quinta-feira, 29 de março de 2012

O CIRCO O MENINO A VIDA

(Mário Quintana)



A moça do arame


equilibrando a sombrinha


era de uma beleza instantânea e fulgurante!


A moça do arame ia deslizando e despindo-se.






Lentamente.


Só para judiar.


E eu com os olhos cada vez mais arregalados


até parecendo dois pires.


Meu ti dizia:


"Bobo!


Não sabes


que elas sempre trazem uma roupa de malha


por baixo?)"






(Naqueles voluptuosos tempos não havia maiôs


nem biquínis...)


Sim! Mas toda a deliciante angústia dos meus


olhos virgens.


Segredeva-me.


Sempre:


"Quem sabe?..."


Eu tinha oito anos e sabia esperar.


Agora eu não sei esperar mais nada.


Desta nem da outra vida,






No entanto


o menino


(que não sei como insiste em não morrer em mim)


ainda e sempre


apesar de tudo


apesar de todas as desesperanças,


o menino


às vezes


segreda-me baixinho






"Titio, quem sabe?..."


Ah, meu Deus, essas crianças!





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