"Eu como repórter de um tempo mau, fiz a terra tremer" (Plínio Marcos)
A obra do dramaturgo Plínio Marcos sempre foi alvo de polêmica. Autor de textos consagrados como Barrela, Navalha na Carne e Dois Perdidos Numa Noite Suja, ele retratou a realidade nua e crua do submundo e da marginalidade. Dizia fazer teatro para incomodar, para tirar o público do seu sossego. Plínio incomodou, sobretudo a censura.
Suas peças eram censuradas antes mesmo de ser encenadas. O Abajur Lilás foi uma delas. Escrita em 1969, só estreou em 1980, sob a direção de Fauzi Arap, com elenco formado por Walderez de Barros, Cláudia Mello, Anamaria Dias, José Fernandes de Lyra e Zé Carlos Cardoso. A produção, assinada por Antônio Fagundes e Clarisse Abujamra, ganhou críticas favoráveis e temporada muito comentada em São Paulo.
Com o objetivo de resgatar a obra de Plínio Marcos, o Grupo Imagens de Teatro, de Fortaleza (CE) iniciou o projeto Plínio Marcos – Trilogia com o0 espetáculo O Abajur Lilás, uma peças concorrentes do 2º Festival Nacional de Teatro de Goiânia, que teve sessão única, no sábado, no Centro Cultural Martim Cererê. Com 40 minutos de atraso, a encenação foi realizada no sábado, às 22h40, no Teatro Yguá, transformado na boate Leite da Mulher Amada e no bordel de Giro.
Escrita em plena ditadura militar, O Abajur Lilás retrata uma época de muita opressão e tortura. Plínio usou o universo marginal de um prostíbulo para falar de repressão. As prostitutas Dilma, Célia e Leninha são suspeitas de quebrar o abajur lilás do cafetão Giro. A mando de Giro, as três são torturadas por Osvaldo. Como nenhuma revela quem quebrou o abajur Giro decide descontar das prostitutas o dinheiro do abajur. Revoltada, Célia quebra mais alguns objetos do quarto e uma nova sessão de tortura é realizada. Depois de ser torturada barbaramente, Leninha entrega Célia. Osvaldo mata Célia com um tiro e obriga Dilma e Leninha se arrumarem para receber os homens no quarto.
O Grupo Imagens do diretor Edson Cândido carregou a mão na baixaria explícita e nas situações degradantes, já na entrada do teatro, quando as prostitutas seminuas transitam no meio da plateia, enquanto um pastor evangélico prega a salvação por meio do Evangelho. Dentro da boate-prostíbulo o espetáculo descamba de vez para a vulgaridade. Há cenas de sexo, surras, brigas e muitos palavrões. A plateia fica inquieta, murmura. Edson Cândido faz psiu o tempo todo pedindo silêncio, enquanto comanda a mesa de iluminação e som.
Para completar, a atriz Clara Luz fere os ouvidos do público com sua voz estridente e desafinada cantando música brega. Haja gritaria. Ninguém é poupado do clima de esculhambação (expressão bem nordestina para esse tipo de situação). Muito afetado, Beto Menêis, o cafetão homossexual e dono do bordel, segura bem o papel de Giro. Kátia Camila exagera como a prostituta Célia, desdentada e feia que abusa do álcool e Mara Alcântara, a Leninha, causa alvoroço na cena de striptease. Lana Gurgel está muito bem no papel de Dilma, o que demonstra que elas aprenderam direitinho a lição feita como laboratório nos inferninhos de Fortaleza.
Particularmente, esperava mais do espetáculo. Demorado, barulhento, O Abajur Lilás cansa pelos excessos.
Para saber mais sobre Plínio Marcos, leia Bendito Maldito – Uma Biografia de Plínio Marcos, de Oswaldo Mendes, Editora Leya, ou visite o site www.pliniomarcos.com.br
O texto da senhora peca igualmente pelos excessos, dona Valbene.
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