Normalmente, a programação nos primeiros meses do ano é pífia, e quase nada de interessante é realizado no teatro em Goiânia. Trata-se de um período reservado à preparação das produções, a batalha pelos patrocínios, e a organização dos grupos. Por isso iniciei 2011 sem muito entusiasmo para retomar este blog.
Mas, ao assistir a estreia do ator Ivan Lima (mais conhecido em Goiânia pelos inúmeros comerciais de TV), no Teatro Sesi, em março, com a peça O Jogo do Poder - Monólogo para um Ator, texto da carioca Maria Helena Kuhner, decidi registrar aqui as minhas considerações a seguir.
O PODER DE IVAN LIMA NO PALCO
Depois de quase 30 anos afastado do palco, o ator Ivan Lima retomou a carreira em grande estilo. Interpretando um personagem que tem tudo a ver consigo mesmo (até parece que a autora Maria Helena Kuhner escreveu a peça sob medida para ele), Ivan demonstrou grande vigor no palco do Teatro Sesi na peça O Jogo do Poder – Monólogo Para um Ator.
O argumento remete à vida de um ator que desmotivado com a carreira artística e o rumo incerto de sua própria vida decide abandonar tudo, pegar a estrada em busca de novos horizontes. Depois de muitas idas e vindas, novas experiências e alguns fracassos, o amor ao teatro cala fundo na alma do ator e ele decide voltar ao palco para interpretar o desprezível agiota judeu Shylock, o complexo personagem de William Shakespeare.
Texto escrito com sensibilidade pela carioca Maria Helena Kuhner, a peça O Jogo do Poder – Monólogos para um Ator expõe as crises que às vezes experimentamos ao longo da vida. No caso dele, a questão é saber o verdadeiro sentido da função de ser ator, do que realmente se esconde atrás das aparências, da fragilidade do seu eu interior. Maria Helena demonstra conhecer a situação, que Ivan interpreta tão bem no seu retorno ao palco nas comemorações dos seus 46 anos de carreira, iniciada no Rio de Janeiro, sua terra natal.
Ivan não esconde sua paixão pelo teatro, o momento da comunhão que o personagem compara ao tradicional ritual da missa católica ao se entregar por inteiro à sua plateia: “Tomai e comei, este é o meu corpo. Tomai e bebei, este é o meu sangue”. Teatro é sim uma comunhão. É viver muitas vidas, é a transmutação constante no outro. Os rompimentos, sejam quais forem, não são fáceis. Acredito não ter sido fácil para Ivan o meio em que vivia: as leituras dramáticas, os ensaios, a agitação da coxia, os bastidores estressantes nas noites de estreia.
Mas, creio que o tempo de meditação na Índia, o recolhimento interior e as experiências vividas tenham lhe feito muito bem, assim como o retorno gradativo: primeiro dirigindo peças como convidado, como fez para o Núcleo Freudiano de Psicanálise e o ator João Bosco Amaral. Depois a decisão para a volta triunfal. Ivan está animado, quer fazer temporadas, viajar, reconquistar o seu espaço a partir de Goiânia, a cidade que há mais de 20 anos escolheu para viver.
Galã
Ex- galã dos filmes de Mazzaroppi, garoto propaganda de mais de 500 comerciais de TV, o carioca Ivan Lima teve o privilégio de atuar com Dulcina de Morais, Marília Pêra, Irene Ravache, Joana Fomm, Darlene Glória, Paulo Autran, Antônio Fagundes, foi dirigido pelos mais competentes diretores do teatro. Formado pelo Conservatório Nacional de Teatro do Rio de Janeiro, foi aluno do polonês Ziembinski e do italiano Eugenio Kusnet, dois dos nomes de maior expressão do teatro, não exitou em deixar tudo para trás, pegar a estrada e sair pelo mundo à procura do seu “eu”. Foi para Índia onde viveu dois anos, meditou, virou um quase hippie, conheceu pessoas que lhe deram verdadeiras lições de vida. Teatro, cinema, TV ficaram p/trás.
Como o que se aprende não se esquece jamais, Ivan Lima está em plena forma como ator. Pode dar-se ao luxo de dirigir e interpretar qualquer papel. A direção comedida do psicanalista Renato Lucas, ator e diretor bissexto permitiu a Ivan Lima reocupar o seu espaço. Paula Mauri criou o cenário, o figurino e fez a produção de arte. Rodrigo Horse mapeou a iluminação. Lino e Tony Calaça compuseram a trilha sonora que dá a densidade necessária à encenação.
A produção contou com o patrocínio da Lei Municipal de Incentivo à Cultura. O Jogo do Poder arrebata pela sensibilidade do argumento e a sinceridade da interpretação do artista que um dia decepcionou-se com o meio artístico. Pelo grande ator que é desejo vida longa a Ivan Lima no palco.
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirSó tenho a agradecer tão belo e intenso comentário sobre esse trabalho que fiz acompanhado de pessoas maravilhosas como o Renato Lucas, Lino Calaça, Paula MAuri, Rodrigo Horse, Ione FAleiro, MArcia MArina, de profissionais perfeitos que fazem parte do quadro do Teatro SESI, de seus Diretores que me proporcionaram essa volta num palco que honra o Teatro Nacional e principalmente de um Texto incrível de MAria Helena Kuhner. ESpero que seja o primeiro passo de uma volta para um lugar de onde nunca saí...Todo o meu coração!!!
ResponderExcluirolá Valbene,
ResponderExcluirQue bom que voltou a escrever, já estava com saudades de seus textos. Parabéns também ao Ivan e sua equipe, ainda não tive oportunidade de assistir ao espetáculo, que com certeza é de muito bom gosto.
Vida longa ao Teatro e ao seu blog Valbene.
Abraços,
João Bosco Amaral
Oi Valbene, não pude ver esse espetáculo, mas não vou perder a próxima apresentação. Assim como o João, já estava com saudade de seus textos e parabéns pra o grande Ivan Lima.
ResponderExcluirAbraço, Dirce Vieira
Também perdi o espetáculo, espero da próxima vez poder assistir o nosso brilhante Ivan Lima. Adorei a Crítica.
ResponderExcluirBons textos!