GRUPO DE
THEATRO ARTE & FOGO
Antonio Delgado Filho |
ARTE QUE VALE A
PENA
O
nome do Grupo de Theatro Arte & Fogo, do diretor Delgado Filho, surgiu logo após o incêndio
que quase destruiu as instalações do Teatro Inacabado, na Av. Anhanguera, nos
anos 1990. Apesar da precariedade e do estado lastimável, o lendário prédio,
construído pelo teatrólogo Otavinho Arantes, servia de local para ensaios e
apresentações de grupos teatrais. Um belo dia, sem tetos que viviam nas
imediações puseram fogo nas instalações, deixando a classe teatral desolada. O
estrago foi grande. Umas pessoas dizem
que foi acidente. Outros garantem que o fogo foi proposital.
O
fogo queimou o que restava do teatro e destruiu muitos sonhos. Mas, não tirou a
esperança. Dele surgiu a iniciativa de batizar o grupo Arte & Fogo. Delgado
Filho e os atores Carlos Pereira, Júlio Rodrigues, Juce Bessa, Sérgio Kitinis e
outros tinham o Teatro Inacabado como ponto de apoio por isso a homenagem que
faz relembrar o fato. A peça Voo da
Liberdade estreou depois do incêndio, e ficou algum tempo em cartaz. Sintomaticamente, o espetáculo mostrava um
grupo de hippies que invadia o teatro para encenar uma peça, que falava sobre
os conflitos familiares, e ao mesmo tempo de liberdade.
Uma
das primeiras iniciativas do Arte & Fogo foi iniciar uma campanha de
prevenção a incêndios, com o apoio das Secretarias da Saúde, Educação e
Assistência Social, chamando atenção das pessoas, não só para o perigo do fogo,
mas também de doenças. Com os espetáculos didáticos, o grupo ocupou diversos
teatros de arena que ainda existiam na cidade. Segundo Delgado, à época eram 12
palcos de arena em boas condições de uso em diferentes locais.
Comemorando
23 anos de atuação ininterrupta, o Grupo Arte & Fogo ganhou reforço com a
entrada em cena de Sêmio Carlos, em 1997. O ator estreou A Vida É Sonho, de
Calderón La Barca, e acabou ficando. Inicialmente
atuando como iluminador, Delgado Filho experimentou a direção trabalhando ao
lado dos atores Wertemberg Nunes, Ademir Faleiros, Altino Barros, Júlio
Rodrigues e muitos outros atores que ajudaram a escrever a história do teatro
em Goiás. Dirigiu dezenas de peças de
Barale Neto, autor profícuo que
enriqueceu o repertório do grupo com textos sobre ecologia, fauna e meio
ambiente.
Delgado
Filho tem atuação marcante na cena cultural, contribuindo de forma incontestável
para o engrandecimento do teatro em Goiás. Conhece como poucos os meandros da
atividade teatral, acompanhando de perto o trabalho de atores, diretores e
trupes de Goiânia. Como presidente da Federação de Teatro de Goiás (Feteg) comandou os Festivais de Teatro da Feteg, nos
anos 1980/1990, abriu portas para o
intercâmbio entre artistas e sua diversidade de criações. Até 2001, a entidade
apostou no festival para reunir todos os seus afiliados em Goiânia.
O
teatro didático contribuiu muito para a consolidação do Arte & Fogo.
Dirigindo peças com temas específicos, sob encomenda, o grupo adquiriu
experiência falando sobre qualidade de vida, higiene bucal, doenças, vacinação,
drogas, mulheres, uso de camisinha, ecologia e outros. As encenações eram
realizadas em lugares diversos e até no interior. “Sobrevivemos bem fazendo
teatro para o governo e empresas, passando o chapéu ao final de cada espetáculo
e da bilheteria”, revela Delgado.
A partir do ano 2000, o grupo passou a fazer
captação de recursos via Leis de Incentivos à Cultura. Tem patrocinadores fieis
que acreditam no seu trabalho. “Nossa preocupação é fazer sempre o melhor. Os
recursos das leis facilitam muito a nossa atuação”, afirma o diretor.
Meio ambiente
Ecologia
é um tema caro ao Arte & Fogo. A parceria com o dramaturgo Barale Neto
rendeu prêmios em festivais. Dezenas de sessões foram feitas dos espetáculos
com A Arara Encantada, Cenas Pitorescas
Numa Cidade Inventada, Boi, Será Que é? O Contador de Histórias do Cerrado, O
Dia da Caça, todas de Barale Neto. Do dramaturgo também são Txuu-Looso – Raio
de Sol, sobre a lenda dos índios Karajá, o mais recente trabalho do grupo, que utiliza
bonecos, manipulados por Sêmio Carlos, como personagens. Selecionado para o
festival SESI Bonecos 2016, o grupo apresentou-se em Goiânia e Belo Horizonte. Delgado
Filho dirigiu textos de goianos como Augusta Faro e Miguel Jorge, de quem
encenou Alice no País de Cora Coralina e Laurita, respectivamente.
DELGADO FILHO
Ator, diretor,
iluminador e carnavalesco, Antonio Delgado Filho nasceu em Presidente Prudente
(SP). Mudou-se com a família para Goiânia ainda menino. Aqui iniciou a carreira
como integrante do Grupo de Teatro do Sesc. Em 1976, estreou no palco na peça
Fora os Preconceitos. Trabalhou como
iluminador, conquistando prêmios em festivais de Goiânia, Anápolis,
Quirinópolis, Campo Grande e Mineiros. Em 1997, atuou na peça Casaco Encantado,
de Lúcia Bernadett, sob a direção de Nilton Rodrigues do Grupo Opinião.
Em
1994, fundou o Grupo de Theatro Arte & Fogo. Como carnavalesco premiado, fundou e preside a
Escola de Samba Lua-Alá, tricampeã do Grupo Especial dos Desfiles das Escolas
de Samba de Goiânia nos anos de 1998 a 2016.
CONVERSA VAI, CONVERSA VEM
...
Como funciona o sistema
de cooperativa do grupo?
Trabalhamos
em termos de cooperativa. As pessoas contribuem com o seu trabalho. A divisão é
feita em partes iguais. Fazemos muitos trabalhos só com a bilheteria. Outros
usamos as leis de incentivo. Estamos sempre produzindo dessa forma. Os
integrantes do grupo vivem de teatro. Como trabalhamos em sistema de
cooperativa, o dinheiro que entra é dividido em partes iguais. A divisão é
feita depois de pagar as despesas.
As temporadas do grupo
são longas?
Um espetáculo tem de ter vida. Não adianta
fazer um espetáculo com recursos da lei e poucas apresentações. É preciso que a
peça tenha um mínimo de vida para ficar ainda melhor. A produção fica cada vez
melhor a cada nova apresentação. Tem espetáculo nosso que está há 10 anos em
cartaz. Isso já faz parte da história do grupo.
Fazer teatro custa caro.
Dá para viver só da bilheteria de uma peça?
Temos
projetos que fazemos captação através das leis de incentivo. Outros,temos patrocínios diretos de empresas. A gente
vende espetáculos para escolas, empresas. Não fazemos teatro escola porque
achamos complicado, dá muito trabalho. Nossos infantis são diferenciados, leva
a criança a pensar. Pensamos no espetáculo não só para palco italiano, mas
diferentes lugares. O teatro tem uma despesa grande. É caro pagar o aluguel de
um espaço. É por isso que sobrevivemos até hoje.
Ultimamente o grupo tem
trabalhado mais com as formas animadas.
A
maior parte é boneco de vara, manipulação direta, cabeções. Já utilizávamos esse sistema, usando atores
também. Agora é mais boneco, como fizemos em Txuu Looso - Raio de Sol e O Dia
da Caça. Ele continua em cartaz.
Temas ecológicos
conquistam mais público?
O
grupo sempre teve preocupação com o meio ambiente, preservação da natureza,
lendas indígenas. Queremos mostrar que nossos índios são diferentes dos
americanos. É importante destacar para as crianças os animais do cerrado, o seu
habitat natural. A aceitação é muito grande. Os professores procuram muito esse
tipo de espetáculo. A repercussão é muito boa. Estamos numa fase boa do nosso
trabalho. Tem valido a pena a nossa luta.
BARALE NETO
ARTISTA DE MÚLTIPLOS TALENTOS
Barale Neto |
Inquieto, criativo, Barale
Neto envolvia-se em diferentes projetos. Era um criador nato. Ia do teatro ao cinema, da literatura à sala
de aula com o mesmo entusiasmo. Sua história
confunde-se com a do Grupo Arte & Fogo, pois foi ele quem mais contribuiu para
a consolidação do coletivo criado por Delgado Filho. Diversos textos de sua
autoria foram produzidos pelo grupo.
Meio ambiente, preservação
da natureza e fauna do cerrado eram temas recorrentes de sua ampla produção
para o teatro, o cinema e a literatura. Entre
suas peças de maior destaque estão A Arara Encantada, O Contador de Estórias,
Os Caçadores da Pedra Perdida e Quintanando. Com a peça Os Caçadores da Pedra Perdida, o
Grupo Arte & Fogo conquistou 14 prêmios em festivais de teatro de Goiânia e
Anápolis, em 1999.
Autor, ator, diretor, professor e roteirista,
Barale Neto desenvolveu a maior parte de sua carreira em Brasília, onde criou o
projeto Estórias do Cerrado. Em parceria com a Universidade de Brasília, fez o
primeiro vídeo de ficção para crianças do Distrito Federal, A Arara Encantada,
em 1989. Mudou-se para Goiânia em 1994. Dirigiu o grupo de teatro da
Universidade Federal de Goiás, tornando em pouco tempo um dos autores mais
encenados da capital.
Além do teatro, o cinema
era uma de suas grandes paixões. A partir de 2000, escreveu roteiros para o
projeto Estórias do Cerrado, que foi retomado com a realização de Anhangá,
filme que concorreu ao 2º Festival Internacional de Cinema e Vídeo Ambiental
(Fica), sob a direção de Kim-Ir-Sen. Em 2001, filmou O Grito das Águas, com o
qual participou da mostra da ABD/GO, no 3º Fica e da primeira edição do
festival Goiânia Mostra Curtas. Em 2002, concorreu nos dois festivais goianos com
Sobre Que Pedras Piso?
O artista morreu em
Goiânia aos 57 anos, no dia 2 de agosto de 2007, deixando uma obra vasta, que
inclui peças, livros, filmes. Segundo
Delgado Filho, muitos de seus projetos continuam inéditos.
GRUPO
DE THEATRO ARTE E FOGO 1994/2015
Peças
-
1994
-
Dona Qualidade, Ademir
Faleiros
-
Hora da Verdade, Altino
Barros e Delgado Filho
-
Poemas da Qualidade,
Fausto Jaime
-
Lampião e a Segurança, Altino
Barros, Delgado Filho e
Júlio Rodrigues
-
As Viagens da Liberdade, Delgado Filho, Carlos Lucena e
Júlio Rodrigues
-
Catulé / Adaptação de Teatro
Mambembe
1995
-
Vamos Fazer Uma Grevinha, Adaptação de Augusto Boal
-
Pega o Mosquito, Delgado
Filho e Jusse Lessa
- Uma Vida...Um Sonho..., Delgado
Filho, Ricardo Pereira e Cláudio Elias
-
Desculpe-me Por Ser Mulher, Delgado
Filho
-
Nas Ondas das Drogas, Júlio Rodrigues, Delgado Filho e Carlos Lucena
-
“A onde” está a Camisinha, Delgado Filho e Júlio Rodrigues
1996/
2009
-
Alegre Coração, Delgado Filho e Fernando
Oliveira
- Ser Mulher, Barale Neto e Delgado Filho
-
Os Caçadores da Pedra Perdida, Barale
Neto
-
Pouco
Vento e Muita Linha, Luciano Caldas
-
A Casa da Emilia, Simone
Soares, Barale Neto e Semio Carlos
-
Arara
Encantada, Barale Neto
- Foi Assim... Drogas..., Luciano Caldas e Delgado Filho
-
Que Burrice, Delgado
Filho
-
Voo do Amor,
Delgado Filho
-
Os Sete Pecados Capitais Contra a Mulher, Delgado Filho
-
Zuza da
Rua,
Ivanor Florêncio
-
Me arrumem um pai..., Ivanor
Florêncio
-
Angústia, Sônia
Aparecida
-
Vago cor vermelho, Sônia Aparecida
-
Happy
Hour de Poesias,
Sônia Aparecida
-
Dez
crimes na ação e pré-conceito, Ivanor Florêncio
-
Aniversário
da Arara Encantada,
Barale Neto
-
Desabafo
de um farrapo humano,
Ivanor Florêncio
-
A cova
da morte que nasce a vida, Ivanor Florêncio
-
Laurita,
Miguel Jorge, c/ Semio Carlos
-
Teatro,Teatro e Teatro ou Teatro,
Barale Neto
-
Cenas Pitorescas Numa Cidade Inventada, Barale Neto
-
Beijo-Beijo Sonhado, Luiz de Aquino
-
Boi Será que é ?, Barale Neto
-
O Contador de Histórias do Cerrado, Barale Neto
-
Alice
no País de Cora Coralina, Augusta Faro
-
Txuu - Looso
- Raio de Sol, Barale Neto
-
Poética Bancária, Léo Pereira
Premiações
- Uma Vida... Um Sonho...
Melhor
Iluminação: FETEG / 1996
-
Catulé
Melhor
Maquilagem: Festival Regional de São Luiz dos Montes Belos
Melhor
Espetáculo Opinião Publica:Festival Regional da Cidade Goiás
-
Os Caçadores da Pedra Perdida
Melhor
Espetáculo e Opinião Pública, Cenário: FETEG / 1998
Melhor
Cenário e Iluminação: VIII Festival Nacional de Teatro
-
Arara Encantada
Melhor
Direção,Iluminação,Figurino e Cenário:IX Festival FETEG.2001
Melhor
Iluminação e Cenário: I Festival Regional de Quirinópolis
-
Voo do Amor
Melhor
Direção, Cenário, Iluminação e Figurino: I Festival Regional de Quirinópolis.-
2001
-
Fraguimentos de Pio Vargas
Melhor
Direção e Adereços: I Festival de Poesia Encenada “Pio Vargas”.
-
VI Festival de Poesia Encenada da Feteg.2004
Prêmio
Especial do Júri, Melhor Concepção Cênica e 3º lugar Melhor Poesia
Encenada.
Peça: A Cova da Morte que Nasce a Vida,
Ivanor Florêncio
X
Festival Nacional de Monólogos 2006 em Camaçarí – Bahia
Laurita
conquistou seis dos sete prêmios (Melhor Direção e Cenário)