RETICÊNCIAS ...



 Não foi por acaso que o dramaturgo norte americano Eugene O´Neill determinou que a peça Longa Jornada Noite Adentro só fosse publicada 25 anos após a sua morte. Obra prima da dramaturgia, a peça retrata um dia na vida da sua própria família nos idos de 1912. Escrita em 1941, ela só foi publicada em 1956, depois de autorização da viúva de O´Neill. Em 1962, a peça, que originalmente tem quatro horas de duração, ganhou as telas do cinema, com Katherine Hepburn e Ralph Richardson, nos papéis centrais, sob a direção de Sidney Lumet.


Longa Jornada Noite Adentro ganhou adaptação do Grupo de Teatro Independente – GTI, dirigida pelo mexicano Ricardo Leal Velasco, projeto que o ator Bruno Peixoto acalentava há muito tempo. Patrocinado pela Lei Goyazes de Incentivo à Cultura, o espetáculo estreou no Espaço Quasar e fez quatro sessões. Bruno Peixoto cercou-se de profissionais experientes co mo Ivan lima, Adriana Veloso, Renata Caetano e André Srur para dividir o palco com ele.

Tudo é muito simples na encenação do GTI. Cenários, figurinos e iluminação estão muito aquém da sofisticação característica das famílias burguesas norte americanas do enredo original. A força da encenação está na história do ator James, da musicista Mary e seus dois filhos Júnior e Edmundo. Um texto forte, dramático, realista demais, que exige bons atores para interpretá-lo. O espaço remete à intimidade da sala de estar da residência.

Longa Jornada Noite Adentro ou Reticências... como prefere o diretor Ricardo Velasco expõe as mazelas da família, suas fraquezas e fracassos. Pai e filhos vivem a sua solidão interior e infelicidade encharcando-se de álcool, e a mãe Mary de morfina. As cenas são ágeis, o ritmo é intenso, assim como a vida tumultuada da família, que para completar tem uma empregada que bebe tanto quanto os patrões. Incapazes de mudar o rumo de suas vidas, eles se digladiam, bebem, escancaram suas desgraças, enquanto Ed, o caçula morre aos poucos de tuberculose.

Ivan Lima e Adriana Veloso: bons desempenhos

Atores experientes, Ivan Lima, Bruno Peixoto e Adriana Veloso vivem seus personagens com muita veracidade, apesar do pouco tempo que tiveram para ensaiar. Foram apenas 38 dias, entre a chegada do diretor a Goiânia e a estreia. Renata Caetano dá o toque de humor em meio ao caos, quebrando um pouco a dramaticidade das cenas.

Escrito há 70 anos, o texto de Reticências... continua atual. Mostra o cotidiano de uma família que muito bem poderia viver nos dias de hoje. Funciona bem na adaptação de Ricardo Velasco. Mas, divide opiniões...

Fotos: Dirce Vieira e Gilson P. Borges

"JORNALISTAS SÃO DE UMA IGNORÂNCIA ENORME"

"Jornalistas são de uma ignorância enorme", diz José Possi Neto ao Provocações

O diretor teatral José Possi Neto senta à frente de Antônio Abujamra no “Provocações” que vai ao ar nesta terça-feira (28/02), às 23h, na TV Cultura. Em programa inédito, ele fala sobre arte, musicais e alfineta a crítica de teatro. “Quem são os críticos? Eu não sei mais quem são. A grande maioria dos jornalistas hoje é de uma ignorância enorme”, observa.
Possi Neto assina a direção de Cabaret, musical em cartaz com Cláudia Raia no papel principal. Ao Provocações, ele revela que os atores são sua maior inspiração. Lembra, ainda, que grande parte de seus trabalhos tiveram mulheres protagonistas, entre elas Irene Ravache e Cristiane Torloni. “Nosso teatro é matriarcal”, pondera.

Em outro momento, o diretor aponta para uma queda na criatividade de produções recentes nos palcos e nos cinemas. “Todo mundo está com medo de ousar. Pretende-se algo diferente, mas fica todo mundo fazendo a mesma coisa”, diz. Ele ataca, sobretudo, as superproduções de ação. “Fica aquele supermercado de tanto sangue e as pessoas deliram com tanta espada, com tanta facada, com tanta cabeça cortada”, conclui.

Fonte: nwesletter@fabiotv.com.br