No vale tudo para divulgar o espetáculo, pausa dos artistas para uma foto com uma jornalista de Goiás. Valeu...
sexta-feira, 22 de abril de 2011
CORTINAS ABERTAS
VITRINÃO CURITIBANO
Este ano, o Festival de Curitiba completou 20 anos. E está cada vez maior, mais diversificado, contemplando não só o teatro, mas também a música, a dança, o humor, etc, etc. É um vitrinão das artes totalmente consolidado e respeitado. Todos os artistas querem participar, expor suas criações.
Este ano, tinha atração de todas as partes do País e de todos os estilos. Dois de Goiânia fizeram parte da enorme grade programação: Boi, do ator Guido Campos Correa, dirigido por Hugo Rodas e Anjo Clandestino, do duo Lua Barreto e Reginaldo Mesquita, baseado no Teatro Físico. Apresentaram-se em espaços pequenos, bem localizados e de qualidade: os Teatros da UFP e do HSBC.
A verdade é que todos querem ser vistos em Curitiba. E não há espaço para todos. A concorrência é grande, e quem vai para o Fringe (mostra paralela que este ano teve quase 400 participantes) tem de rebolar para conquistar plateia. Mesmo que não chame a atenção do público e o interesse dos jornalistas que cobrem o festival, é importante para os grupos ter no currículo uma participação no prestigiado Festival de Curitiba.
Fiquei quatro dias e vi de tudo um pouco. Umas boas, outras ruins: passei do teatro de rua, às novas experimentações, à Mostra Sesi de Dramaturgia, que se propõe a descobrir novos talentos da dramaturgia. Sob a coordenação do competente diretor Roberto Alvim, a mostra tem chamado a atenção pela qualidade do trabalho proposto pelos novos talentos da dramaturgia.
Das centenas de trabalhos no repertório, foi difícil fazer escolhas. Vi produções interessantes na Mostra Oficial, selecionada por uma respeitada curadoria, como DNA Somos Todos Iguais, do Circo Roda, sob o comando de Hugo Possolo, dos Parlapatões, Preferiria Não, de Denise Stoklos e Sonhos Para Vestir, com a atriz Sara Antunes, dirigida por Vera Holtz.
No Fringe, gostei particularmente dos espetáculos de rua A Farsa do Boi ou o Desejo de Catirina, da Cia. Serial Cômicos, de Curitiba (PR) e A Pereira da Miséria, do Núcleo Ás de Paus, de Londrina (PR). Brasileirinhos - Uma História Reinventada, da Cia. Teatral Censura Livre, de São Lourenço (MG) me encantou muito. Trata-se de um grupo que trabalha com teatro negro. A história é uma graça e pode ser vista por toda a família.
Metamorfose Leminski, do Grupo Delírio Cia. de Teatro, de Curitiba, com sua proposta experimental do teatro de revista me agradou muito, assim como Rosas Brancas para Salomé.
Produção no estilo convencional, Depois Daquele Baile, de Rogério Falabella, com o Grupo de Teatro Tespis, de Campinas (SP) leva o espectador a refletir sobre vários assuntos.
sexta-feira, 15 de abril de 2011
MEDO DA CEGUEIRA
Fui ver a peça O Livro, de Newton Moreno, cartaz em sessão única no Centro Cultural da UFG dentro da programação do Banquete de Livros, promovido pela Editora da UFG e parceiros. Gostei muito da estética contemporânea da encenação, e da interpretação envolvente do ator Eduardo Moscovis.
A arquitetura do espaço na Praça Universitária caiu como uma luva à proposta da diretora Christiane Jatahy, que oferece muita mobilidade ao ator . Conhecido pelos papéis de galã de folhetins da Globo, Moscovis mostrou que está mais experiente como ator e bem preparado para o papel.
Representante da nova geração de dramaturgos, o pernambucano Newton Moreno surpreende a cada texto, por mais simples que seja, como O Livro, que aborda o medo da cegueira que bem pode ser visual, espiritual ou social. Depende da leitura que se faça do texto.
Ótimo trabalho para uma reflexão. Foram muitos os exemplos que me ocorreram no momento da encenação de E. Moscovis, que integrou, com a peça, a mostra oficial do Festival de Curitiba 2011. Palmas para ele!!!
A arquitetura do espaço na Praça Universitária caiu como uma luva à proposta da diretora Christiane Jatahy, que oferece muita mobilidade ao ator . Conhecido pelos papéis de galã de folhetins da Globo, Moscovis mostrou que está mais experiente como ator e bem preparado para o papel.
Representante da nova geração de dramaturgos, o pernambucano Newton Moreno surpreende a cada texto, por mais simples que seja, como O Livro, que aborda o medo da cegueira que bem pode ser visual, espiritual ou social. Depende da leitura que se faça do texto.
Ótimo trabalho para uma reflexão. Foram muitos os exemplos que me ocorreram no momento da encenação de E. Moscovis, que integrou, com a peça, a mostra oficial do Festival de Curitiba 2011. Palmas para ele!!!
segunda-feira, 11 de abril de 2011
AS MÃOS DE EURÍDICE
ATOR MARLEY DE FREITAS EM "AS MÃOS DE EURÍDICE
Quando estreou no início dos anos 1950, o monólogo As Mãos de Eurídice, de Pedro Bloch, não entusiasmou muito os críticos. Mas, o sucesso da história de Gumercindo Tavares, um bem sucedido empresário que foge com a amante Eurídice para Buenos Aires em busca dos prazeres da vida, foi surpreendente. Interpretada por Rodolfo Mayer, durante 25 anos, o personagem confundiu-se com o próprio ator que morreu em 1985.
Outros atores brilhantes como Mayer também viveram o papel com a mesma intensidade no Brasil e no exterior. João Bennio e Marley de Freitas também se identificaram de tal forma com o personagem que a cada nova apresentação a emoção transborda. Afastado do palco há cerca de 10 anos, Marley de Freitas retomou o papel , graças ao patrocínio da Lei Municipal de Incentivo à Cultura, sob a direção de Delgado Filho, do grupo Arte & Fogo, no Teatro Cici Pinheiro, da Casa das Artes.
A curta temporada conquistou uma razoável e interessada plateia de jovens, e acredito que não só pela história em si (que ainda nos parece bastante atual) mas também pela competência do ator que tão bem veste o personagem. Com 75 anos de idade, Marley de Freitas demonstra muito fôlego para absorver toda a carga dramática de Gumercindo Tavares, um homem infeliz no casamento, que se perde de amores pela bela e ambiciosa Eurídice. Ele aposta tudo que tem na esperança de encontrar a felicidade ao lado dela, e ambos fogem para Buenos Aires, onde as noites nos cassinos viram rotina.
Escrita em 1949, a história de Gumercindo parece bem atual. O próprio personagem sua história, fazendo do espectador o seu confidente. Como se buscasse respaldo pelos seus erros, ele vai justificando suas atitudes: o abandono da mulher e dos filhos por sete anos, a falência total nas mesas de jogo, e o desatino de matar a amante em momento de total desespero. Eurídice era hábil nas mesas de jogo, nas fichas e roletas dos cassinos. Quando Gumercindo pede uma de suas jóias para empenhar ou vender para pagar dívidas ela se recusa dizendo: “Elas são as únicas recordações de um amor que já findou”. Gumercindo cai no fundo do poço. Mata a amante, e foge para o Brasil.
Decadente volta para casa, o porto seguro do lar, mas percebe que tudo está mudado. A casa está vazia. Ninguém o espera mais. Procura a chave no bolso do velho paletó e ao entrar vasculha os móveis em busca de pistas da família. Nas gavetas vai desenrolando o fio da meada dos sete anos que passou fora com Eurídice.
Natural de Uberlândia, Marley de Freitas estreou como ator profissional aos 19 anos com a peça O Padre Jeremias. Com As Mãos de Eurídice fez turnês por diversas cidades. Segundo seus cálculos, de 1960 a 2011, fez cerca de 170 apresentações do monólogo. Com esta remontagem, o ator presta homenagem aos 60 anos da primeira encenação da peça e comemora seus 55 anos de carreira artística, demonstrando que está em boa forma, afinal o bom ator é a peça fundamental para o sucesso de uma peça. Delgado Filho foi comedido na direção, que exige muito do ator, conduzindo as cenas sem exagerar nas doses de dramaticidade.
Bloch
Médico, especialista em problemas de fala e audição, Pedro Bloch gostava de escrever e compor. Nascido na Ucrânia, veio para o Brasil ainda criança. É autor de mais de 30 peças. Entre mais conhecidas estão As Mãos de Eurídice e Os Inimigos Não Mandam Flores, dois trabalhos que foram encenados no Teatro da Malmo (Suécia), e dirigidos por Ingmar Bergman. Gostei muito de ter revisto o texto de Pedro Bloch encenado por Marley de Freitas.
As Mãos de Eurídice traz-me à memória a lembrança de João Bennio interpretando a peça no auditório do Instituto de Educação de Goiás (IEG), onde estudei quase a minha vida inteira. Achei lindo. Depois li o texto de Pedro Bloch. A partir daí o teatro passou a fazer parte da minha vida. Eu sou a prova de que um texto bem produzido, interpretado por bons atores conquistam plateias para sempre.
Foto: Gilson Borges
quarta-feira, 6 de abril de 2011
O SENTIDO DA VIDA
CENA TEATRAL GOIANA 2011
Normalmente, a programação nos primeiros meses do ano é pífia, e quase nada de interessante é realizado no teatro em Goiânia. Trata-se de um período reservado à preparação das produções, a batalha pelos patrocínios, e a organização dos grupos. Por isso iniciei 2011 sem muito entusiasmo para retomar este blog.
Mas, ao assistir a estreia do ator Ivan Lima (mais conhecido em Goiânia pelos inúmeros comerciais de TV), no Teatro Sesi, em março, com a peça O Jogo do Poder - Monólogo para um Ator, texto da carioca Maria Helena Kuhner, decidi registrar aqui as minhas considerações a seguir.
O PODER DE IVAN LIMA NO PALCO
Depois de quase 30 anos afastado do palco, o ator Ivan Lima retomou a carreira em grande estilo. Interpretando um personagem que tem tudo a ver consigo mesmo (até parece que a autora Maria Helena Kuhner escreveu a peça sob medida para ele), Ivan demonstrou grande vigor no palco do Teatro Sesi na peça O Jogo do Poder – Monólogo Para um Ator.
O argumento remete à vida de um ator que desmotivado com a carreira artística e o rumo incerto de sua própria vida decide abandonar tudo, pegar a estrada em busca de novos horizontes. Depois de muitas idas e vindas, novas experiências e alguns fracassos, o amor ao teatro cala fundo na alma do ator e ele decide voltar ao palco para interpretar o desprezível agiota judeu Shylock, o complexo personagem de William Shakespeare.
Texto escrito com sensibilidade pela carioca Maria Helena Kuhner, a peça O Jogo do Poder – Monólogos para um Ator expõe as crises que às vezes experimentamos ao longo da vida. No caso dele, a questão é saber o verdadeiro sentido da função de ser ator, do que realmente se esconde atrás das aparências, da fragilidade do seu eu interior. Maria Helena demonstra conhecer a situação, que Ivan interpreta tão bem no seu retorno ao palco nas comemorações dos seus 46 anos de carreira, iniciada no Rio de Janeiro, sua terra natal.
Ivan não esconde sua paixão pelo teatro, o momento da comunhão que o personagem compara ao tradicional ritual da missa católica ao se entregar por inteiro à sua plateia: “Tomai e comei, este é o meu corpo. Tomai e bebei, este é o meu sangue”. Teatro é sim uma comunhão. É viver muitas vidas, é a transmutação constante no outro. Os rompimentos, sejam quais forem, não são fáceis. Acredito não ter sido fácil para Ivan o meio em que vivia: as leituras dramáticas, os ensaios, a agitação da coxia, os bastidores estressantes nas noites de estreia.
Mas, creio que o tempo de meditação na Índia, o recolhimento interior e as experiências vividas tenham lhe feito muito bem, assim como o retorno gradativo: primeiro dirigindo peças como convidado, como fez para o Núcleo Freudiano de Psicanálise e o ator João Bosco Amaral. Depois a decisão para a volta triunfal. Ivan está animado, quer fazer temporadas, viajar, reconquistar o seu espaço a partir de Goiânia, a cidade que há mais de 20 anos escolheu para viver.
Galã
Ex- galã dos filmes de Mazzaroppi, garoto propaganda de mais de 500 comerciais de TV, o carioca Ivan Lima teve o privilégio de atuar com Dulcina de Morais, Marília Pêra, Irene Ravache, Joana Fomm, Darlene Glória, Paulo Autran, Antônio Fagundes, foi dirigido pelos mais competentes diretores do teatro. Formado pelo Conservatório Nacional de Teatro do Rio de Janeiro, foi aluno do polonês Ziembinski e do italiano Eugenio Kusnet, dois dos nomes de maior expressão do teatro, não exitou em deixar tudo para trás, pegar a estrada e sair pelo mundo à procura do seu “eu”. Foi para Índia onde viveu dois anos, meditou, virou um quase hippie, conheceu pessoas que lhe deram verdadeiras lições de vida. Teatro, cinema, TV ficaram p/trás.
Como o que se aprende não se esquece jamais, Ivan Lima está em plena forma como ator. Pode dar-se ao luxo de dirigir e interpretar qualquer papel. A direção comedida do psicanalista Renato Lucas, ator e diretor bissexto permitiu a Ivan Lima reocupar o seu espaço. Paula Mauri criou o cenário, o figurino e fez a produção de arte. Rodrigo Horse mapeou a iluminação. Lino e Tony Calaça compuseram a trilha sonora que dá a densidade necessária à encenação.
A produção contou com o patrocínio da Lei Municipal de Incentivo à Cultura. O Jogo do Poder arrebata pela sensibilidade do argumento e a sinceridade da interpretação do artista que um dia decepcionou-se com o meio artístico. Pelo grande ator que é desejo vida longa a Ivan Lima no palco.
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