quinta-feira, 11 de abril de 2013

NO FRINGE PODE ESTAR AS MELHORES PEÇAS



Peripécia Teatro - Portugal

Dentre a infinidade de peças em cartaz dentro do Fringe, destaco três 1325, Resíduo Drummond e Pólvora e Poesia. O título pode parecer estranho. Mas 1325 tem um significado especial. Trata-se do número da Resolução do Conselho de Segurança das Nações Unidas, que exorta os estados membros a inclusão das mulheres na construção e manutenção da paz no mundo. Livremente inspirado na obra coletiva 1325 Mujeres Tejiendo la Paz, dirigida por Manuela Mesa Peinado, editada pela Fundación Cultura de Paz (Madri), o espetáculo da Peripécia Teatro, de Portugal. A criação teatral dos atores Ángel Fragua, Noelia Dominguez e Sérgio Agostinho destaca, sob o olhar feminino, os conflitos armados em países da África, Oriente Médio e Europa.

Construído com 1325 peças de roupas velhas amarradas como se fossem almofadas, os objetos vão sendo arrumadas no palco como se fosse o mapa de cada país. O sofrimento das mulheres subjugadas, violentadas, desprezadas, que veem seus filhos morrerem todos os dias é o foco principal da peça que esteve em Portugal, Argentina e São Paulo, antes de chegar a Curitiba. Sensível e tocante, a peça destaca a atuação da polonesa que salvou 2.500 crianças judias do gueto de Varsóvia na Segunda Guerra Mundial. “O que seria da África sem suas mulheres” perguntam os atores. Elas são responsáveis pelo sustento da casa, pelo cuidado com as crianças, enquanto os maridos lutam nos inúmeros conflitos pela terra. Guerras no Oriente Médio, preconceito, violência em outras partes do mundo também compõem o emocionante relato teatral dos portugueses, relegados ao pequeno teatro da Universidade Federal do Paraná.

Uma das sete peças da Mostra Baiana no Fringe selecionadas pelo ator Wagner Moura, Pólvora e Poesia narra o confronto entre a razão, a paixão e a vida desregrada de dois dos maiores poetas franceses: Arthur Rimbaud e Paul Verlaine. A dramaturgia de Alcides Nogueira traz à tona o conturbado romance de duas fortes personalidades. Dirigidos por Fernando Guerreiro, os atores Caio Rodrigo e Talis Castro seguram muito bem o embate de Rimbaud/Verlaine recheado de paixão, culpa, rebeldia e desprezo.

Baseado na obra de Carlos Drummond de Andrade, Resíduo Drummond foge ao esquema convencional da simples declamação. O ator Maurício Soares Filho recortou poemas, crônicas e contos que traduzem a perplexidade do poeta mineiro diante do mundo. Maurício interpreta cada verso com muita autenticidade, utiliza bem a luz, os sons, e objetos cênicos, instigando o espectador a vivenciar cada história. Projeções de slides com matérias publicadas em jornais cariocas pelo autor, como a de uma enchente no Rio de Janeiro que desabrigou centenas de pessoas, servem como pano de fundo para o ator que esmera no seu papel de intérprete. Responder Encaminhar





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