quinta-feira, 30 de abril de 2009

Repórter cobrindo teatro

O teatro voltou a fazer parte da minha vida quando fui trabalhar no Caderno 2 do jornal O POPULAR. Como repórter, fazia todo tipo cobertura. Minha função primeira era (e ainda é) organizar o roteiro de atrações de toda a cidade: noite, teatro, dança, show, curso, seleção, etc...) . Virei expert em ACONTECE. Em meados de 1990, Karla Jaime Morais (nossa editora) resolveu distribuir as áreas de cobertura: cinema (Tacilda Aquino), artes plásticas (Nádia Timm), decoração (Margareth Gomes), moda (Ana Cláudia), comportamento e afins (Marluce Zacariotti, Teresa Cristina Costa, Lara Nercessian), Sebastião Vilela (TV) Gêza Maria (literatura), Leonardo Razuk (música). E você, Valbene, vai cobrir o quê? Teatro, falei sem muita convicção, com medo da responsabilidade. Teatro era a área dela. Apaixonada por teatro, Karla faz comentários muito bem fundamentados, estudava o assunto e conhecia o meio teatral e os autores. Eu tinha de começar do zero.

Em 1996, todos nós do Caderno 2 participamos do curso de Teatro Brasileiro e Crítica Teatral, ministrado na própria Organização Jaime Câmara, pela jornalista e professora Carmelinda Guimarães. O curso de formação, aberto também a estudantes de jornalismo e atores, fora sugerido à empresa pelo diretor Marcos Fayad. A crítica de um episódio do Cabaré Goiano foi nosso trabalho de conclusão do curso. Fomos todos assistir ao espetáculo de Marcos Fayad, em cartaz no Centro Cultural Martim Cererê, para no dia seguinte escrever a crítica. Após a avaliação de Carmelinda, as críticas foram publicadas no jornal. Tião Vilela e Karla Jaime ganharam conceito máximo na avaliação da professora, hoje titular da Escola de Música e Artes Cênicas da Universidade Federal de Goiás.

Bibliografia básica
Ao assumir a missão, minha primeira providência foi estudar, ler tudo sobre teatro, acompanhar pelos jornais O Globo, Folha de São Paulo e Estado de S. Paulo as notícias sobre artes cênicas. As críticas viraram leitura obrigatória. Passei a admirar o trabalho de Barbara Heliodora (O Globo), Macksen Luiz (Jornal do Brasil), Leonel Fischer (O Dia), Beth Néspoli (Estadão), Valmir Santos (Folha de São Paulo), Alberto Guzik e Maria Lúcia Candeias (Gazeta Mercantil) .

Li praticamente toda a bibliografia disponível e iniciei uma pequena, porém significativa biblioteca sobre o tema. Karla Jaime, Gêza Maria e Rogério Borges contribuíram com exemplares importantes, como História Mundial do Teatro (Margot Berthold), Teorias do Teatro (Marvin Carlson), Panorama do Teatro Brasileiro e Moderna Dramaturgia Brasileira (Sábato Magaldi), Cem Anos de Teatro em São Paulo (Sábato Magaldi e Maria Tereza Vargas). Li também a biografia de Oduvaldo Viana Filho (Vianinha), Cacilda Becker, Marília Pêra, Fernanda Montenegro, Paulo Autran, Ney Latorraca, Ruggero Jacobi, Augusto Boal, Nelson Rodrigues (O Anjo Pornográfico) e sua dramaturgia, sem falar nas crônicas de A Vida Como Ela É. As obras de Ariano Suassuna viraram livro de cabeceira.

Mais de 20 anos depois, As Mãos de Eurídice cruzou novamente o meu caminho. Ao saber que o ator Marley de Freitas encenaria o monólogo no Centro Cultural Martim Cererê tratei logo de adquirir o livro para melhor conhecer a história. Mais uma vez me emocionei com a interpretação, que exige entrega total do ator. Perdidamente apaixonado por Eurídice, Gumercindo Tavares abandona a família para viver uma aventura em Buenos Aires. Depois de perder a fortuna na banca de jogo de um cassino e consequentemente a amante, uma jogadora inveterada, ele procurar a mulher e o filho que abandonara e encontra a casa vazia. Marley de Freitas, assim como Bênnio, também conseguiu dar ao personagem a dramaticidade que a encenação exige do ator.

Marley, que já fizera o papel em outras oportunidades, entregou-se totalmente ao personagem, que além de João Bênnio fora por mais de 10 anos do ator Rodolfo Mayer, outro grande expoente do teatro brasileiro.

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