ALDEIA DIABO VELHO
CONFISSÕES SOBRE O TRAVESSEIRO
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Ana Paula Paredes |
Duas estreias despertaram a minha atenção na segunda edição do festival Aldeia
Diabo Velho – Território Livre das Artes, promovido pelo SESC, por tratar-se de
novos espetáculos de grupos importantes
e premiados da cena teatral de Goiás.
Dirigido por Danilo Alencar, o Grupo Arte & Fatos estreou Travesseiro,
espetáculo solo com a atriz Ana Paula Paredes. Já o Grupo Sonhus Ritual ocupou
o palco do Centro Cultural da UFG, com A
Força da Terra, sob a direção do conceituado Hugo Rodas.
Travesseiro é um texto inédito de Danilo Alencar, autor
de Balanço, A Clara do Ovo e outros textos dignos de prêmios . Inquieto
como ele só, o autor ousa entrar no universo particular da jovem Violeta, que na solidão de seu quarto
faz confidências reveladoras ao travesseiro. Seu mundo nada tem de cor de rosa.
Violeta, a menina que tem nome de flor como todas as mulheres de sua família,
não é desequilibrada, não é louca. É apenas uma menina, como tantas outras,
vítima de um pai mau caráter, sofrida, com feridas profundas na alma, e que
precisa de ajuda. No decorrer da
narrativa, ela vai rememorando alegrias e infortúnios, confidenciando ao seu
“fiel” amigo os segredos guardados a sete chaves. Juntando os cacos dos sonhos
que se quebraram como o espelho do quarto.
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Quarto de Violeta |
Violeta contextualiza
fatos históricos para falar da família que veio de Portugal na época da
ditadura militar. Chora o assédio do pai ocorrido na infância. Violeta vive um drama
não revelado, ainda tratado de forma velada pelas famílias. Mas, o que incomoda
na Violeta criada por Danilo Alencar é sua passividade diante da dor, a sutileza
para falar de um problema, a forma comedida como ela expõe suas fragilidades.
Ela chega a se compadecer do pai “canalha”, dizendo que quer trabalhar para
pagar-lhe um tratamento quando terminar a faculdade, pois o considera doente.
Doente, sim, mas impune. Talvez seja esse o ponto que incomoda no texto. O filme
da vida de Violeta carece de profundidade.
A interpretação da
atriz Ana Paula Paredes é verossímil. Danilo Alencar conduz o trabalho dirige
com a segurança que ele merece. Ney Couteiro fez um belo trabalho criando uma
trilha sonora a partir de canções de autoria do próprio Danilo Alencar gostosa
de ouvir na voz de Sabah Moraes e Luiz Augusto. Cláudio Livas desenhou um
figurino condizente com a personagem romântica e sonhadora. Wagner Gonçalves acertou
nas molduras de quadros e nos móveis brancos da cenografia.
ELEMENTO TERRA
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A Força da Terra |
O Grupo Sonhus Ritual aposta na terra como elemento principal do seu
novo espetáculo A Força da Terra, sob a direção do conceituado Hugo Rodas.
Convidado pelo grupo, formado por Nando Rocha, Pablo Angelino, Ilka Portela e
Jô de Oliveira, Hugo esforçou-se para dar ritmo à montagem e fugir da monotonia
do butô, a dança criada pelo japonês Kazuo Ono, que o grupo tem investido em
praticamente todas as suas produções.
O Teatro Físico é a aposta da vez aliado às belas imagens do filme Vidas Secas, de Nelson Pereira dos
Santos, baseado na obra de Graciliano Ramos, na qual Hugo Rodas inspirou-se
para quebrar a rigidez da peça. A Força da Terra foi reforçada na cenografia, nas imagens e nas coreografias também criadas
por Hugo Rodas. Há momentos realmente interessantes como as imagens distorcidas
projetadas em uma enorme rede, o parto
da criança esfomeada, o homem e seu cachorro, só para citar alguns.
Mas o espetáculo não é de fácil assimilação. A direção não conseguiu dar unidade às cenas,
o enredo ficou confuso, dificultando o
entendimento do enredo. As imagens são bonitas, a cenografia interessante. Infelizmente “os sonhos” da força da terra engolindo o homem, não me convenceu .
Fotos: Layza Vasconcelos