Gregório Duvivier |
ESPAÇO PARA TODOS OS GÊNEROS TEATRAIS
Na Semana Santa fui ao Festival de Teatro de Curitiba como faço desde 1997. Foram poucos dias, mas de grande proveito, pois lá tenho a oportunidade de ver de perto o burburinho e a movimentação do maior evento de teatro da América Latina. Vitrine ampla e diversificada, o festival permite ao espectador assistir a todos os gêneros teatrais (comédia, drama, tragédia, infantil, improviso, dança, rua) as experimentações e o repertório de novos dramaturgos. Isso sem as mostras que este ano contemplou a Bahia. Há espaço para tudo e todos, venham e onde vierem. A diversidade é imensa. É difícil escolher os espetáculos.
A 22ª edição do Festival de Curitiba reuniu de 28 de março a 7 de abril, 32 espetáculos na Mostra Oficial (nove estreias), selecionados pelos curadores Celso Cury, Tânia Brandão e Lúcia Camargo, especialistas e críticos. No Fringe, mostra paralela que abre espaço para coletivos de todo o País e do exterior, foram cerca de 400 peças apresentadas em teatros, praças, avenidas, parques e outros espaços da cidade.
Todas as vertentes teatrais estão se encontram e são representadas democraticamente. Muitos atores e diretores vão na esperança de abrir novos caminhos para seus trabalhos. Há de tudo no Fringe: textos consagrados, produções experimentais e inovadoras, fábulas, monólogos, e outras possibilidades artísticas. Não há competição. O que importa é estar em cartaz, ser visto , comentado.
Apesar do pouco tempo, pude assistir a um bom número de espetáculos. Entre os que gostei da Mostra Oficial estão Uma Noite Na Lua, A Marca da Água e O Espelho. Deixaram muito a desejar A Arte e a Maneira de Abordar Seu Chefe Para Pedir um Aumento, de Marco Nanini e Hamlet, do Grupo de Teatro Clowns de Shakespeare, de Natal (RN).
Com dramaturgia, música original, iluminação e direção de João Falcão, Uma Noite na Lua é considerado um dos melhores espetáculos do pernambucano. Foi produzido pela primeira vez pelo ator Marco Nanini em 1998. Para a remontagem, o convidado é o jovem ator Gregório Duvivier. Trata-se da história de um dramaturgo sem nenhum título publicado que luta para concluir uma peça. Desesperado, ele não sabe como começar o texto. Conversa o tempo todo com a mulher Berenice em busca de inspiração. Mas, Berenice é apenas um personagem fictício. Talentoso, Duvivier segura bem a solidão do personagem interagindo com a luz e a música, seus personagens imaginários. Imperdível.
Sucesso da Armazém Cia. De Teatro, uma das mais importantes companhias do País, A Marca da Água, de Maurício Arruda Mendonça e Paulo de Moraes, resgata memórias de uma forma surreal. O texto remete as lembranças de tragédias familiares. Aos 40 anos, Laura (Patrícia Selonk em ótima atuação) é surpreendida por um enorme peixe no jardim de sua casa. O episódio desencadeia em Laura sintomas de uma antiga doença neurológica, potencializada por uma música que está apenas na sua cabeça. Bem produzida, bem dirigida por Paulo de Moraes, a peça arrebata o espectador.
O Espelho |
Concepção , dramaturgia e direção de Cristiane Zuan Esteves, o espetáculo O Espelho mexe com as emoções e lembranças de infância de atores e espectadores. Montada ao ar livre no Parque do Papa João Paulo II, a peça é apresentada como um gostoso piquenique. Enquanto os convidados degustam as guloseimas do café da tarde (bolos, biscoitos, chá, café) as atrizes iniciam a conversa descontraidamente. São memórias da casa da vovó, os cheiros, os encontros familiares, as brincadeiras infantis, o perfume do jardim como as fotos antigas dos álbuns amarelados pelo tempo. Tudo dentro de uma atmosfera de encantamento. O texto vai sendo costurado por cada uma delas com suas próprias recordações. Impossível o espectador ficar indiferente ao seu próprio universo familiar, e contextualizar a sua própria vivência. Músicas antigas servem de fundo musical. Com simplicidade Cristiane Zuan construiu um espetáculo emocionante, envolvente. Lindo mesmo.
NADA BOM
Marco Nanini |
O mesmo não se pode dizer do espetáculo A Arte e a Maneira de Abordar Seu Chefe para Pedir um Aumento, de Georges Perec. Um dos grandes atores de teatro, do cinema e da TV, Marco Nanini está muito acima do texto repetitivo e chato de Perec. Dirigido por Guel Arraes, o espetáculo tem um cenário interessante, projeções em vídeo e agilidade. Mas, não é só o título que remete a uma palestra de autoajuda. O texto daquelas que a gente foge de tão chata. Mas é sempre bom ver Nanini no palco.
Em 2011, o Grupo de Teatro Clowns de Shakespeare, de Natal (RN) surpreendeu o Festival de Teatro de Curitiba com a peça Ricardo III, clássico de Shakespeare adaptado para a rua. Dirigido por Gabriel Vilela, a produção ganhou linguagem popular e figurinos de encher os olhos. Este ano, o grupo retornou ao festival com Hamlet, o clássico dos clássicos do bardo inglês, sob a direção de Márcio Aurélio. Com um texto mais enxuto, linguagem moderna, figurinos e cenários atuais, o Hamlet contemporâneo do grupo potiguar não emplacou. Dava a impressão que os atores não se adaptaram ao palco italiano do Teatro Bom Jesus.
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