segunda-feira, 1 de novembro de 2010

9º FESTIVAL DE ARTES CÊNICAS GOIÂNIA EM CENA


Produções de teatro, dança, circo e ópera marcou a nona edição do Festival Internacional de Artes Cênicas Goiânia em Cena, realização da Secretaria Municipal de Cultura em parceria com a UniversidadeFederal de Goiás, que terminou com a apresentação do premiado monólogo Clarice, da atriz Beth Goulart. Vinte e dois espetáculos de grupos de Goiânia, Minas, Bahia, Pernambuco, Rio Grande do Sul, Chile e Argentina participaram do evento, que a cada ano supera o número de espectadores. Consolidado como o principal evento das artes cênicas em Goiás, o Goiânia em Cena tem contribuido para a formação de plateia, o aprimoramento de atores, produtores e técnicos, o estímulo ao debate e à qualidade das produções locais.



Considerado o melhor espetáculo da edição 2010, Balanço, monólogo escrito por Danilo Alencar especialmente para o ator Bruno Peixoto, reflete o bom nível do trabalho feito pelos atores goianos.

Uma das melhores produções de 2009, a premiada peça Simplesmente Eu, Clarice Lispector, da atriz Beth Goulart, lotou o Teatro Esperança Garrido e encerrou o festival em grande estilo. Baseado em entrevistas, vivências e textos famosos da consagrada autora de A Hora da Estrela, o monólogo é um dos momentos importantes da vida da atriz carioca, que esmerou-se na composição do personagem.

Beth transforma-se em Clarice à perfeição: a elegância, a maneira empostada de falar com a língua presa e a emoção visceral da escritora que morreu aos 56 anos. Não há como não admirar a deslumbrante cenografia de Ronald Teixeira e Leobruno Gomes , o figurino impecável das décadas de 1950/1960 desenhado por Beth Filipeck, a iluminação de Maneco Quinderé e o desempenho da atriz, que contou com a supervisão de Amir Haddad. Com Simplesmente Eu, Beth Goulart conquistou o Prêmio Shell 2009 e o da Associação dos Produtores Teatrais do Rio de Janeiro 2010 de melhor atriz.
Foto: Layza Vasconcelos

MOMENTO LÍRICO NO GOIÂNIA EM CENA



Desde 2009 quando passou a fazer parte da programação do Festival de Artes Cênicas – Goiânia em Cena, o Momento Lírico tem sido um dos pontos altos do evento realizado pela Secretaria Municipal de Cultura. Sob a regência do maestro Norton Morozowicz, o concerto no Teatro Esperança Garrido, reuniu no penúltimo dia do festival estrelas do canto lírico goiano, que arrebataram a plateia com interpretações impecáveis do repertório escolhido a dedo pelo maestro. A novidade desta edição foi a presença do ator Duka Rodrigues como mestre de cerimônias. Com muito charme e a desenvoltura do bom ator que é ele falou sobre cada autor e sua composição. Trata-se de um importante recurso didático que facilita a compreensão de quem pouco ou nada conhece de ópera.

Regente da Orquestra Sinfônica de Londrina (PR) convidado especial do Goiânia em Cena, Morozowicz sabe o que agrada o público, que ainda não está acostumado com o canto lírico. Selecionou para a noite composições de Carlos Gomes, Villa-Lobos, Puccini, Verdi, e contemporâneos como Leonard Bernstein, Andrew Lloyd Webber, R.Rodgers, F. Sartori e H.Arlen. São músicas de forte apelo, consagradas na interpretação de grandes astros.

Com um número maior de músicos e um coro afinado, a Orquestra de Goiânia acompanhou as sopranos Elayne Casehr e Danielle Nastri ( talento que desponta no canto lírico com sua bela voz e domínio cênico) e o tenor Miguel Geraldi em suas interpretações arrebatadoras do dueto Cecy e Pery da ópera Il Guarani, de Carlos Gomes, árias das óperas La Bohème, Tosca e Gianni Schicchi, de Puccini, La Traviata, Rigoletto e Il Trovatore, de Verdi. Elayne Casehr abrilhantou a noite operística com a impecável interpretação de Melodia Sentimental de Villa-Lobos e Daniele Nastri mostrou toda a sua competência vocal cantando uma coletânea para orquestra dos musicais West Side Story e Candide, do norte-americano Bernstein, e O Mágico de Oz, de H. Arlen. O arremate final uniu as três belas vozes em The Sound of Music (R.Rodgers), My Fair Lady (F.Loewe), Con Te Parirò (F.Sartori) e Amigos Para Sempre (A.L.Webber).

O Momento Lírico é uma ótima oportunidade para o canto lírico de Goiás, onde há cantores e músicos de grande valor.
Foto: Layza Vasconcelos

BALÉ DO TEATRO CASTRO ALVES


O coreógrafo Henrique Rodovalho surpreende mais uma vez ao explorar na dança vivências, atitudes, sentimentos e emoções. Com muita sensibilidade, ele criou especialmente para o Balé do Teatro Castro Alves, da Bahia, o espetáculo inédito A Quem Interessar Possa, levando em conta a experiência de cada bailarino. Formado por intérpretes da dança com idade entre 35e 55 anos, o grupo de 23 bailarinos narra no palco suas próprias experiências de vida, gostos pessoais, o seu cotidiano. Gravados em áudio, os depoimentos se transformam em gestos e expressões cênicas cheias de significados.
Henrique passou 40 dias em Salvador e voltou para Goiânia sentindo-se um “quase” baiano, segundo revelou no regresso. Do contato diário com os bailarinos, extraiu histórias de vida alegres, às vezes tristes, algumas divertidas, outras nem tanto, e inseriu na coreografia, que é muito mais do que um simples espetáculo de dança, pois é teatral e também musical.
Envolvente, instigante, A Quem Interessar Possa tem muito de nós mesmos. Assuntos banais manipulados com muita habilidade se transformaram em um roteiro recheado de humor e irreverência, fato que não é inédito na carreira do coreógrafo que já traduzira os sentimentos e e as vivências cotidianas dos idosos da Vila Vida, localizada na Vila Mutirão, em Goiânia. Gravados em vídeo, os depoimentos dos velhinhos emocionam pela sinceridade. Uma vez mais Rodovalho surpreende ao explorar um tema que mexe com sentimentos e intimidades e acerta uma vez mais.

Foto: Layza Vasconcelos