Fui tachada de prostituta. Eu não tinha mais ambiente. Num dia eu era atriz no outro era rapariga, puta na boca do povo. Eu nunca liguei pra isso, nunca dei bola mesmo, mas eu achava chato. Então voltei pra São Paulo”revelou. Apesar do esforço para não levar as fofocas em conta, observa Hugo Zorzetti no seu Memória do Teatro Goiano, “Cici nunca conseguiu tirar dos olhos os desenhos da mágoa que trazia na alma”.

No começo dos anos 1960, a convite da Rádio Clube de Goiânia para assumir a direção artística da emissora Cici Pinheiro voltou para Goiânia. Ficou uns tempos na função, depois foi ser funcionária da Osego (Organização de Saúde do Estado de Goiás) até retornar à TV dirigindo a primeira telenovela goiana, A Família Brodie. Produzida ao vivo em 1965, a novela baseava-se no livro O Castelo do Homem Sem Alma, de J. Gronin. Atores que depois seguiriam carreira televisiva como Osvaldo Mesquita, intérprete de Mister Brodie, o piadista e humorista Phaulo Gonçalves, Magda Santos, ex-diretora artística da TV Anhanguera e apresentadora do programa O Mundo É das Crianças foram revelados como atores na telenovela de Cici.

Problemas com a ditatura militar
Como diretora e produtora da novela, Cici Pinheiro não ficaria livre da polêmica. Também por causa de um beijo na telenovela foi chamada ao DOPS – Departamento de Ordem Política e Social, órgão criado pela ditadura militar, para explicar ao delegado o que significava aquele beijo ao vivo na TV. “Reconheço que beijo nunca me deu sorte”, brincou Cici na entrevista ao POPULAR, concedida numa tarde de junho de 1999 em sua casa no Setor Criméia Leste, onde vivia rodeada de cães e dos cinco sobrinhos criados como filhos. “Hoje, censuro televisão, porque a gente vê cada coisa...Tudo isso me faz pensar como as pessoas foram injustas comigo”, lamentou.

Ela não se deixou abalar e continuou o seu trabalho revelando nos palcos, como diretora, nomes que hoje brilham ou já brilharam no cenário artístico nacional: Thelma Reston, João Bennio e Stepan Nercessian. Convidada por Rosarita Fleury, ela assumiu a cadeira número 12 da Academia Feminina de Letras e Artes de Goiás (Aflag). Com seu grupo inaugurou o Teatro de Arena da Universidade Católica de Goiás e a convite do Sesi fundou o Teatro do Operário. Criou um personagem chamado Goianinho, com o qual falava dos mais variados assuntos. Com ele à tiracolo percorreu dezenas de escolas e palcos.

Cici Pinheiro despediu-se do teatro com Gimba, o Presidente dos Valentões, em 1989, levada ao palco do Teatro Goiânia. Ao morrer em 2002, não ia mais ao teatro. Preferia dedicar seu tempo livre às palavras cruzadas e aos jogos de cartas com os amigos e familiares. Garantia não guardar mágoa no coração. “Não dou confiança para elas (mágoas). Minha luta no teatro foi tão desigual... Fui perseguida, fui massacrada, mas saí inteira”.

sexta-feira, 19 de junho de 2009

COMENTÁRIO DE PEÇAS - 2009


Preciso Olhar – Cia. de Teatro Nu Escuro

A Cia. Nu Escuro esperou dois anos a oportunidade de trabalhar com o coreógrafo Henrique Rodovalho, diretor da Quasar Cia. de Dança. A chance chegou com o espetáculo Preciso Olhar, uma ousada proposta de discussão da identidade do ser a partir da costura de textos de André Breton, Katthyn Woodward, Tennessee Williams, dos atores Hélio Fróes, Adriana Brito, Lázaro Tuim e do próprio Henrique. Infelizmente, a proposta derrapou na monotonia e não convenceu a platéia que foi assistir a estréia no Teatro Goiânia.

O espetáculo ficou no pessoal e até parecia que os atores falavam de si para uma roda de amigos que privam de sua intimidade. A mesma situação ocorre com as imagens captadas para o vídeo inserido na montagem, um recurso muito usado pelo diretor em suas coreografias.

Plasticamente o espetáculo é bom. Cenário, figurino, iluminação e trilha sonora funcionam bem e atendem as exigências da direção. Competente em tudo o que faz, desta vez Henrique Rodovalho não conseguiu extrair interpretações convincentes e dar consistência à produção, bancada com recursos da Lei Municipal de Incentivo à Cultura. Há momentos constrangedoramente ruins.

Em 13 anos de carreira, a Cia. Nu Escuro tem bons espetáculos no currículo como 3X3, Carro Caído, O Cabra Que Matou as Cabras, O Alienista e Envelope, e coleção de prêmios. Infelizmente, Preciso Olhar não conseguiu me empolgar em momento algum.

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Essa Comédia É Um Show – Nilton Pinto e Tom Carvalho

Nilton Pinto e Tom Carvalho, a dupla humorística mais bem sucedida de Goiás, estreou Essa Comédia É Um Show, primeira produção de 2009, em grande estilo no Teatro Rio Vermelho, a maior e mais cara casa de espetáculos de Goiânia. Em dois fins de semana, milhares de pessoas lotaram o teatro de 2007 lugares.

Essa Comédia É Um Show é uma produção simples como todas as que a dupla fez em seus 14 anos de carreira. O texto gira em torno de dois presos que sonham seguir uma profissão decente quando deixarem a cadeia. Eles planejam ser tudo na vida: cantor sertanejo, padre, pastor, pai-de-santo, político, delegado, professor e de cada personagem extraem o máximo de hilaridade. Como a cobrança é grande por parte do público, eles sempre dão um jeito de inserir os contadores de causos e os cumpades caipiras nos seus espetáculos. Com este não é diferente.

A troca de figurino ajuda a dar vida aos personagens. Nilton e Tom cantam, dançam, investem na caricatura e a plateia vem abaixo de tanto rir. A dupla também cuida de tudo, da produção à direção, do texto ao figurino. O compromisso principal é o riso puro por isso o investimento nos tipos caricatos e as cenas extraídas do cotidiano.
Como a fórmula deu certo, Nilton e Tom continuam a investir nesse tipo de produção. E se o público gosta, por que mudar?

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História de Goiás no Picadeiro – Circo Laheto

Com capacidade para 800 pessoas, o Circo Laheto recebeu plateia recorde na estréia do espetáculo História de Goiás no Picadeiro. Malabaristas, trapezistas, palhaços, contorcionistas, perna-de-pau deram um verdadeiro show ao narrar com muita alegre a história de Goiás para crianças e adultos sem perder o foco na realidade dos fatos. De forma envolvente

O roteiro do pesquisador Edson Quaresma, da ONG Cultura, Cidade e Arte, contempla aspectos importantes da história de Goiás. A narrativa tem início com os efeitos especiais que simulam a explosão do universo e o surgimento dos continentes. Em seguida, o cenário é ocupado pelos índios em pernas-de-pau lutando em defesa do seu território ameaçado pelo colonizador. Eles lutam pelo direito de continuar vivendo em paz e liberdade na terra que lhe pertence.

A enorme figura do bandeirante Anhanguera chama a atenção. Com muita habilidade, ele se equilibra em enormes pernas-de-pau circulando com muita habilidade carregando a bateia do garimpo, mostrando altivez e superioridade. Ele ameaça atear fogo nos rios se os índios não contarem onde encontrar ouro, sua maior cobiça.

O diretor Maneco Maracá aliou elementos de teatro, circo e música para resgatar a história do Estado, narrando os fatos com muita originalidade. A proposta tem conquistado enormes plateias em todas as cidades por onde passou .

Contemplado na seleção de projetos do edital Petrobras Cultural 2007, ele aproveitou bem os recursos destinados ao seu projeto cercando-se de bons profissionais, como a coordenadora pedagógica Seluta Rodrigues, a Cia. Nu Escuro (Hélio Fróes, Izabela Nascente, Lázaro Tuim, Adriana Brito, Rosangela Cerqueira), a produtora Márcia Pelá, o compositor Beirão, os músicos Emídio Queiroz e Sérgio Pato, a figurinista Rita Alves e muitos outros. O elenco, formado por jovens com idades entre 10 e 17 anos, merece admiração. São jovens talentos que Maneco vai formando e mostrando novos caminhos. Com certeza, serão os profissionais das artes no futuro.
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Theatro Musycal Profano - Cia. Teatral Martim Cererê

O diretor Marcos Fayad levou 10 anos pesquisando as raízes da música brasileira no Brasil, Portugal e Espanha. Do fundo do baú ele pinçou partituras e documentos históricos dos séculos 18 e 19 que serviram de base para o roteiro do seu Theatro Muzical Profano, que estreou em maio no Teatro Goiânia.Como fizera em Puro Brasileiro e Abrazos, Fayad resgatou lundus emodinhas, que deram origem à MPB na bem humorada interpretação deNewton Murce, Júlio Van, Neto Mahnic, Débora di Sá e Bel Roriz.

O violonista Ney Couteiro, o acordeonista, o tecladista William Cândidoe o percussionista Sérgio Pato acompanham o grupo de atores que dança e canta com muita desenvoltura. A maestrina Joana Azevedo preparou os vocais e o resultado foi um show de irreverência e performances convincentes, como se voltássemos no tempo, quando negros e a gente simples do povo se misturavam nos salões para dançar, causando indignação na burguesia.

Maquiagem e figurinos inspirados no século 18, desenhados por Bárbara Sofia e o ator Júlio Van remetem à época dos saraus.Há modinhas ingênuas que falam de amor e luares deslumbrantes. Mas, a maior parte das canções satiriza os costumes da sociedade em letras de duplo sentido e muita malícia. Nada mais natural que surgissem as danças sensuais.
Em Theatro Profano, o que conta mesmo é a música. Ela é a mola mestra do espetáculo costurado com textos de Mário de Andrade e Mozart Araújo. Marcos Fayad acertou mais uma vez. De cada ator extrair interpretações marcantes e uma sintonia contagiante do grupo musical.

A produção proporciona uma viagem ao tempo, à sonoridade musical de uma época marcada pelo romantismo. Alegre e descontraído, o espetáculo é uma ótima oportunidade para quem quer conhecer a raiz da nossa música.

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Branca de Neve e os Sete Anões – Luiz Roberto Pinheiro

Na última semana de março, a Pinheiro Produções Artísticas, do diretor Luiz Roberto Pinheiro estreou em Salvador o seu primeiro espetáculo de 2009. Exibido no Teatro Goiânia em abril, o clássico da literatura infantil Branca de Neve e os Sete Anões, dos Irmãos Grimm, deve estender a temporada até julho. No segundo semestre, o grupo vai se dedicar a uma nova montagem que o diretor já prepara. Mal encerra uma produção, Luiz Roberto já planeja a seguinte. O espetáculo não pode parar.

Se muitas vezes derrapa na adaptação dos textos (quase sempre clássicos da literatura mundial e filmes com personagens de Walt Disney) e na falta de originalidade, Luiz Roberto não economiza na recriação de cenários, adereços e figurinos deslumbrantes. Os efeitos visuais emocionantes são fatores que nunca faltam para a atrair a garotada. A preferência pelos contos de fadas com suas princesas boazinhas, e fadas madrinhas que salvam a heroína das garras da feiticeira má no último minuto da encenação são uma constante nos 25 anos de carreira do diretor goiano, de longe o mais bem-sucedido no segmento infantil.

Em Branca de Neve e Os Sete Anões, Luiz Roberto foi além da imaginação. Reuniu em torno da bela Branca de Neve sete anões de verdade. Mestre, Soneca, Atchim, Feliz, Dengoso, Dunga e Zangado foram selecionados a dedo. Vestidos no figurino de Ana Maria Mendonça e caracterizados por Franco Pimentel, os anõezinhos roubaram a cena do espetáculo, desbancando a Branca de Neve de Karla Braga.

Vestidos com o figurino de seus personagens, criados por Ana Maria Mendonça, e a caracterização feita por Franco Pimentel, eles se tornaram ainda mais parecidos com as criaturrinhas imaginadas pelos irmãos Grimm, autores da fábula da princesa órfã Branca de Neve (Karla Braga) perseguida pela madrasta má (Naiara Marques).

Os “pequenos” atores chamaram a atenção para si desde o primeiro encontro com Branca de Neve. Com idades variando entre 12 e 63 anos, os anões da peça têm pouca ou nenhuma experiência de palco. Mas, acabaram se transformando na principal atração do espetáculo que passou por São Paulo, Brasília e Tocantins. À vontade no palco, o extrovertido Rafael Campos, 12 anos, ganhou destaque como o Soneca. Ao lado da mãe Elza Campos (Atchim), 41 anos, ele demonstrou desenvoltura e afinidade com o personagem, que já conhecia. Afinal qual criança não leu o livro Branca de Neve?

Ator de circo e DJ, o paraense João Batista de Oliveira (Soneca), 63 anos, o mais velho do grupo deu importante contribuição à peça de Luiz Roberto, que abre oportunidade para atores muitas vezes vítimas de preconceito e exclusão. Parte do sucesso da peça pode ser atribuído ao grupo, que luta para sobreviver em outras atividades.

sábado, 13 de junho de 2009

6ª Galhofada - Pequena Mostra de Teatro de Rua


Realizada na Av. Henrique Silva, no Setor Pedro Ludovico, a 6ª Galhofada Pequena Mostra de Teatro de Rua reuniu na última semana de maio milhares de pessoas do bairro e adjacências debaixo de uma lona de circo cedida pelo Circo Laheto. Os artistas usaram um palco de madeira emprestado pelo Pontão da Cultura. Antes as apresentações ocorriam na rua sem proteção.

A Galhofada é uma ótima oportunidade para os artistas mostrarem seus espetáculos de teatro, dança, música e circo. Sem contar com patrocínio nem apoio, todos se unem há seis anos nesta grande celebração cultural na rua, conquistando plateias e os moradores das redondezas. A repercussão e a receptividade não poderia ser maior.

Muito mais do que uma brincadeira sem compromisso, a Galhofada se traduz em solidariedade artística e na união de todos em torno de um só objetivo: o fazer artístico com qualidade e desprendimento, aliada à alegria e a diversão.

Um dos momentos mais bonitos da Galhofada pude constatar no domingo à noite durante os intervalos. Mudança de cenário, troca de figurino, iluminação, sonorização sendo feita pelos próprios artistas e produtores.

Além da atuação, a produção é dividida entre todos. Boa vontade, troca de energia e desprendimento são o verdadeiro espírito da Galhofada. Para usar uma expressão do mentor do evento, Marcos Lotufo, da Oficina Cultural Geppetto, a Galhofada nada mais é do a combustão espontânea. Ninguém está ali para ganhar nada, a não ser o aplauso e a adesão do público. Não é por acaso que a cada ano a plateia aumenta.

Vassoura na mão, rodo na outra, o produtor Marcelo Carneiro se desdobrava para limpar o palco logo após a apresentação domingo à noite da Cia. de Teatro Nu Escuro com a peça O Cabra Que Matou as Cabras. Nos bastidores, Marci Dornelas, Ana Paula Mota, Fernanda Fernandes, Marcos Lotufo, Luciana Caetano e os atores não mediam esforços para deixar tudo em perfeita ordem para a eclética programação.

Não é fácil concorrer com a televisão, a pecuária, os barzinhos e outros atrativos numa noite de domingo. A 6ª Galhofada conseguiu tirar de casa crianças, jovens e adultos e levá-los para seus espetáculos. Gratificados, todos já esperam pela edição 2010.

quarta-feira, 10 de junho de 2009

PRIMEIRAS EXPERIÊNCIAS NA CRÍTICA

As primeiras experiências como crítica de teatro não foram fáceis, sobretudo porque a produção local nos anos 1980/1990 era muito incipiente. Alguns nomes se destacavam como o Grupo Exercício, do diretor Hugo Zorzetti, que atuava mais no campo da comédia. Êta Goiás, um de seus trabalhos de maior repercussão, foi exibido em longa temporada nos teatros da cidade. A maioria não tinha expressão alguma. No âmbito geral imperava a pobreza nas produções, às vezes equivocadas e lastimáveis.

Pude constatar as dificuldades do teatro em Goiás no 1º Festival de Teatro da Federação de Teatro de Goiás (Feteg), em 1995. O evento reunia grupos de Goiânia e do interior. Havia participação significativa de atores e diretores, e os prêmios simbólicos representavam muito eles. Pela franqueza tive alguns problemas com o pessoal. Mas, depois conquistei respeito no meio.

Nada disso impediu que grupos como o Bandeirante, de Eurípedes de Oliveira, Arte & Fogo, de Delgado Filho, Casa do Teatro, de Luzia Divina Mello e Almir de Amorim, Carlos Moreira e Anthropos, de Constantino Isidoro, todos remanescentes daquela época, seguissem em frente, firmando-se no mercado como profissionais. Alguns, infelizmente, se perderam no caminho, como o Pau-a-Pique, de Marlos Pedrosa.

Todos os grupos passaram pelos festivais da Feteg, que chegou a ter 13 edições. A Cia. Nu Escuro, formado por jovens estudantes da antiga Escola Técnica Federal de Goiás, é um exemplo. Dirigido por Sandro di Lima e Reginaldo Saddi, o grupo ganhou prêmios com seus espetáculos.

Criado dentro da Universidade Católica de Goiás, o Grupo Guará, sob o comando de Samuel Baldani, também integrou a grade de programação dos festivais da Feteg com produções bem cuidadas da dramaturgia brasileira como O Auto da Compadecida, de Ariano Suassuna. No mesmo período, Danilo Alencar arrebatava premiações com o seu Grupo Arte & Fatos. Espetáculos baseados em fatos históricos se tornaram sua especialidade . É atualmente um dos mais atuantes em Goiás e colecionador de premiações em diversos festivais.