quinta-feira, 30 de abril de 2009

Minha história com o teatro

Meu primeiro contato com o teatro ocorreu no Instituto de Educação de Goiás, quando fazia o ginásio (ensino fundamental). Numa tarde qualquer, no auditório da escola, João Bênnio brindou a audiência, formada só centenas de meninas, com fragmentos da peça As Mãos de Eurídice, trabalho que durante muitos anos fez parte do seu repertório. Não sei se a intensa comunicação com a platéia ou a emoção que transbordava da magnífica interpretação do artista, me chamaram a atenção, muito mais do que o texto de Pedro Bloch, do que qual nunca ouvira falar.

Leitora assídua, eu ainda estava na fase de ler José de Alencar, Erico Veríssimo, Machado de Assis. As transgressoras Adelaide Carraro e Cassandra Rios, e a poesia de J.G. de Araújo Jorge, também fazia parte da nossa vida. Seus livros passavam de mão em mão como objetos proibidos.

Muito mais conhecido pela atuação no cinema, Bênnio nunca soube como tocou minha sensibilidade. Fiquei louca para ver o espetáculo inteiro. Não havia como... Eu morava longe, não tinha ônibus. Era difícil. No IEG, o que dominava mesmo era a música. Tínhamos uma banda (naquela época havia guitarra, bateria e até um piano à disposição das alunas). Liane Pimentel (onde andará?) tocava todos os instrumentos musicais e comandava o grupo. Música era disciplina obrigatória. Aprendíamos todos os hinos e músicas folclóricas. Teatro não fazia parte do currículo.

Professora
O tempo passou.Virei professora primária, formada no IEG. Fui fazer faculdade de Jornalismo, e trabalhar. O dinheiro era pouco. O que ganhava era para custear os estudos, ajudar em casa. O tempo era pouco e o fim de semana era reservado à correção de cadernos, de provas, elaboração de conteúdo, planejamento da semana e os trabalhos da faculdade. Passei muito tempo sem nem mesmo ir ao cinema.

Um dia fui ver Esperando Godot (Samuel Beckett), no Teatro Inacabado da AGT , com Eva Wilma e Lílian Lemmertz. Mal acomodada numa cadeira desconfortável, o calor infernal e uma companhia pouco afeita ao teatro, contribuíram para que eu não visse a “maravilha do impecável texto de Beckett e a interpretação magnífica das duas atrizes” que a crítica ressaltava. Depois disso, dei pouca atenção às artes cênicas. Planejava ser professora, e minha vida girava em torno da escola. Ensinar minhas crianças era um sonho que acalentava desde a infância.

Recordo-me de um garoto (André), de uns 9, 10 anos, que fazia seu próprio teatro na sala de aula. Criava os personagens, as historinhas, o cenário, e ele mesmo interpretava. Era um talento nato. Aquilo me encantava. Incentivei-o a escrever, a fazer o que gostava, envolvendo também os colegas. Mas, a vida dá muitas voltas. Paralelamente à carreira no ensino público, fui noutra direção. O jornalismo me absorveu completamente e não quis abdicar de nenhuma das duas funções: jornal e escola. Elas sempre caminharam juntas e dei tudo de mim para que dessem certo.

Sem descuidar das minhas crianças na Escola Municipal Leão de Ramos Caiado, no Setor Bueno, mergulhei de cabeça no jornalismo. Foram 10 anos sem feriados, sem descanso, noites mal dormidas por causa do excesso de trabalho. O tempo era curto para cuidar da casa, para prestar atenção no marido, no que ocorria a minha volta, em mim mesma. Me refugiava no trabalho. Não queria abrir mão de nada. Queria tudo, aprender o máximo. Cobrava muito de mim.

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