terça-feira, 6 de agosto de 2013

ALDEIA DIABO VELHO


                        CONFISSÕES SOBRE O TRAVESSEIRO
Ana Paula Paredes
                                                                                                                                                   
Duas estreias despertaram a minha  atenção na segunda edição do festival Aldeia Diabo Velho – Território Livre das Artes, promovido pelo SESC, por tratar-se de novos espetáculos de  grupos importantes e premiados da cena teatral  de Goiás. Dirigido por Danilo Alencar, o Grupo Arte & Fatos estreou Travesseiro, espetáculo solo com a atriz Ana Paula Paredes. Já o Grupo Sonhus Ritual ocupou o palco do Centro Cultural da UFG,  com A Força da Terra, sob a direção do conceituado Hugo Rodas.

Travesseiro é um texto inédito de Danilo Alencar, autor de  Balanço, A Clara do Ovo e  outros textos dignos de prêmios . Inquieto como ele só, o autor ousa entrar no universo particular da  jovem Violeta, que na solidão de seu quarto faz confidências reveladoras ao travesseiro. Seu mundo nada tem de cor de rosa. Violeta, a menina que tem nome de flor como todas as mulheres de sua família, não é desequilibrada, não é louca. É apenas uma menina, como tantas outras, vítima de um pai mau caráter, sofrida, com feridas profundas na alma, e que precisa de ajuda.  No decorrer da narrativa, ela vai rememorando alegrias e infortúnios, confidenciando ao seu “fiel” amigo os segredos guardados a sete chaves. Juntando os cacos dos sonhos que se quebraram como o espelho do quarto.

Quarto de Violeta

 Violeta contextualiza fatos históricos para falar da família que veio de Portugal na época da ditadura militar. Chora o assédio do pai  ocorrido na infância. Violeta vive um drama não revelado, ainda tratado de forma velada pelas famílias. Mas, o que incomoda na Violeta criada por Danilo Alencar é sua passividade diante da dor, a sutileza para falar de um problema, a forma comedida como ela expõe suas fragilidades. Ela chega a se compadecer do pai “canalha”, dizendo que quer trabalhar para pagar-lhe um tratamento quando terminar a faculdade, pois o considera doente. Doente, sim, mas impune. Talvez seja esse o ponto que incomoda no texto.   O filme da vida de Violeta carece de profundidade.

 A interpretação da atriz Ana Paula Paredes é verossímil. Danilo Alencar conduz o trabalho dirige com a segurança que ele merece.   Ney Couteiro fez um belo trabalho criando uma trilha sonora a partir de canções de autoria do próprio Danilo Alencar gostosa de ouvir na voz de Sabah Moraes e Luiz Augusto. Cláudio Livas desenhou um figurino condizente com a personagem romântica e sonhadora. Wagner Gonçalves acertou nas molduras de quadros e nos móveis brancos da cenografia. 


ELEMENTO TERRA

A Força da Terra


O Grupo Sonhus Ritual  aposta na terra como elemento principal do seu novo espetáculo A Força da Terra, sob a direção do conceituado Hugo Rodas. Convidado pelo grupo, formado por Nando Rocha, Pablo Angelino, Ilka Portela e Jô de Oliveira, Hugo esforçou-se para dar ritmo à montagem e fugir da monotonia do butô, a dança criada pelo japonês Kazuo Ono, que o grupo tem investido em praticamente todas as suas produções.

O Teatro Físico é a aposta da vez  aliado às belas imagens  do filme Vidas Secas, de Nelson Pereira dos Santos, baseado na obra de Graciliano Ramos, na qual Hugo Rodas inspirou-se para quebrar a rigidez  da peça.  A Força da Terra  foi reforçada na cenografia,  nas imagens e nas coreografias também criadas por Hugo Rodas. Há momentos realmente interessantes como as imagens distorcidas projetadas em uma enorme rede,  o parto da criança esfomeada, o homem e seu  cachorro, só para citar alguns.

Mas o espetáculo não é de fácil assimilação.  A direção não conseguiu dar unidade às cenas, o enredo ficou confuso,  dificultando o entendimento  do enredo.  As imagens são bonitas, a cenografia  interessante. Infelizmente  “os sonhos” da força da terra   engolindo  o homem,  não me convenceu . 

Fotos: Layza Vasconcelos


       

        

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