sexta-feira, 19 de junho de 2009

COMENTÁRIO DE PEÇAS - 2009


Preciso Olhar – Cia. de Teatro Nu Escuro

A Cia. Nu Escuro esperou dois anos a oportunidade de trabalhar com o coreógrafo Henrique Rodovalho, diretor da Quasar Cia. de Dança. A chance chegou com o espetáculo Preciso Olhar, uma ousada proposta de discussão da identidade do ser a partir da costura de textos de André Breton, Katthyn Woodward, Tennessee Williams, dos atores Hélio Fróes, Adriana Brito, Lázaro Tuim e do próprio Henrique. Infelizmente, a proposta derrapou na monotonia e não convenceu a platéia que foi assistir a estréia no Teatro Goiânia.

O espetáculo ficou no pessoal e até parecia que os atores falavam de si para uma roda de amigos que privam de sua intimidade. A mesma situação ocorre com as imagens captadas para o vídeo inserido na montagem, um recurso muito usado pelo diretor em suas coreografias.

Plasticamente o espetáculo é bom. Cenário, figurino, iluminação e trilha sonora funcionam bem e atendem as exigências da direção. Competente em tudo o que faz, desta vez Henrique Rodovalho não conseguiu extrair interpretações convincentes e dar consistência à produção, bancada com recursos da Lei Municipal de Incentivo à Cultura. Há momentos constrangedoramente ruins.

Em 13 anos de carreira, a Cia. Nu Escuro tem bons espetáculos no currículo como 3X3, Carro Caído, O Cabra Que Matou as Cabras, O Alienista e Envelope, e coleção de prêmios. Infelizmente, Preciso Olhar não conseguiu me empolgar em momento algum.

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Essa Comédia É Um Show – Nilton Pinto e Tom Carvalho

Nilton Pinto e Tom Carvalho, a dupla humorística mais bem sucedida de Goiás, estreou Essa Comédia É Um Show, primeira produção de 2009, em grande estilo no Teatro Rio Vermelho, a maior e mais cara casa de espetáculos de Goiânia. Em dois fins de semana, milhares de pessoas lotaram o teatro de 2007 lugares.

Essa Comédia É Um Show é uma produção simples como todas as que a dupla fez em seus 14 anos de carreira. O texto gira em torno de dois presos que sonham seguir uma profissão decente quando deixarem a cadeia. Eles planejam ser tudo na vida: cantor sertanejo, padre, pastor, pai-de-santo, político, delegado, professor e de cada personagem extraem o máximo de hilaridade. Como a cobrança é grande por parte do público, eles sempre dão um jeito de inserir os contadores de causos e os cumpades caipiras nos seus espetáculos. Com este não é diferente.

A troca de figurino ajuda a dar vida aos personagens. Nilton e Tom cantam, dançam, investem na caricatura e a plateia vem abaixo de tanto rir. A dupla também cuida de tudo, da produção à direção, do texto ao figurino. O compromisso principal é o riso puro por isso o investimento nos tipos caricatos e as cenas extraídas do cotidiano.
Como a fórmula deu certo, Nilton e Tom continuam a investir nesse tipo de produção. E se o público gosta, por que mudar?

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História de Goiás no Picadeiro – Circo Laheto

Com capacidade para 800 pessoas, o Circo Laheto recebeu plateia recorde na estréia do espetáculo História de Goiás no Picadeiro. Malabaristas, trapezistas, palhaços, contorcionistas, perna-de-pau deram um verdadeiro show ao narrar com muita alegre a história de Goiás para crianças e adultos sem perder o foco na realidade dos fatos. De forma envolvente

O roteiro do pesquisador Edson Quaresma, da ONG Cultura, Cidade e Arte, contempla aspectos importantes da história de Goiás. A narrativa tem início com os efeitos especiais que simulam a explosão do universo e o surgimento dos continentes. Em seguida, o cenário é ocupado pelos índios em pernas-de-pau lutando em defesa do seu território ameaçado pelo colonizador. Eles lutam pelo direito de continuar vivendo em paz e liberdade na terra que lhe pertence.

A enorme figura do bandeirante Anhanguera chama a atenção. Com muita habilidade, ele se equilibra em enormes pernas-de-pau circulando com muita habilidade carregando a bateia do garimpo, mostrando altivez e superioridade. Ele ameaça atear fogo nos rios se os índios não contarem onde encontrar ouro, sua maior cobiça.

O diretor Maneco Maracá aliou elementos de teatro, circo e música para resgatar a história do Estado, narrando os fatos com muita originalidade. A proposta tem conquistado enormes plateias em todas as cidades por onde passou .

Contemplado na seleção de projetos do edital Petrobras Cultural 2007, ele aproveitou bem os recursos destinados ao seu projeto cercando-se de bons profissionais, como a coordenadora pedagógica Seluta Rodrigues, a Cia. Nu Escuro (Hélio Fróes, Izabela Nascente, Lázaro Tuim, Adriana Brito, Rosangela Cerqueira), a produtora Márcia Pelá, o compositor Beirão, os músicos Emídio Queiroz e Sérgio Pato, a figurinista Rita Alves e muitos outros. O elenco, formado por jovens com idades entre 10 e 17 anos, merece admiração. São jovens talentos que Maneco vai formando e mostrando novos caminhos. Com certeza, serão os profissionais das artes no futuro.
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Theatro Musycal Profano - Cia. Teatral Martim Cererê

O diretor Marcos Fayad levou 10 anos pesquisando as raízes da música brasileira no Brasil, Portugal e Espanha. Do fundo do baú ele pinçou partituras e documentos históricos dos séculos 18 e 19 que serviram de base para o roteiro do seu Theatro Muzical Profano, que estreou em maio no Teatro Goiânia.Como fizera em Puro Brasileiro e Abrazos, Fayad resgatou lundus emodinhas, que deram origem à MPB na bem humorada interpretação deNewton Murce, Júlio Van, Neto Mahnic, Débora di Sá e Bel Roriz.

O violonista Ney Couteiro, o acordeonista, o tecladista William Cândidoe o percussionista Sérgio Pato acompanham o grupo de atores que dança e canta com muita desenvoltura. A maestrina Joana Azevedo preparou os vocais e o resultado foi um show de irreverência e performances convincentes, como se voltássemos no tempo, quando negros e a gente simples do povo se misturavam nos salões para dançar, causando indignação na burguesia.

Maquiagem e figurinos inspirados no século 18, desenhados por Bárbara Sofia e o ator Júlio Van remetem à época dos saraus.Há modinhas ingênuas que falam de amor e luares deslumbrantes. Mas, a maior parte das canções satiriza os costumes da sociedade em letras de duplo sentido e muita malícia. Nada mais natural que surgissem as danças sensuais.
Em Theatro Profano, o que conta mesmo é a música. Ela é a mola mestra do espetáculo costurado com textos de Mário de Andrade e Mozart Araújo. Marcos Fayad acertou mais uma vez. De cada ator extrair interpretações marcantes e uma sintonia contagiante do grupo musical.

A produção proporciona uma viagem ao tempo, à sonoridade musical de uma época marcada pelo romantismo. Alegre e descontraído, o espetáculo é uma ótima oportunidade para quem quer conhecer a raiz da nossa música.

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Branca de Neve e os Sete Anões – Luiz Roberto Pinheiro

Na última semana de março, a Pinheiro Produções Artísticas, do diretor Luiz Roberto Pinheiro estreou em Salvador o seu primeiro espetáculo de 2009. Exibido no Teatro Goiânia em abril, o clássico da literatura infantil Branca de Neve e os Sete Anões, dos Irmãos Grimm, deve estender a temporada até julho. No segundo semestre, o grupo vai se dedicar a uma nova montagem que o diretor já prepara. Mal encerra uma produção, Luiz Roberto já planeja a seguinte. O espetáculo não pode parar.

Se muitas vezes derrapa na adaptação dos textos (quase sempre clássicos da literatura mundial e filmes com personagens de Walt Disney) e na falta de originalidade, Luiz Roberto não economiza na recriação de cenários, adereços e figurinos deslumbrantes. Os efeitos visuais emocionantes são fatores que nunca faltam para a atrair a garotada. A preferência pelos contos de fadas com suas princesas boazinhas, e fadas madrinhas que salvam a heroína das garras da feiticeira má no último minuto da encenação são uma constante nos 25 anos de carreira do diretor goiano, de longe o mais bem-sucedido no segmento infantil.

Em Branca de Neve e Os Sete Anões, Luiz Roberto foi além da imaginação. Reuniu em torno da bela Branca de Neve sete anões de verdade. Mestre, Soneca, Atchim, Feliz, Dengoso, Dunga e Zangado foram selecionados a dedo. Vestidos no figurino de Ana Maria Mendonça e caracterizados por Franco Pimentel, os anõezinhos roubaram a cena do espetáculo, desbancando a Branca de Neve de Karla Braga.

Vestidos com o figurino de seus personagens, criados por Ana Maria Mendonça, e a caracterização feita por Franco Pimentel, eles se tornaram ainda mais parecidos com as criaturrinhas imaginadas pelos irmãos Grimm, autores da fábula da princesa órfã Branca de Neve (Karla Braga) perseguida pela madrasta má (Naiara Marques).

Os “pequenos” atores chamaram a atenção para si desde o primeiro encontro com Branca de Neve. Com idades variando entre 12 e 63 anos, os anões da peça têm pouca ou nenhuma experiência de palco. Mas, acabaram se transformando na principal atração do espetáculo que passou por São Paulo, Brasília e Tocantins. À vontade no palco, o extrovertido Rafael Campos, 12 anos, ganhou destaque como o Soneca. Ao lado da mãe Elza Campos (Atchim), 41 anos, ele demonstrou desenvoltura e afinidade com o personagem, que já conhecia. Afinal qual criança não leu o livro Branca de Neve?

Ator de circo e DJ, o paraense João Batista de Oliveira (Soneca), 63 anos, o mais velho do grupo deu importante contribuição à peça de Luiz Roberto, que abre oportunidade para atores muitas vezes vítimas de preconceito e exclusão. Parte do sucesso da peça pode ser atribuído ao grupo, que luta para sobreviver em outras atividades.

Um comentário:

  1. Tive o privilégio de assistir no dia 13/03/10 no SESC de Caldas Novas. Um show musical sobre a alegria de ser brasileiro e latino americano. Direção Marcos Fayad.

    Show excelente, no sou um conhecedor a arte. Mais fique triste com a conclusão do show. Foi citado alguns frases obscenas, e aquela magia perdeu o encanto.

    Antônio Oliveira

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