domingo, 12 de junho de 2011

SER TÃO GRANDE - GRUPO ARTES & FATOS


 “Deus mesmo, quando vier, que venha armado!”


Nome de destaque da dramaturgia brasileira, Renata Pallottini, 80 anos, fez duas adaptações marcantes da obra de João Guimarães Rosa para o teatro. A primeira, o conto Sarapalha, foi feita em 1961. Trechos de Sagarana, Corpo de Baile e Grande Sertão: Veredas, foram adaptados em 1969 para a diretora Theresa Aguiar encenar. Pallotini teve sua obra levada ao palco por grandes nomes do teatro como Ademar Guerra, José Rubens Siqueira, Márcia Abujamra, Gabriel Villela e muitos outros.

Apaixonado pela obra de Guimarães Rosa, o diretor Danilo Alencar, do Grupo Arte & Fatos, da Coordenação de Arte e Cultura da PUC Goiás, foi atrás de Renata Pallottini em São Paulo, onde ela mora, para adquirir os direitos das adaptações, que resultaram na montagem de Ser Tão Grande, levado ao palco do Teatro Católica, nos dias 30 de abril e 1º de maio. Era um sonho antigo, que finalmente foi concretizado. Foram quase dois anos de intenso trabalho do grupo até o resultado final chegar ao público assistiu em curta temporada.

Minuncioso como ele só, Danilo cuidou de cada detalhe. Fez várias leituras da obra do imortal mineiro com o grupo, selecionou o elenco entre atores profissionais e amadores pinçados das oficinas oferecidas pela própria universidade, compôs a trilha sonora com o violonista Ney Couteiro e se cercou de profissionais experientes para cuidar da produção. Ensaiou o espetáculo à exaustão. Fez quatro sessões especiais para professores no Teatro Sesi antes de sentir-se seguro para enfrentar a plateia. Todo o sacrifício compensou.

Com patrocínio do Prêmio Myriam Muniz da Funarte 2010, recriou no palco o universo sertanejo que Guimarães Rosa tão bem descreveu em sua obra. Personagens do sertão mineiro, baiano e goiano estabelecem confrontos de ideias, expõem seus costumes, suas leis e sua justiça de uma forma muito real, uma lindeza só, como diria Riobaldo.

Diferentemente do que se pensou a priori, não é preciso conhecer a obra do autor para entender o espetáculo. Dividida em atos – Miguilim, Sarapalha e Grande Sertão: Veredas –, a montagem permite ao espectador conhecer um pouco de cada história tão bem ilustrada pelo cenário, o figurino, a iluminação, o palavreado sertanejo e a música que costura os quadros e complementam a narrativa.

Como um triste lamento, o berrante acorda o sertanejo para a lida, dura como o chão seco do sertão. A morte está sempre à espreita no mundo do sertanejo, seja pela mão dos jagunços seja pelas doenças. As leis são ditadas pelos coronéis e a justiça é democrática. Todos podem dar o seu veredicto. Tudo tem uma razão de ser dentro do espetáculo, considerado uma ousadia pelo jornalista Rogério Borges, do Popular.

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