LÁGRIMAS DE UM GUARDA-CHUVA
Tristezas cotidianas e misérias
humanas expostas no picadeiro
Bruno Peixoto como o palhaço Sansão |
Quando
se entra no teatro, a primeira impressão que se tem é já ter visto tudo aquilo:
cenário, figurino, música, atores mirando o vazio como se nada a sua volta
existisse. Enquanto os espectadores se
acomodam na plateia, o elenco da peça Lágrimas de Um Guarda-Chuva, a mais
recente produção do Grupo Arte & Fatos, da Coordenação de Arte e Cultura da
PUC Goiás, vai dando mostras do que vem a seguir.
Uma
carroça puxada por uma mulher maltrapilha carregando um velho palhaço insolente
e desbocado chega a um lugarejo dizimado pela cólera. Trata-se de uma companhia de circo mambembe daquelas que
antigamente circulavam pelos sertões
empoeirados das cidades do interior. Naquele lugar inóspito, só há solidão e silêncio.
É difícil
não fazer comparação com outras montagens do diretor Danilo Alencar: Balada de
um Palhaço e Os Avessos. Escrita pelo
mineiro Eid Ribeiro, que ao assistir uma apresentação de Balada de um Palhaço ofereceu o texto a Danilo
Alencar, Lágrimas de um Guarda-Chuva aborda temas das duas peças anteriores: exploração do
mais fraco, solidão, desamparo, pobreza, ignorância. Mesmo o tema não sendo inédito , a história tem agilidade, prendendo
a atenção do espectador do começo ao fim.
Sansão
explora a destrambelhada Angelina, que no circo faz o papel de Zambê, a mulher macaco. A relação de Angelina
com Sansão é ambígua. Não se sabe bem se é casada com o velho palhaço, se é sua
criada, ou filha. Pobres e desiludidos,
eles tentam conseguir um pequeno público. Mas, de nada adianta o esforço.
Três
cegos andarilhos, o pai Sebastião e os filhos Serafim e Severino, chegam à
cidade sujos e maltrapilhos. O esperto
Sansão quer tirar vantagem e arrancar dinheiro dos cegos. Então oferece Zambê
para os filhos de Sebastião conhecerem o
amor. O pai nega, e logo pega a estrada
levando os filhos. A curiosidade de conhecer mulher,
acaba em tragédia. Sobrevivente
da cólera, Carmelo surge no contexto da história para virar o jogo. Vestido de
rei, ele oferece sua coroa a Sansão. Apesar do universo circense pressupor
alegria e diversão, Lágrimas de um Palhaço expõe as tristezas cotidianas e as
misérias humanas, os absurdos da vida, os
desvios de caráter, e a decadência física e moral.
O
diretor Danilo Alencar utilizou recursos
já empregados em montagens anteriores, o que não invalida o espetáculo. Cenários, figurinos, iluminação e trilha
sonora se assemelham a peças anteriores.
Atores
experientes, Bruno Peixoto (Sansão), Rita Alves (Angelina/Zambê), Leopoldo
Rodrigues (Carmelo), Norval Berbari, André Larô e Caco Rodrigues (Cegos) formam
um elenco coeso, integrado, passando
veracidade às interpretações.
Espetáculo bom de ver.