sábado, 25 de julho de 2009

BOI

Texto: Miguel Jorge
Direção: Hugo Rodas
Elenco: Guido Campos Correa

A estreia do espetáculo Boi, ocorrida no dia 17 de julho, no Centro Municipal de Cultura Goiânia Ouro, surpreendeu não só pelo público numeroso, mas pela qualidade da produção, muito bem dirigida por Hugo Rodas. Diretor de montagens marcantes como Memória Roubada, inspirado na obra da artista plástica Ana Maria Pacheco, O Olho da Fechadura, coletânea de textos de Nelson Rodrigues, e Édipo, baseado na obra de Sófocles, Hugo Rodas mostrou mais uma vez por que é considerado um dos mais ousados e criativos diretores da cena teatral em atuação.

Muito bem elaborada, a produção arrebata desde o início, a começar pela irreverente recepção ao som da música Ymca, do grupo Village People. A irônica brincadeira quebra o clima, e sinaliza o que vem a seguir. Vestindo a máscara do boi Dourado, criada por Edith e Marcos Lotufo, o ator distribui bandeirolas, que depois serão usadas no momento de interação com a plateia.

Com uma preparação física invejável e uma dramaticidade intensa, Guido se alterna no palco entre os personagens de Zé Argemiro, do boi Dourado, da mãe, de duas pretendentes e de Das Dores, sua mulher. Traz na mão apenas um saco preto, de onde retira os objetos cênicos que vão identificar os tipos que interpreta: dois panos (um vermelho e outro preto), um punhal e duas cabeças de boi.

Como se estivesse numa arena, o ator ocupa toda a cena. Se transforma no doce Argemiro, de repente já é a velha mãe ou a ciumenta Das Dores. Em outra é o boi Dourado. Criado pelo próprio Hugo Rodas, o cenário despojado tem ao fundo placas de alumínio. Sob o efeito da iluminação vão refletindo os movimentos do animal como se ele corresse pelo pasto.

Na adaptação da obra de Miguel Jorge, escrita especialmente para o ator Guido Campos Correa, Hugo Rodas fugiu do convencional regionalismo rural. O resultado é um espetáculo refinado, contemporâneo, com todos os elementos da tragédia, desencadeada pelo ciúme e pela mágoa. Fundamental em toda a trama, o boi tem grandes momentos no desenrolar na história. Chega a ter uma humanidade emocionante. Tanto que no texto original, o animal fala com seu dono.

Hugo Rodas preferiu suprimir os diálogos, enfatizando o clima de tragédia. Homem de personalidade simples, afeiçoado ao boi, Zé Argemiro transforma-o em amigo, companheiro, confidente. Para o animal, canaliza todo o seu afeto, deixando Das Dores totalmente transtornada.

A rejeição do marido acaba desencadeando um turbilhão de sentimentos. Extremamente ciumenta e passional, a mulher só vê uma saída para conquistar a atenção do marido indiferente: matar o boi. Infelizmente neste aspecto a cena não teve a dramaticidade e o impacto que a tragédia exige, o que não compromete o restante do espetáculo.

Para encarar os diversos papéis no palco, Guido preparou-se durante quatro meses. Cercou-se de profissionais experientes como o DJ Victor Pimenta, autor da trilha sonora original. O esforço valeu. Assim como se destacara há 14 anos ao viver os personagens do conto A Terceira Margem do Rio, de Guimarães Rosa, Guido vive outro momento importante de sua carreira. Envolvente, arrebatador, Boi entra para a lista dos bons espetáculos do teatro produzido em Goiânia.

Crédito da foto: Layza Vasconcelos

3 comentários:

  1. Oi, Valbene. Gostei muito do seu blog. Uma feliz combinação entre filosofia e arte. Parabéns! Continue a postar, que continuarei a visitar. Abs! Tatiana Potrich

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  2. Oi, Valbene! Também assisti "Boi" e escrevi no meu blog sobre a peça...
    Realmente ficou muito boa, não é?
    bjos

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  3. Oiê!!! Que pena que eu pude assistir só um pedaço da peça do Guido, mas já deu pra ver que ele se supera cada vez mais. Ó,tá bacana mesmo seu blog viu!! Gostei, muito feliz sua iniciativa, Parabêns!!!!

    Bjs!!! Celina de Sousa.

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