quinta-feira, 11 de abril de 2013

FESTIVAL DE TEATRO DE CURITIBA 2013



Gregório Duvivier

ESPAÇO PARA TODOS OS GÊNEROS TEATRAIS

Na Semana Santa fui ao Festival de Teatro de Curitiba como faço desde 1997. Foram poucos dias, mas de grande proveito, pois lá tenho a oportunidade de ver de perto o burburinho e a movimentação do maior evento de teatro da América Latina. Vitrine ampla e diversificada, o festival permite ao espectador assistir a todos os gêneros teatrais (comédia, drama, tragédia, infantil, improviso, dança, rua) as experimentações e o repertório de novos dramaturgos. Isso sem as mostras que este ano contemplou a Bahia. Há espaço para tudo e todos, venham e onde vierem. A diversidade é imensa. É difícil escolher os espetáculos.

A 22ª edição do Festival de Curitiba reuniu de 28 de março a 7 de abril, 32 espetáculos na Mostra Oficial (nove estreias), selecionados pelos curadores Celso Cury, Tânia Brandão e Lúcia Camargo, especialistas e críticos. No Fringe, mostra paralela que abre espaço para coletivos de todo o País e do exterior, foram cerca de 400 peças apresentadas em teatros, praças, avenidas, parques e outros espaços da cidade.

Todas as vertentes teatrais estão se encontram e são representadas democraticamente. Muitos atores e diretores vão na esperança de abrir novos caminhos para seus trabalhos. Há de tudo no Fringe: textos consagrados, produções experimentais e inovadoras, fábulas, monólogos, e outras possibilidades artísticas. Não há competição. O que importa é estar em cartaz, ser visto , comentado.

Apesar do pouco tempo, pude assistir a um bom número de espetáculos. Entre os que gostei da Mostra Oficial estão Uma Noite Na Lua, A Marca da Água e O Espelho. Deixaram muito a desejar A Arte e a Maneira de Abordar Seu Chefe Para Pedir um Aumento, de Marco Nanini e Hamlet, do Grupo de Teatro Clowns de Shakespeare, de Natal (RN).

Com dramaturgia, música original, iluminação e direção de João Falcão, Uma Noite na Lua é considerado um dos melhores espetáculos do pernambucano. Foi produzido pela primeira vez pelo ator Marco Nanini em 1998. Para a remontagem, o convidado é o jovem ator Gregório Duvivier. Trata-se da história de um dramaturgo sem nenhum título publicado que luta para concluir uma peça. Desesperado, ele não sabe como começar o texto. Conversa o tempo todo com a mulher Berenice em busca de inspiração. Mas, Berenice é apenas um personagem fictício. Talentoso, Duvivier segura bem a solidão do personagem interagindo com a luz e a música, seus personagens imaginários. Imperdível.

Sucesso da Armazém Cia. De Teatro, uma das mais importantes companhias do País, A Marca da Água, de Maurício Arruda Mendonça e Paulo de Moraes, resgata memórias de uma forma surreal. O texto remete as lembranças de tragédias familiares. Aos 40 anos, Laura (Patrícia Selonk em ótima atuação) é surpreendida por um enorme peixe no jardim de sua casa. O episódio desencadeia em Laura sintomas de uma antiga doença neurológica, potencializada por uma música que está apenas na sua cabeça. Bem produzida, bem dirigida por Paulo de Moraes, a peça arrebata o espectador.

O Espelho


Concepção , dramaturgia e direção de Cristiane Zuan Esteves, o espetáculo O Espelho mexe com as emoções e lembranças de infância de atores e espectadores. Montada ao ar livre no Parque do Papa João Paulo II, a peça é apresentada como um gostoso piquenique. Enquanto os convidados degustam as guloseimas do café da tarde (bolos, biscoitos, chá, café) as atrizes iniciam a conversa descontraidamente. São memórias da casa da vovó, os cheiros, os encontros familiares, as brincadeiras infantis, o perfume do jardim como as fotos antigas dos álbuns amarelados pelo tempo. Tudo dentro de uma atmosfera de encantamento. O texto vai sendo costurado por cada uma delas com suas próprias recordações. Impossível o espectador ficar indiferente ao seu próprio universo familiar, e contextualizar a sua própria vivência. Músicas antigas servem de fundo musical. Com simplicidade Cristiane Zuan construiu um espetáculo emocionante, envolvente. Lindo mesmo.

NADA BOM


Marco Nanini

O mesmo não se pode dizer do espetáculo A Arte e a Maneira de Abordar Seu Chefe para Pedir um Aumento, de Georges Perec. Um dos grandes atores de teatro, do cinema e da TV, Marco Nanini está muito acima do texto repetitivo e chato de Perec. Dirigido por Guel Arraes, o espetáculo tem um cenário interessante, projeções em vídeo e agilidade. Mas, não é só o título que remete a uma palestra de autoajuda. O texto daquelas que a gente foge de tão chata. Mas é sempre bom ver Nanini no palco.

Em 2011, o Grupo de Teatro Clowns de Shakespeare, de Natal (RN) surpreendeu o Festival de Teatro de Curitiba com a peça Ricardo III, clássico de Shakespeare adaptado para a rua. Dirigido por Gabriel Vilela, a produção ganhou linguagem popular e figurinos de encher os olhos. Este ano, o grupo retornou ao festival com Hamlet, o clássico dos clássicos do bardo inglês, sob a direção de Márcio Aurélio. Com um texto mais enxuto, linguagem moderna, figurinos e cenários atuais, o Hamlet contemporâneo do grupo potiguar não emplacou. Dava a impressão que os atores não se adaptaram ao palco italiano do Teatro Bom Jesus.

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