DIRETORES EM FOCO
DO TEATRO EXPERIMENTAL A DIRETOR PREMIADO
Colecionador
de premiações, o Grupo Arte & Fatos da Coordenação de Arte e Cultura da PUC
Goiás é um dos mais importantes da cena teatral goiana. Com mais de 20 anos de
criação, o grupo arrebatou mais de 150 prêmios em diferentes categorias em
conceituados festivais de teatro do País. Recentemente ganhou o Diploma de
Mérito Cultural, concedido pelo Conselho Estadual de Cultura, pelo espetáculo Balada de um Palhaço, há 10 anos em cartaz.
Todo
esse êxito se deve em grande parte ao diretor Danilo Alencar, dedicado mestre
de oficinas de formação de atores na própria PUC, e criador do grupo há 28 anos.
Paixão e talento são os grandes aliados do artista, que dedica a maior parte do
seu tempo ao fazer teatral: escreve, dirige, atua, forma atores, compõe. Desde
a criação do grupo em 1988, dirigiu cerca de 20 espetáculos de repercussão. Os
prêmios foram apenas uma conseqüência.
Natural
de Tiros (MG), Danilo Alencar veio para Goiás com a família ainda menino. Viveu
alguns anos na região do Vale do São Patrício, até mudar-se para Brasília. Na
adolescência, escrevia poesia, compunha músicas, brincava de ser ator. Nos anos
1970, fundou com amigos o primeiro grupo de teatro experimental no Cruzeiro, um
bairro de Brasília, digamos assim. Sem dinheiro, sem técnica, sem adereços, o
grupo atingia o público com suas montagens improvisadas. Paralelo ao teatro
amador, trabalhava como vendedor de uma
multinacional de televisores. Em 1975, foi transferido para Goiânia, onde
fixou-se definitivamente.
Como
compositor, outra de suas tantas habilidades, estreou em festivais de música, à
época muito populares no meio cultural, pois abriam portas para os novos
talentos. Participou do Gremi – Festival de Artes de Inhumas e do ComunicaSom,
ao lado de grandes nomes da música goiana. Em 1988, ingressou na PUC Goiás para
estudar História, curso que abriu as portas para sua arte.
Obstinado,
curioso, Danilo redescobriu o teatro no curso de História. Os fatos históricos
foram o ponto de partida para sua criação teatral. Sob a supervisão de seus
professores fez da sala de aula um palco. Queria fugir da mesmice, das aulas
maçantes, pretendia falar de história de uma forma diferente. Ainda sem a
técnica, mas contando com a boa vontade dos colegas, foi em frente, sempre
incentivado pelos mestres.
A
primeira montagem do grupo que nascia foi Liberté Uai, texto inspirado na
Revolução Francesa. Incentivado pela professora Sônia Marquez, Danilo mesclou
fatos históricos da França à Inconfidência Mineira, que chegava aos 100 anos. A
encenação marcante levou-o a investir em uma nova possibilidade de carreira.
“Fiquei fascinado com o resultado. O palco cheio de atores e a plateia aplaudindo”,
recorda.
Nos
livros indicados aos vestibulares das Universidades Federal e Católica, encontrou
mais uma oportunidade de ocupar o teatro. As adaptações de nomes consagrados da
literatura viraram produções muito aplaudidas pelos vestibulandos. Danilo
escrevia os textos em parceria com o professor Gil Mendes. Para ele, o período foi
enriquecedor. Proporcionaram muitas experimentações e novas experiências. Achava-se apto para o trabalho, mas ainda
faltava técnica, a carpintaria, as nuances do fazer teatral. Aconselhado pelo
diretor teatral e professor da antiga Escola Técnica Federal de Goiás, hoje
Instituto Tecnológico de Goiás, Sandro di Lima, investiu pesado na sua profissionalização a fim de escapar do
amadorismo.
Canudos
Para
escrever Sob o Sol de Canudos, o diretor mergulhou fundo na complexa história
de Antônio Conselheiro, o messiânico cearense que fundou a comunidade de
Canudos no sertão da Bahia. Formou o elenco com 40 pessoas, a maioria
estudantes da PUC e pessoas comuns da comunidade. Queria fugir da mesmice. E
conseguiu. A partir daí o nome de Danilo Alencar despontou no meio e chamou
atenção. Sob o Sol de Canudos foi
considerado o melhor texto do Festival de Teatro de Anápolis.
Entusiasmado,
achou que poderia galgar outros degraus. Com dificuldade, reuniu o grupo, pegou
a estrada e partiu rumo ao Paraná para participar do tradicional Festival
Nacional de Teatro, promovido pela Universidade Estadual de Ponta Grossa (PR). No
início, choveram críticas da comissão julgadora. Para os jurados “aquilo” não
era teatro. “Fiquei triste demais. Mas, não desisti”, conta o diretor. No mea
culpa, reconhece: “O pessoal que viu
Canudos em Goiânia, a maioria candidatos de vestibular, estava interessado na
história de Canudos, e não na carpintaria, nos conflitos, na confecção do
espetáculo”, lamenta. Danilo aprendeu a lição. Com humildade, correu atrás do
prejuízo, investindo mais na sua própria formação. Conquistou fama de diretor
que lotava teatros. Mas, era pouco para ele, que queria ser reconhecido como
profissional do teatro.
Prática
Danilo
Alencar aprendeu tudo o que sabe de teatro na prática. Curioso, quase
obsessivo, investiu no que queria até conseguir desenvolver um trabalho que tem
a sua marca. Um espetáculo nunca é o mesmo na sua mão. Mexe, remexe no texto,
no cenário, a entrada dos atores, na performance a cada nova sessão.
Ele confessa ter sofrido com as críticas do
início da carreira. Não sentiu-se intimidado. Por indicação do diretor Sandro
di Lima, leu muito, estudou, pesquisou. Tinha consciência de que precisava
lapidar o que era nato, dar respostas técnicas e nível profissional ao seu
trabalho. Os atores também exigiam, e era preciso atendê-los. “Sandro di Lima
foi muito importante na minha carreira. Incentivou e deu respaldo desde o início”, revela.
Surpreendente
foi o espetáculo Herdeiros de Zumbi, em 1995. Dezenas de atores, a maioria
negros, ocuparam o palco do Teatro Goiânia com a dramaturgia escrita por ele,
sob a supervisão dos professores do curso de História da PUC, Sônia Marquez,
Laís Bueno, Gil Mendes, Ironildes Bueno e do poeta e escritor Pedro Tierra
(Hamilton Pereira), que abordava a questão do negro, ressaltando a figura de
Zumbi dos Palmares, heroi da resistência à escravidão. Para surpresa do diretor, ao final de uma
apresentação na cidade de Goiás, dentro da programação do Festival
Internacional de Meio Ambiente e Vídeo Ambiental (Fica), os atores devolveram
os figurinos dizendo que aquele não era o tipo de espetáculo que queriam fazer.
“Levei um tempo para absorver aquele constrangimento. Muitas vezes o ser humano
é perverso. Esse preconceito contra meu trabalho me massacrava. Levei tempo
para recomeçar”, afirma.
A
encenação didática, baseada em fatos históricos, estava longe de ser
classificada como uma peça de teatro propriamente dita. Herdeiros estava mais para uma simples encenação. Passada a
poeira da decepção, o diretor retomou o espetáculo. Mexeu e remexeu na
produção, cercou-se de profissionais como o cenógrafo de Shell Júnior, o
iluminador Ricardo Grillo, atores mais experientes como Wellington Dias, no
papel de Zumbi, Adriana Brito, Liomar Veloso e outros. Daí em diante o
espetáculo deslanchou. A alegria que o espetáculo daria começou com a seleção
para primeira edição do Festival de Artes Cênicas Goiânia em Cena. A
participação no evento deu o respaldo necessário para a disputa do Festival
Universitário de Ponta Grossa (PR), um dos mais tradicionais do País.
Formada
por mais de 40 pessoas, entre atores e técnicos, a trupe partiu de Goiânia em
ônibus fretado, esperando conquistar seu espaço. A decepção veio em forma de
crítica do jurado Toninho do Vale, para quem “ Herdeiros de Zumbi não era
teatro”. Apesar da campanha contra, o Grupo Arte & Fatos, que dava um passo
importante rumo à profissionalização, arrebatou 12 prêmios no Festival de Ponta
Grossa. Ganhou troféus em todas as categorias, menos o de melhor atriz, porque
não tinha no elenco da peça.
Os
prêmios foram o respaldo que Danilo Alencar aguardava para consolidar seu improvisado
grupo, que ensaiava nas madrugadas em sala cedida pela PUC, já que não tinha
vínculo empregatício com a universidade. Estava dada a largada definitiva do
grupo Arte & Fatos.
Além
de dirigir, Danilo Alencar também atua, escreve e é professor de Teatro da
Coordenação de Arte e Cultura da PUC Goiás. Com o diretor Marcos Fayad,
considerado um grande formador de atores em Goiás, atuou na segunda montagem da
peça Martim Cererê, da Cia. Teatral Martim Cererê, Cara-de-Bronze, Rasga
Coração e muitas outras.
Novos temas
Balada de um Palhaço |
Por
muito tempo, Danilo Alencar manteve-se fiel à história. A maioria de seus
espetáculos eram adaptações de fatos históricos, afinal estava diretamente
ligado ao Departamento de História da PUC. Aos poucos, desvencilhou-se partindo
para novos temas, como o monólogo A Clara do Ovo, vencedor do Festival de
Monólogos da Federação de Teatro de Goiás 2004. O espetáculo Balada de um Palhaço, de Plínio
Marcos, que estreou em 2006, é
considerado um marco em sua carreira. Há 10 anos em cartaz, a peça continua em
cartaz com a vitalidade e a dupla de atores Bruno Peixoto e Edson de Oliveira.
Simultaneamente, o Grupo Arte & Fatos tem feito trabalhos relevantes, que fizeram
dele um dos mais importantes do teatro de Goiás.
Com
humildade, Danilo Alencar galgou degraus, abriu portas, aperfeiçoou a técnica e
tem feito um reconhecido trabalho teatral. Sempre que tem oportunidade, pega a
estrada, levando a cultura goiana para outros centros. Um dos pontos favoráveis
do seu grupo é contar com o apoio da PUC, que oferece condições para se manter.
Como servidor da universidade, o diretor tem oportunidade de fazer o que gosta:
pesquisar, experimentar, escrever e formar novos atores.
Ser Tão Grande |
CONVERSA VAI, CONVERSA
VEM ...
É possível fazer teatro sem dinheiro?
É. O que a
gente não consegue é ator para trabalhar de graça, sem dinheiro. Houve uma
mecanização, uma sistematização de uma outra leitura do fazer artístico. Se tiver
pessoas sedentas para fazer teatro, garanto a mesma excelência, a mesma dedicação,
a mesma paixão e coloco no palco.
Atores e grupos alegam que sem o apoio
das leis de incentivo é impossível sobreviver.
Não é
verdade. As leis são um ganho importante porque o mundo avançou. É justo. Mostra
que continuamos com o pires na mão. Mas podemos sobreviver de outras formas.
O teatro pode viver só de bilheteria?
Não.
Paralelamente aos meus afazeres no teatro, sempre tive outras atividades. Meus
espetáculos sempre são contemplados nas leis de incentivo, mas ficam anos em
cartaz, como o Balada de um Palhaço, que está completando 10 anos no repertório
do grupo. O teatro é muito maior do que o sistema de leis. Por exemplo, tem
espetáculo que não gastei um tostão para fazê-lo. Entrei dentro de um depósito
e recolhi os adereços, reuni pessoas apaixonadas pelo fazer artístico, como
André Larô, Rita Alves, Taíse e Leopoldo Rodrigues. Fizemos Os Avessos, que
nada deixa a dever aos meus outros trabalhos. Nós acreditamos que o teatro pode
ser feito de várias formas. Basta querer.
Sem dinheiro, tem de ter muito amor à
arte.
Quando
descobri o teatro, fui obrigado a encarar enormes dificuldades. Paguei um preço
muito alto por isso. Nunca consegui levar o teatro só como entretenimento.
Tenho sérios problemas de saúde hoje, porque não soube dosar as atividades. Não
estou atribuindo meus problemas só ao teatro, mas peguei muito pesado.
Você começaria tudo outra vez?
Faria sim,
porque a causa foi muito justa. Foi assim que fiz. É assim que faria.
Antes de ter o apoio da PUC, como
fazia teatro?
Na fé. Nós
nos reuníamos com professores apaixonados, alunos sedentos, sem a febre do
capitalismo, sem o “eu preciso ganhar dinheiro”, o que não está errado de jeito
nenhum para quem fez a opção de ser ator. Mesmo sem dinheiro, eu trabalhava com
a mesma intensidade que trabalho hoje, com o mesmo entusiasmo. A única
diferença é que como não tinha horário para cumprir todos os dias, às 2 horas
da manhã, durante 12 anos eu estava dentro do meu carro levando ator em casa
depois dos ensaios. Mas, nunca abri mão de colocar no palco, contextualizado ou
não, algo em que acreditasse.
Como você abriu as portas da PUC para
seu grupo?
Na
inauguração do Memorial do Cerrado, apresentamos o espetáculo Opereta do
Cerrado. A professora Clélia Brandão, à época reitora da PUC, disse que não admitia
mais que eu continuasse dentro da PUC sem ter vínculo com a instituição. Com o
aval da professoras Sônia Marquez e Laís Machado, a universidade me contratou.
Principais montagens
1988 – Nos Trilhos da História – Desagregação
do sistema primitivo, adaptações dos textos de Marx e Engels.
1989 – Liberté, Uai –
Bicentenário da Revolução Francesa e Centenário da Inconfidência Mineira.
1990/1995 – Sob o Sol de Canudos,
Centenário do Movimento de Canudos.
1995 – Primeira montagem de
Herdeiros de Zumbi.
1997 – Anjos Poetas, Tributo aos
150 anos da morte de Castro Alves.
2000 – Opereta do Cerrado – para a inauguração
do Memorial do Cerrado da Universidade Católica de Goiás.
2002 – Toca Mariles! Uma História da Ditadura
Militar.
2003 – A Aurora da Minha Vida, de Naum Alves
de Souza
2004 – A Clara do Ovo, de Danilo Alencar
2006 – Balada
de um Palhaço, de Plínio Marcos
2011 – Ser Tão Grande, de Danilo Alencar
2014- Travesseiro, de Danilo Alencar
2015 – Os Avessos, de Danilo
Alencar
2015 – Lágrimas de Guarda chuva,
de Eid Ribeiro
2015 – Mundo Cerrado, de Danilo Alencar
Premiações
- 2º Festival Nacional de Teatro de Juiz de Fora/MG – Elizabeth Savala.
Setembro de 2007.
Prêmios:
Melhor
Espetáculo
Melhor
Diretor: Danilo Alencar
Melhor
Ator: Edson de Oliveira
Melhor
Cenário
Melhor
Espetáculo Júri Popular
- 30º Fenata – Festival Nacional de Teatro de Ponta
Grossa/PR
Prêmios:
Melhor
Diretor: Danilo Alencar
Melhor
Ator: Bruno Peixoto
- 22º Festival de Teatro de Blumenau/SC
Julho de 2008
Prêmios:
Melhor
Cenografia: Paulinho Pessoa
Melhor
Figurino: Rosi Martins
Melhor
Ator: Bruno Peixoto
E
todas as indicações.
- Festival de Teatro de Resende/RJ
Julho de 2008
Prêmios:
Melhor
Espetáculo
Melhor
Direção: Danilo Alencar
Melhor
Ator: Bruno Peixoto
Melhor
Cenografia: Paulinho Pessoa
E
Indicação em todas as categorias.
- FIT 2009 – Festival Ipitanga de Teatro – Lauro de
Freitas|BA
Junho de 2009
Melhor
Espetáculo
Melhor
Diretor: Danilo Alencar
Melhor
Ator Coadjuvante: Bruno Peixoto
Melhor
Cenário: Paulinho Pessoa
Melhor
Figurino: Rosi Martins
E
9 Indicações
Lágrimas de Guarda-Chuva |
- 44º
Festival Nacional de Teatro de Ponta Grossa/PR
Outubro de
2016
Prêmios:
Melhor Texto: Eid Ribeiro
Melhor atriz : Rita Alves
Melhor direção: Danilo Alencar
Melhor sonoplastia: Sarah
Alencar, Danilo Sene e Tomás Bastos
Melhor maquiagem: Franco Pimentel
Melhor figurino: Caroline Albuquerque/Camila Witkowski
Fotos: Divulgação