segunda-feira, 6 de março de 2017



A CASA DE BERNARDA ALBA


                                                  CORAÇÃO DAS TREVAS


A Casa de Bernarda Alba

 A Cia. de Teatro Sala 3 comemora 15 anos de existência produzindo três peças da trilogia rural do espanhol Federico Garcia Lorca. Yerma, a primeira encenação foi levada ao palco em 2016, abrindo as comemorações, organizada pelo diretor Altair de Souza. A segunda, A Casa de Bernarda Alba estreou dia 17 de fevereiro, no Teatro Goiânia. A peça ficou três dias em cartaz, e agora retorna ao palco para uma apresentação, dia 07/03, às 20 horas, no Teatro Goiânia,  nos festejos do Dia da Mulher. Obra prima do grande poeta e dramaturgo, morto pela ditadura de Francisco Franco, em 1936, Bodas de Sangue, ainda sem data fixada, deverá encerrar o ciclo. 


Altair cuidou de cada detalhe, a fim de fazer do espetáculo um grande momento da sua companhia. Para a montagem de A Casa de Bernarda Alba, Altair de Souza captou recursos das Leis Municipal e Goyazes de Incentivo à Cultura. A esmerada produção exigiu ampla pesquisa, muito estudo de texto e  extensa ficha técnica, que incluiu preparação vocal, aulas de canto, dança flamenca, confecção de adereços cênicos. Altair convidou o ator Bruno Peixoto para preparar o elenco feminino, formado por Lívia Vergara, Graciela de Paula, Ana C. Amanda Constantino, Malu Nunes e Camila Borges. As aulas de canto foram ministradas pela professora Sheila de Paiva. A iluminação ficou por conta de Rodrigo Assis e a cenografia com Daniel Herrero.  Dieferson Gomes cuidou do figurino e do visagismo.  O musicista e professor Sérgio de Paiva selecionou a trilha sonora baseada nas canções espanholas. Dançarina de flamenco e professora, Renata Paolucci deu aulas de dança para o elenco e desenhou as coreografias.   Paulinho Pessoa fez a preparação visual. 


Clássico da dramaturgia, encenada no mundo inteiro, A Casa de Bernarda Alba ganhou produção goiana à altura da sua importância. O diretor levou captou com a máxima fidelidade do universo sombrio e opressivo da Espanha franquista, conservadora, rural e subdesenvolvida no início do século XX. Escrita em 1936, Garcia Lorca fez de A Casa de Bernarda Alba uma metáfora dos anos de repressão, fome e miséria da Espanha, onde a igreja exercia uma enorme influência sobre a população e os valores morais e espirituais eram rigorosos. Pouco depois, o dramaturgo seria fuzilado devido as suas posições políticas.  


Mãe de Angústias, Martírio, Madalena e Adele, a matriarca Bernarda Alba exercia grande poder sobre as moças com idades entre 20 e 39 anos, todas solteiras. Orgulhosa e rabugenta,  ela achava que não havia homem no povoado à altura das filhas.  Logo após o enterro do marido, a tirana tranca as moças dentro de casa e as proíbe de sair, manter contato com o mundo exterior, incluindo também a mãe velha e louca. Impõe luto fechado de oito anos. Acorrentadas, amordaçadas, sem chances de viver a própria vida, os conflitos não tardam a aparecer.  


Bernarda mantém a casa sob estreita vigilância. Filha do primeiro casamento da mãe, Angústias é a única que possui bens herdados do pai. Considerada velha e feia, é noiva de Pepe Romano, rapaz bem mais jovem que ela.  As irmãs não se conformam de sabê-la casada. Pepe Romano acaba sendo o pivô da confusão que se arma dentro da família, passando a ser disputado pelas três outras irmãs.  A caçula Adele tem sede de amor, de liberdade. Não demora a revoltar-se com a situação em que vive. Acaba seduzida por Pepe Romano, sua  paixão alucinada. O rapaz também não perde tempo. Envolve-se também com Martírio. Mesmo debaixo do olhar repressor da mãe, o confronto entre as irmãs é inevitável. Mas, a arrogante Bernarda não percebe a tensão entre as filhas até ser alertada pela criada, que tudo vê, e sabe bem o que se passa dentro do quarto de cada uma delas. 


Beleza visual

A encenação de Altair de Souza enche os olhos de tão bonita: figurino em tons negro e vermelho, correntes, adereços escuros, direção focada, iluminação que dá ao ambiente um clima sombrio como o coração das moças subjugadas pela mãe. Um pequeno retrato da  Espanha no tempo de Lorca. Altamente criativo, Altair ousa nas suas produções. Mas diferentemente da carpintaria, não conseguiu extrair do elenco a intensidade dramática exigida pelo texto. O mesmo acontecera com Yerma, a produção caprichada do diretor, que abriu a trilogia. 


 Ex-garoto revelação do teatro nos anos 1990, Altair de Souza estudou Artes Cênicas na UniRio, e desde suas primeiras produções demonstrou talento para os espetáculos de impacto, e preferência pela dramaturgia clássica.  Pelo elogiável esforço do diretor, a beleza visual e musical da produção, e a fidelidade ao texto de Lorca, o espetáculo A Casa de Bernarda Alba merece ser visto.  



Serviço

Espetáculo: A Casa de Bernarda Alba

Texto: Federico Garcia Lorca

Direção: Altair de Souza Jr.

Elenco: Cia. de Teatro Sala 3 – 15 anos

Data: 7 de março (terça)

Horário: 20 horas

Local: Teatro Goiânia (Av. Tocantins, esq. c/ Rua 23, Centro. Telefone: 3201-4685)

Entrada fraca

Classificação etária: 10 anos

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