sexta-feira, 16 de dezembro de 2016



  GRUPO DE THEATRO ARTE & FOGO

Antonio Delgado Filho

                  
                              ARTE QUE VALE A PENA


O nome do Grupo de Theatro Arte & Fogo, do diretor Delgado Filho, surgiu logo após o incêndio que quase destruiu as instalações do Teatro Inacabado, na Av. Anhanguera, nos anos 1990. Apesar da precariedade e do estado lastimável, o lendário prédio, construído pelo teatrólogo Otavinho Arantes, servia de local para ensaios e apresentações de grupos teatrais. Um belo dia, sem tetos que viviam nas imediações puseram fogo nas instalações, deixando a classe teatral desolada. O estrago foi grande.  Umas pessoas dizem que foi acidente. Outros garantem que o fogo foi proposital.  

O fogo queimou o que restava do teatro e destruiu muitos sonhos. Mas, não tirou a esperança. Dele surgiu a iniciativa de batizar o grupo Arte & Fogo. Delgado Filho e os atores Carlos Pereira, Júlio Rodrigues, Juce Bessa, Sérgio Kitinis e outros tinham o Teatro Inacabado como ponto de apoio por isso a homenagem que faz relembrar o fato.  A peça Voo da Liberdade estreou depois do incêndio, e ficou algum tempo em cartaz.  Sintomaticamente, o espetáculo mostrava um grupo de hippies que invadia o teatro para encenar uma peça, que falava sobre os conflitos familiares, e ao mesmo tempo de liberdade. 

Uma das primeiras iniciativas do Arte & Fogo foi iniciar uma campanha de prevenção a incêndios, com o apoio das Secretarias da Saúde, Educação e Assistência Social, chamando atenção das pessoas, não só para o perigo do fogo, mas também de doenças. Com os espetáculos didáticos, o grupo ocupou diversos teatros de arena que ainda existiam na cidade. Segundo Delgado, à época eram 12 palcos de arena em boas condições de uso em diferentes locais.
    
Comemorando 23 anos de atuação ininterrupta, o Grupo Arte & Fogo ganhou reforço com a entrada em cena de Sêmio Carlos, em 1997. O ator estreou A Vida É Sonho, de Calderón La Barca, e acabou ficando.  Inicialmente atuando como iluminador, Delgado Filho experimentou a direção trabalhando ao lado dos atores Wertemberg Nunes, Ademir Faleiros, Altino Barros, Júlio Rodrigues e muitos outros atores que ajudaram a escrever a história do teatro em Goiás.  Dirigiu dezenas de peças de Barale Neto, autor profícuo  que enriqueceu o repertório do grupo com textos sobre ecologia, fauna e meio ambiente.
   
Delgado Filho tem atuação marcante na cena cultural, contribuindo de forma incontestável para o engrandecimento do teatro em Goiás. Conhece como poucos os meandros da atividade teatral, acompanhando de perto o trabalho de atores, diretores e trupes de Goiânia. Como presidente da Federação de Teatro de Goiás (Feteg)  comandou os Festivais de Teatro da Feteg, nos anos 1980/1990, abriu  portas para o intercâmbio entre artistas e sua diversidade de criações. Até 2001, a entidade apostou no festival para reunir todos os seus afiliados em Goiânia.  

O teatro didático contribuiu muito para a consolidação do Arte & Fogo. Dirigindo peças com temas específicos, sob encomenda, o grupo adquiriu experiência falando sobre qualidade de vida, higiene bucal, doenças, vacinação, drogas, mulheres, uso de camisinha, ecologia e outros. As encenações eram realizadas em lugares diversos e até no interior. “Sobrevivemos bem fazendo teatro para o governo e empresas, passando o chapéu ao final de cada espetáculo e da bilheteria”, revela Delgado.

 A partir do ano 2000, o grupo passou a fazer captação de recursos via Leis de Incentivos à Cultura. Tem patrocinadores fieis que acreditam no seu trabalho. “Nossa preocupação é fazer sempre o melhor. Os recursos das leis facilitam muito a nossa atuação”, afirma o diretor.

Meio ambiente
Ecologia é um tema caro ao Arte & Fogo. A parceria com o dramaturgo Barale Neto rendeu prêmios em festivais. Dezenas de sessões foram feitas dos espetáculos com A Arara Encantada, Cenas  Pitorescas Numa Cidade Inventada, Boi, Será Que é? O Contador de Histórias do Cerrado, O Dia da Caça, todas de Barale Neto. Do dramaturgo também são Txuu-Looso – Raio de Sol, sobre a lenda dos índios Karajá,  o mais recente trabalho do grupo, que utiliza bonecos, manipulados por Sêmio Carlos, como personagens. Selecionado para o festival SESI Bonecos 2016, o grupo apresentou-se em Goiânia e Belo Horizonte. Delgado Filho dirigiu textos de goianos como Augusta Faro e Miguel Jorge, de quem encenou Alice no País de Cora Coralina e Laurita, respectivamente.


DELGADO FILHO
Ator, diretor, iluminador e carnavalesco, Antonio Delgado Filho nasceu em Presidente Prudente (SP). Mudou-se com a família para Goiânia ainda menino. Aqui iniciou a carreira como integrante do Grupo de Teatro do Sesc. Em 1976, estreou no palco na peça Fora os Preconceitos.  Trabalhou como iluminador, conquistando prêmios em festivais de Goiânia, Anápolis, Quirinópolis, Campo Grande e Mineiros. Em 1997, atuou na peça Casaco Encantado, de Lúcia Bernadett, sob a direção de Nilton Rodrigues do Grupo Opinião.

Em 1994, fundou o Grupo de Theatro Arte & Fogo.  Como carnavalesco premiado, fundou e preside a Escola de Samba Lua-Alá, tricampeã do Grupo Especial dos Desfiles das Escolas de Samba de Goiânia nos anos de 1998 a 2016.  




CONVERSA VAI, CONVERSA VEM ...

Como funciona o sistema de cooperativa do grupo?
Trabalhamos em termos de cooperativa. As pessoas contribuem com o seu trabalho. A divisão é feita em partes iguais. Fazemos muitos trabalhos só com a bilheteria. Outros usamos as leis de incentivo. Estamos sempre produzindo dessa forma. Os integrantes do grupo vivem de teatro. Como trabalhamos em sistema de cooperativa, o dinheiro que entra é dividido em partes iguais. A divisão é feita depois de pagar as despesas. 

As temporadas do grupo são longas?
 Um espetáculo tem de ter vida. Não adianta fazer um espetáculo com recursos da lei e poucas apresentações. É preciso que a peça tenha um mínimo de vida para ficar ainda melhor. A produção fica cada vez melhor a cada nova apresentação. Tem espetáculo nosso que está há 10 anos em cartaz. Isso já faz parte da história do grupo. 

Fazer teatro custa caro. Dá para viver só da bilheteria de uma peça?
Temos projetos que fazemos captação através das leis de incentivo. Outros,temos  patrocínios diretos de empresas. A gente vende espetáculos para escolas, empresas. Não fazemos teatro escola porque achamos complicado, dá muito trabalho. Nossos infantis são diferenciados, leva a criança a pensar. Pensamos no espetáculo não só para palco italiano, mas diferentes lugares. O teatro tem uma despesa grande. É caro pagar o aluguel de um espaço. É por isso que sobrevivemos até hoje.

Ultimamente o grupo tem trabalhado mais com as formas animadas.
A maior parte é boneco de vara, manipulação direta, cabeções.  Já utilizávamos esse sistema, usando atores também. Agora é mais boneco, como fizemos em Txuu Looso - Raio de Sol e O Dia da Caça. Ele continua em cartaz.  
Temas ecológicos conquistam mais público?

O grupo sempre teve preocupação com o meio ambiente, preservação da natureza, lendas indígenas. Queremos mostrar que nossos índios são diferentes dos americanos. É importante destacar para as crianças os animais do cerrado, o seu habitat natural. A aceitação é muito grande. Os professores procuram muito esse tipo de espetáculo. A repercussão é muito boa. Estamos numa fase boa do nosso trabalho. Tem valido a pena a nossa luta.    

BARALE NETO
      
                 ARTISTA DE MÚLTIPLOS TALENTOS

Barale Neto


Inquieto, criativo, Barale Neto envolvia-se em diferentes projetos. Era um criador nato.  Ia do teatro ao cinema, da literatura à sala de aula com o mesmo entusiasmo.  Sua história confunde-se com a do Grupo Arte & Fogo, pois foi ele quem mais contribuiu para a consolidação do coletivo criado por Delgado Filho. Diversos textos de sua autoria foram produzidos pelo grupo.

Meio ambiente, preservação da natureza e fauna do cerrado eram temas recorrentes de sua ampla produção para o teatro, o cinema e a literatura.  Entre suas peças de maior destaque estão A Arara Encantada, O Contador de Estórias, Os Caçadores da Pedra Perdida e Quintanando.  Com a peça Os Caçadores da Pedra Perdida, o Grupo Arte & Fogo conquistou 14 prêmios em festivais de teatro de Goiânia e Anápolis, em 1999.  

 Autor, ator, diretor, professor e roteirista, Barale Neto desenvolveu a maior parte de sua carreira em Brasília, onde criou o projeto Estórias do Cerrado. Em parceria com a Universidade de Brasília, fez o primeiro vídeo de ficção para crianças do Distrito Federal, A Arara Encantada, em 1989. Mudou-se para Goiânia em 1994. Dirigiu o grupo de teatro da Universidade Federal de Goiás, tornando em pouco tempo um dos autores mais encenados da capital.
 
Além do teatro, o cinema era uma de suas grandes paixões. A partir de 2000, escreveu roteiros para o projeto Estórias do Cerrado, que foi retomado com a realização de Anhangá, filme que concorreu ao 2º Festival Internacional de Cinema e Vídeo Ambiental (Fica), sob a direção de Kim-Ir-Sen. Em 2001, filmou O Grito das Águas, com o qual participou da mostra da ABD/GO, no 3º Fica e da primeira edição do festival Goiânia Mostra Curtas. Em 2002, concorreu nos dois festivais goianos com Sobre Que Pedras Piso? 

O artista morreu em Goiânia aos 57 anos, no dia 2 de agosto de 2007, deixando uma obra vasta, que inclui peças, livros, filmes.  Segundo Delgado Filho, muitos de seus projetos continuam inéditos.     
 


GRUPO DE THEATRO ARTE E FOGO 1994/2015

Peças

- 1994

- Dona Qualidade, Ademir Faleiros
- Hora da Verdade, Altino Barros e Delgado Filho
- Poemas da Qualidade, Fausto Jaime
- Lampião e a Segurança, Altino Barros, Delgado Filho e Júlio Rodrigues
- As Viagens da Liberdade, Delgado Filho, Carlos Lucena e Júlio Rodrigues
- Catulé / Adaptação de Teatro Mambembe


1995

- Vamos Fazer Uma Grevinha, Adaptação de Augusto Boal
- Pega o Mosquito,  Delgado Filho e Jusse Lessa
- Uma Vida...Um Sonho...,  Delgado Filho, Ricardo Pereira e Cláudio Elias
- Desculpe-me Por Ser Mulher,  Delgado Filho
- Nas Ondas das Drogas, Júlio Rodrigues, Delgado Filho e Carlos Lucena
- “A onde” está a Camisinha, Delgado Filho e Júlio Rodrigues

1996/ 2009

- Alegre Coração,  Delgado Filho e Fernando Oliveira
 - Ser Mulher, Barale Neto e Delgado Filho
- Os Caçadores da Pedra Perdida,  Barale Neto
- Pouco Vento e Muita Linha,  Luciano Caldas
- A Casa da Emilia, Simone Soares, Barale Neto e Semio Carlos
- Arara Encantada,  Barale Neto
 - Foi Assim... Drogas..., Luciano Caldas e Delgado Filho
- Que Burrice,  Delgado Filho
- Voo do Amor, Delgado Filho
- Os Sete Pecados Capitais Contra a Mulher, Delgado Filho
-  Zuza da Rua, Ivanor Florêncio
- Me arrumem um pai...,  Ivanor Florêncio
- Angústia,  Sônia Aparecida
- Vago cor  vermelho, Sônia Aparecida
-  Happy Hour de Poesias, Sônia Aparecida
-  Dez crimes na ação e pré-conceito,  Ivanor Florêncio
-  Aniversário da Arara Encantada,  Barale Neto
-  Desabafo de um farrapo humano, Ivanor Florêncio
-  A cova da morte que nasce a vida,  Ivanor Florêncio
- Laurita,  Miguel Jorge, c/ Semio Carlos
- Teatro,Teatro e Teatro ou Teatro, Barale Neto
- Cenas Pitorescas Numa Cidade Inventada, Barale Neto
- Beijo-Beijo Sonhado, Luiz de Aquino
- Boi Será que é ?,  Barale Neto
- O Contador de Histórias do Cerrado, Barale Neto
-  Alice no País de Cora Coralina, Augusta Faro
-  Txuu - Looso - Raio de Sol,  Barale Neto
- Poética Bancária, Léo Pereira

Premiações

- Uma Vida... Um Sonho...
Melhor Iluminação: FETEG / 1996
- Catulé
Melhor Maquilagem: Festival Regional de São Luiz dos Montes Belos
Melhor Espetáculo Opinião Publica:Festival Regional da Cidade Goiás
- Os Caçadores da Pedra Perdida
Melhor Espetáculo e Opinião Pública, Cenário: FETEG / 1998
Melhor Cenário e Iluminação: VIII Festival Nacional de Teatro
- Arara Encantada
Melhor Direção,Iluminação,Figurino e Cenário:IX Festival FETEG.2001
Melhor Iluminação e Cenário: I Festival Regional de Quirinópolis
- Voo do Amor
Melhor Direção, Cenário, Iluminação e Figurino: I Festival Regional de Quirinópolis.- 2001
- Fraguimentos de Pio Vargas
Melhor Direção e Adereços: I Festival de Poesia Encenada “Pio Vargas”.
- VI Festival de Poesia Encenada da Feteg.2004
Prêmio Especial do Júri, Melhor Concepção Cênica e 3º lugar Melhor Poesia
Encenada.  Peça: A Cova da Morte que Nasce a Vida, Ivanor Florêncio
X Festival Nacional de Monólogos 2006 em Camaçarí – Bahia
Laurita conquistou seis dos sete prêmios (Melhor Direção e Cenário)

    
                       

segunda-feira, 5 de dezembro de 2016

ESTREIA




                                              ÍCONES DA VINGANÇA

Guido Campos Correa

Para produzir seu novo espetáculo SertãoHamlet, o ator Guido Campos Correa decidiu fazer uma residência artística no interior do Ceará. Queria fazer um contraponto entre o cangaceiro Lampião, filho do sertão nordestino, e Hamlet, o príncipe da Dinamarca, personagem criado pelo inglês William Sheskeapeare.  

Não foi tarefa fácil focalizar duas personagens tão díspares e complexas. Lampião liderou um bando de ladrões e assassinos nos anos 1930. Hamlet pertencia à nobreza da Dinamarca, um país nórdico, que nada tem a ver com a aridez do sertão. Ambos têm em comum a trágica morte do pai e o desejo de vingança.  O tio de Hamlet, Cláudio, matou seu pai, para ocupar o trono e desposar a viúva Gertrudes. Por causa de uma briga de terras no sertão de Pernambuco, o pai de Virgulino Ferreira, o Lampião, acabou assassinado. Revoltado, o filho jurou vingança e virou bandido. 

Lampião era um homem mal, vingativo, assim como Cláudio, o tio de Hamlet. Tornou-se mito na voz dos cantadores de repente e poetas de cordel. O cinema contribuiu para torná-lo um mito. Obra-prima de Shakespeare, Hamlet é uma das peças mais famosas do bardo inglês, encenada no teatro incontáveis vezes, filmada por atores consagrados. Guido Campos Correa encontrou pontos em comum entre Lampião e Hamlet.  Focou na vingança  para escrever a dramaturgia de SertãoHamlet, levada ao palco pela Sertão Teatro Infinito Cia. 

Antes de entrar em cena, o ator recebe a plateia. Quando todos se acomodam nas cadeiras, fala sobre seu trabalho , a imersão nos dois universos para compor a história, que encerra a trilogia iniciada com A Terceira Margem do Rio, adaptação do texto de Guimarães Rosa, nos anos 1990, e em seguida  Boi,  peça baseada na obra do goiano Miguel Jorge. As duas peças deram ao artista a oportunidade de viajar por todo o País e exterior, conquistar prêmios em festivais. Vinte três anos se passaram entre a estreia de A Terceira Margem do Rio e Sertão Hamlet.  
      
Nos quatro meses que viveu no sertão Cariri (Crato, Juazeiro do Norte, Nova Olinda), o ator mergulhou fundo na cultura local, rica em religiosidade e folclore,  pinçando temas da terra para compor os personagens. Hábitos, costumes, valores, crenças populares ainda muito em voga principalmente entre a população mais pobre.  Fortemente influenciada pela figura mítica do Padre Cícero, a religiosidade é um dos pontos fortes da região. Guido explora muito bem o tema inserindo logo no início uma bela cantoria de procissão. Um pequeno altar no meio do palco e  um foco de luz ressalta a imagem de Padre Cícero, santo cultuado pelo povo nordestino. As rezas e os cânticos à Nossa Senhora da Imaculada Conceição  ajudam a plateia a entrar no clima do sertão. 

Ator de muitos recursos, Guido vai aos poucos assumindo as personagens que pinçou do dia a dia do Cariri.  Transita com empenho entre as figuras simplórias de Juvêncio,  Edilania, Edmilson e a beata Luíza.  Homens e mulheres fortes, rústicas, corajosos vão sendo delineadas pelo ator/autor.  Recitador de cordel, ator de circo do interior,  Juvênio é o primeiro amor de Edilania, jovem sonhadora e ingênua. Juvênio prefere o circo a ficar com ela. Sozinha, se engraça por Edmilson, confia em suas nas boas intenções. Acaba mal.   Edilania é estuprada e denuncia o mal feitor.  Edilania sofre preconceito da família, dos amigos, acabando na prostituição, fim de tantas mulheres do sertão. Um dos pontos altos da encenação, o ator vive todo drama da cena. 

Guido Campos Correa absorveu bem a humanidade dos seus personagens, os conflitos interiores, o cotidiano de uma terra de costumes arraigados. Apegada à religião, a anciã Luíza, velha beata de 94 anos, dá ao ator a oportunidade de mostrar sua potencialidade cênica. Incorpora seus trejeitos, sua fala tremida, o olhar perdido. Vestida como uma santa, Luíza expõe com sabedoria sua longa experiência de vida, alegrias e sofrimentos de uma vida solitária. 

A eloquência do texto de Shakespeare fica para a reta final da peça, quando o ator assume o papel de Hamlet. Traz para a cena não só a tragédia de vida do príncipe dinamarquês, mas a situação do Brasil de hoje com suas tantas diferenças, contradições, corrupção política, falta de ética.  A dor de Hamlet é a dor de todos. 

SertãoHamlet não é o melhor espetáculo de Guido Campos Correa. Com 37 anos de carreira, o ator  é adepto dos monólogos, das longas temporadas. Viveu  grandes momentos em A Terceira Margem do Rio, sob a direção de Henrique Rodovalho, e Boi, dirigido por Hugo Rodas. Foram dois momentos marcantes da sua carreira de 37 anos.  Dessa vez preferiu se escrever, dirigir e atuar, o que não deixa de interessante, pois tem a chance de explorar outros potenciais. Na primeira experiência, cometeu alguns excessos que um bom diretor poderia suprimir sem comprometer o resultado final. 

Com recursos da Lei Municipal de Cultura, Guido Campos Correa cercou-se de bons profissionais para compor a ficha técnica de SertãoHamet. Cuidou ele próprio do figurino, confeccionado pelas costureiras do sertão, adquiriu os adereços (gibão de couro, chapéus, sapatos, alpercatas) de mestre Expedito Seleiro, famoso pelas suas criações que lembram os tempos do cangaço, o rosário e o reisado de mestre Aldenir.  Guido tomou emprestado das senhorinhas rezadeiras orações devocionais e canções. Visualmente o efeito é encantador.  
   
 Marci Dornelas assina a produção, Roosevelt Saavedra, a técnica de luz e João Melo, técnico de som.  A trilha sonora vai de Diana, Luiz Gonzaga, passa a David Bowie e Rollings Stones.  
                

Fotos: Layza Vasconcelos

Texto originalmente publicado no site www.ermira.com.br