ANÁLISE
PRODUÇÃO CULTURAL
ESCASSA E CURTA TEMPORADA
Sobre Isto, Meu Corpo Não Cansa - Quasar Cia. de Dança |
Com
crise ou sem crise, Goiânia já viveu dias melhores na produção cultural. Até
bem pouco tempo, a cidade vivia uma efervescência criativa e produtiva apesar
de todas as dificuldades financeiras, que sempre foram um entrave para a
cultura de modo geral. Costuma-se dizer que quando o governo vai mal, como
agora, a cultura é a primeira a ser atingida, como se não fosse ela importante
para o povo.
A
redução dos investimentos, adiamentos constantes, cancelamentos e o atraso nos
repasses dos Fundos de Cultura e das Leis de Incentivo são alguns dos motivos
apontados para a redução da produção cultural. Apesar disso, a maioria dos grupos
de teatro mantém o entusiasmo, driblando as dificuldades como pode. Fazem
investimentos do próprio bolso, buscam financiamento em empresas em troca de
divulgação. Até a bilheteria entra como patrocinadora dos espetáculos. Infelizmente,
o número de estreias está cada vez menor. São insuficientes para ocupar os
espaços culturais da cidade com regularidade.
Quando uma peça estreia
dificilmente ficará mais do que três dias em cartaz. Outras fazem apresentação
única a fim de cumprir a exigência da lei, e ponto final. Desaparecem de cena.
Aliada
à falta de dinheiro, a produção cultural de Goiânia tem deixado a desejar no
quesito qualidade. Poucas têm sido as produções que entusiasmam o espectador e
o tira de casa para ir ao teatro.
NOVOS TALENTOS SURPREENDEM
NA DANÇA CONTEMPORÂNEA
Coreografia Ali Se ... |
Houve
um tempo em que a movimentação artística da cidade girava principalmente em
torno da dança clássica. As escolas, algumas tradicionais, investiam com
vontade no gênero, recriando grandes espetáculos de repertório. Para
abrilhantar mais os espetáculos, convidavam consagrados bailarinos como Ana
Botafogo, Marcelo Misailides e Cecília Kerche, do Teatro Municipal do Rio de
Janeiro, para dividir o palco com a garotada. Foram bons tempos aqueles...
Hoje, bem sabemos os motivos, a famosa produção minguou, e as escolas cumprem
apenas seu papel pedagógico.
Uma
das principais do País, reconhecida no exterior, a Quasar Cia. de Dança, criada
em 1988, tem influenciado muito a dança contemporânea de Goiânia. Bailarinos e
coreógrafos têm se espelhado no trabalho do grupo de Henrique Rodovalho, mas em
busca da sua própria linguagem artística. Tem havido surpresas, e isso é muito
estimulante para o meio.
Na
dança contemporânea, o ano começou bem com a estreia da coreografia Sobre Isto,
Meu Corpo Não Cansa, da Quasar Cia. de Dança. Uma vez mais a companhia mostrou
no palco porque está entre as melhores desde que foi criada. Movimentos ágeis,
aliados a bela trilha sonora, ao elegante figurino e a uma iluminação de extremo
bom gosto mostram a força criativa de Henrique Rodovalho.
No
rastro do grupo, três novos talentos despontam como criadores independentes.
Experientes bailarinos e coreógrafos promissores, João Paulo Gross, Daniel
Calvet e José Villaça estrearam espetáculos muito bem avaliados. Os espetáculos
O Crivo e Sobre a Pele, de João Paulo Gross, Lupita, de Daniel Calvet e Ali
Se..., de José Villaça foram boas surpresas da temporada 2015.
Inspirada
na obra de João Guimarães Rosa, O Crivo exigiu muita concentração dos
bailarinos João Paulo Grosso e Daniel Calvet. Recriado com as cores quentes do
sertão, a iluminação tem o tom aos intensos movimentos dos bailarinos que
rolavam no palco como dois sertanejos no sol inclemente. Bela leitura da obra
do genial escritor mineiro. Na criação de Sobre a Pele, João Paulo Gross
investiu no livro Pequeno Discurso Amoroso, de Roland Barthes, para falar de
amores mal resolvidos, relacionamentos conturbados, falta de amor com os
bailarinos da Das Los Grupo de Dança, da diretora Tassiana Stacciarini. O
resultado só podia ser emocionante.
Descontraída
e alegre, Lupita, de Daniel Calvet, cativa o público logo no início do
espetáculo. Baseado nos roteiros das novelas mexicanas, a coreografia destaca
toda a dramaticidade dos tipos canastrões, das mulheres exuberantes e sensuais.
Vibrante, bem humorada, Lupita é colorida e divertida. Diferentemente, de João
Carlos Gross e Daniel Calvet, José Vilaça investe na brincadeira, na singeleza
do espetáculo Ali Se... que aborda de forma leve o ir, o vir, a chegada, a partida.
Músicas bem selecionadas, figurino divertido e muita alegria no palco, a
coreografia encanta do início ao fim.
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