sexta-feira, 18 de novembro de 2016



                                        SIM, O TEATRO GOIANO TEM MEMÓRIA


Memória da Cena Teatral Goiana 1, de Gilson P. Borges



Deixamos de registrar a maior parte das nossas memórias. Quando menos se espera o tempo passou, as lembranças foram se apagando, e tudo fica mais difícil de resgatar. Já não conseguimos mais rever os pequenos detalhes, minúcias de acontecimentos e fatos.

Vivemos no mundo do efêmero. Daí a importância de registrar a história, nossa e dos outros. Verdade que nem sempre encontramos tempo ou disposição para fazê-lo. Vamos deixando tudo para depois.  Infelizmente, o que seria fundamental para o futuro, para pesquisadores e historiadores vai se perdendo pela ação inexorável do tempo. 

O que é notícia hoje já não é mais dentro de poucas horas. Diante da infinidade de informações, esquecemos rapidamente determinados assuntos. A internet, essa poderosa ferramenta contemporânea, largamente utilizada torna-se nosso diário atual, nossa fonte de informação e documentação.  Porém, arquivar fotos,  guardar livros, filmes e vídeos, panfletos e catálogos, recortes de jornais e revistas é tão importante quanto os apontamentos, as anotações, os diários e os  impressos. 

Tudo é memória. Tudo compõe a história. Futuramente, esses dados serão compartilhados, manuseados, pesquisados, compreendidos.  A história do teatro em Goiás vem sendo construída. Muitos são os registros já feitos sobre os primórdios do teatro goiano, o legado, experiências e vivências de grupos, atores, atrizes, diretores e outros temas relacionados.  

Resgate

 
Memória do Teatro Goiano, de Hugo Zorzetti
 Autor, diretor, professor e criador do Grupo de Teatro Exercício, Hugo Zorzetti assina uma coleção sobre a História do Teatro em Goiás (Editora UFG/2014). São três livros imprescindíveis para quem atua na área. Memória do Teatro Goiano – A Cena na Capital focaliza personalidades históricas como Otavinho Arantes, fundador do Teatro Inacabado, Cici Pinheiro, atriz audaciosa que ousou beijar seu parceiro de cena na primeira novela levada ao ar em Goiânia, causando o maior rebuliço na sociedade, e João Bennio, um mineiro quase goiano que atuou tanto no teatro como no cinema.
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No segundo volume das memórias, Hugo Zorzetti aborda A Cena no Interior. Ele resgata a cena teatral de Morrinhos, fala sobre a atuação marcante da família Diniz, fundamental para agitação cultural na cidade. A fundação do Teatro Juquinha Diniz é outro foco da obra de Zorzetti, um profundo conhecedor do fazer cultural de Goiás. Outro ponto importante da obra diz respeito a cena teatral de São Luís de Montes Belos, e sua grande incentivadora, a atriz e diretora Carmosina Vitória, em Trindade, Anápolis, Quirinópolis, Pirenópolis e Silvânia.

Vale apena conhecer o teatro feito durante a ditadura militar (1964/1985). Zorzetti fala sobre assuntos que na época eram tabu.  Censura, perseguição política a autores, atores e diretores são alguns temas do terceiro volume da série Memória do Teatro Goiano -  A Cena da Ditadura. A atuação marcante do Teatro Exercício, a criação do Tese,  grupo de teatro do Colégio Universitário (Colu), e do Teatro Universitário Galpão são temas da obra, que traz também temas polêmicos para a época como a censura, a perseguição política, os protestos contra o regime no palco, a saga dos pioneiros do teatro. Zorzetti resgata a história de muitos atores que deram imensa contribuição à arte e que continuam atuantes no meio.  

 Atriz, diretora e historiadora, Renata Caetano é autora do livro Palco em Cena, que traz amplas entrevistas dos diretores Sandro di Lima, Danilo Alencar, Mauri de Castro, Samuel Baldani, nomes fundamentais da cena teatral de Goiás. A autora elege o texto teatral como ponto de discussão: atos, cenas, personagens, estilos, iluminação, cenografia. Renata contextualiza cada parte nos aspectos históricos a partir dos anos 1960/1970 e personagens, no caso os quatro diretores. 

Teatro Goiânia: Histórias e Estórias, de Gilson P. Borges


Teatro Goiânia
Um dos mais importantes espaços culturais da capital, o Teatro Goiânia ganhou um  livro inteirinho  sobre ele, escrito por Gilson P.Borges.  Teatro Goiânia: Histórias e Estórias integra a coleção Goiânia em Prosa e Verso, lançada pela Secretaria Municipal de Cultura, em parceria com a Editora UFG, em 2007. Ilustrado com fotos da época da sua construção, a obra resgata toda a história do Cine Teatro Goiânia, as primeiras peças encenadas, os primeiros filmes exibidos, a primeira grande reforma que o transformou apenas em teatro e outros assuntos interessantes.  Gilson mergulhou na pesquisa levantando todas as informações sobre o prédio art déco, tombado pelo Patrimônio Histórico. Inaugurado em 1945, nas comemorações do Batismo Cultural de Goiânia, é considerado um marco da cidade. 

Gilson P.Borges também organizou o livro Memória da Cena Teatral Goiana 1. Trata-se do primeiro volume de uma série que o autor prepara sobre grupos, diretores, atores, dramaturgos e técnicos de teatro em Goiás. O organizador baseou seu trabalho a partir da criação do Banco de Dados do Teatro Goiano, à disposição dos interessados na Biblioteca Carmelinda Guimarães do Instituto Tecnológico de Goiás Basileu França, ex-CEP Basileu França (Av. Universitária, nº 1750, Setor Universitário – Goiânia). 

No primeiro livro, Gilson P. Borges registrou a obra dos grupos Trama Teatro, do diretor Deusimar Gonzaga, Teatro GTI, do ator Bruno Peixoto, Olho da Rua e Reinação, da atriz Rita Alves. O Grupo de Teatro Bastet, de Thiago Moura também mereceu destaque nas memórias, bem como o Grupo Trupicão Cia. de Teatro, de Sandro Freitas. Um dos mais atuantes da cena teatral, o trabalho do Grupo Zabriskie, de Ana Cristina Evangelista e Alexandre Augusto e Cia. de Teatro Novo Ato, de Luiz Cláudio e Marília Ribeiro estão registrados na obra.

Fundada no Rio de Janeiro pela atriz, diretora e acrobata Lua Barreto, a Cia. Corpo na Contramão tem sua história contada no livro de Gilson Borges. O leitor poderá conhecer também o trabalho realizado pela Cia.Teatral Oops!... de João Bosco Amaral e Sol Silveira. Além dos textos, o livro é ricamente ilustrado com fotografias feitas pelo próprio autor, o que enriquece muito o seu trabalho. Cada grupo pode falar da criação do grupo, a técnica desenvolvida e contar curiosidades de sua atuação. Não houve, por parte do organizador, a preocupação de reescrever os textos, que são narrados em primeira pessoa.

Memória da Cena Teatral Goiana 1 apresenta um panorama amplo sobre os grupos da cidade, com ótimo material de pesquisa. Espera-se que tenha continuidade, pois ainda há dezenas de outros esperando contar sua história. Editado pela Nega Lilu Editora, a obra é patrocinada pela Lei Municipal de Incentivo à Cultura.  

Palco Aberto, de Renata Caetano


Bibliografia
- ZORZETTI, Hugo. Memória do Teatro Goiano – A Cena na Capital. Goiânia. Editora UFG, 2014.
- ZORZETTI, Hugo. Memória do Teatro Goiano – A Cena no Interior. Goiânia. Editora UFG, 2014.
- ZORZETTI, Hugo. Memória do Teatro Goiano – A Cena na Ditadura. Goiânia. Editora UFG, 2014.
- CAETANO, Renata. Palco Aberto. Goiânia. Gráfica e Editora América. 2009.
- BORGES, Gilson P. Teatro Goiânia: histórias e estórias. Goiânia. Editora da UCG. 2007.
- BORGES, Gilson P. Memória da Cena Teatral Goiana I. Goiânia. Nega Lilu Editora. 2015. 
     
    
  
         


  

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