sexta-feira, 28 de outubro de 2011

CENA TEATRAL DE QUALIDADE



Em sua décima edição, o Festival Internacional de Artes Cênicas Goiânia em Cena, criado em 2001 com a finalidade de movimentar a cena teatral da cidade, promover o intercâmbio entre artistas, produtores, diretores e oferecer parâmetros aos grupos regionais, mostra que está cumprindo bem o seu papel. Há tempos o evento não apresentava peças locais interessantes, com qualidade suficiente para competir de igual para igual com os convidados.

Selecionados pelos professores e produtores culturais Lílian Freitas Vilela (SP), Flávia Janiask Vale (SC) e José Manoel Sobrinho (PE), o festival apresentou 12 espetáculos goianos: seis de grupos, quatro de rua, a estreia da coreografia Lily Y Put, de Kleber Damaso e Morena Nascimento, e a Cena Lírica, sob a regência do maestro Norton Morozowicz, um momento aguardado pelos espectadores. Todos os trabalhos têm méritos a ressaltar: bons textos, boas produções, direções e elencos empenhados em dar o melhor si no palco.

Makunaíma na Terra de Pindorama, do grupo Teatro Que Roda, que oficialmente abriu o festival no dia 14, é um deles. Inspirado na obra de Mário de Andrade, o herói sem caráter ganhou uma produção dirigida por André Carreira, com um elenco afinado encabeçado pelo ator Dionísio Bombinha, que despiu-se do figurino de Quixote (grande sucesso de sua carreira) e vestiu-se de Macunaíma com a mesma competência. Ser Tão Grande, do Grupo Arte & Fatos, da Coordenação de Arte e Cultura da PUC Goiás, terá vida longa pelas suas inúmeras qualidades. Trabalho esmerado do diretor Danilo Alencar, Ser Tão tem vários convites para festivais, o que enche de orgulho seus realizadores.

Depois de quase 30 anos afastado do palco, o ator Ivan Lima está muito bem em cena no seu O Jogo do Poder, espetáculo solo no qual mostra toda a experiência acumulada em mais de 40 anos como ator. Há anos em cartaz, Luas e Luas, do Grupo Teatro Zabriskie retornou ao palco graças ao Prêmio Myriam Muniz, da Funarte. Com cenário, figurino e texto bem elaborados, ótimos atores (Ana Cristina e Alexandre Augusto), Luas e Luas é um espetáculo infantil inteligente, que foge ao esteriótipo do príncipe e da princesa que serão felizes para sempre, e também das produções chatinhas copiadas do cinema.

Projeto de vida do Grupo Sonhus Teatro Ritual, com os atores Nando Rocha e Pablo Angelim, Travessia – Parte III: Êxodo encerra a trilogia do grupo inspirado na dança butô. Apesar do capricho da produção, dos figurinos e cenários deslumbrantes, a proposta já tornou-se monótona e repetitiva.

Há mais de três anos em cartaz, finalmente A Fábula da Casa das Mulheres Sem Homens, da Cia. De Teatro Sala 3, dirigida por Altair de Souza, chegou ao Goiânia em Cena. Inspirado no clássico A Casa de Bernarda Alba, de Federico Garcia Lorca, a peça foi adaptada para o teatro de rua com muita irreverência, humor e final surpreendente. Cumpre bem o seu papel: diversão e entretenimento sem compromisso. Não se pode deixar de destacar a graça da peça Dois Patetas Espatifados, do Grupo Trupicão, de Sandro de Freitas, exemplo de história interessante para crianças.

Outros trabalhos de Goiânia em Cena também merecem destaque: Amor Por Anexins, do Grupo de Teatro Guará, de Samuel Baldani, o divertido texto de Arthur Azevedo de jogos de palavras e ditados populares, produzido para ser exibido na rua e O Boneco de Cor, do Grupo Teatro Maleiro, de Marcos Marrom e A Farpa, da Cia. Mínima, de Franco Pimentel, um trabalho de pesquisa que alia as experiências dos atores ao texto poético de Guimarães Rosa e às criações do artista plástico Paulo Fogaça. Muito mais performance do que dança, Lily Y Put, dos bailarinos Kleber Damaso e Morena Nascimento utiliza muito bem os recursos audiovisuais, é envolvente e bonito de se ver..

Diversos fatores contribuíram para o aprimoramento das produções goianas nos últimos 10 anos. Não resta dúvida de que o festival, nesse sentido, é um dos principais colaboradores . Então, que tenha vida longa o Goiânia em Cena.

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