quarta-feira, 8 de setembro de 2010

DECEPÇÃO BANCÁRIA



Publicitário, poeta e líder da banda Terroristas da Palavra, LéoPereira também faz incursões no teatro. Já foram duas tentativas de emplacar no palco. Primeiro foi com Traga-me Bombons Coloridos, com o ator Guido CamposCorrêa, dirigido por Henrique Rodovalho, em 2005. Agora é a vez de Poética Bancária, do Grupo de Teatro Arte & Fogo, sob a direção de Delgado Filho, cartaz no Centro Municipal de Cultura Goiânia Ouro no fim de semana passado.


O espetáculo focaliza a rotina estafante do bancário Gervásio, cujo maior sonho é aposentar-se depois de 30 anos de trabalho. A história começa quando ele é admitido no banco. O estresse e o cansaço do cotidiano maçante do banco são alguns sentimentos expostos na produção, que se passa no tempo da máquina de escrever. Cada vez mais envolvido com o trabalho, o personagem criado por Léo Pereira apaixona-se pela cintura do número 8 e não pensa em outra coisa.

Gervásio não sabe se a absurda paixão é uma fuga provocada pela desgastante rotina bancária, se é loucura ou fantasia. E este é o enfoque principal da peça. Infelizmente, saí do teatro sem saber a resposta. Pelo menos o grupo Arte & Fogo não conseguiu se fazer entender. Ou será que é o texto do Léo? Estou tentando entender.

O texto rimado e recheado de repetições nada tem de poético. Falta dramaturgia. A cenografia de Delgado Filho e Roberto Rita com divisórias que remetem ao banco, onde são projetadas algumasimagens, não ajuda muito. O figurino de Rochelle Silva é pobre e inadequado para um bancário dos tempos das antigas máquinas Olivetti e Remington, quando os profissionais se vestiam com camisa social ou terno e gravata.


Para completar, os atores Jusse Lessa, Clodoaldo Marques e Luiz Agôn não convencem nos seus papéis. Declamam o texto como em um jogral. Para completar, um “fantasma ou folião” fica na cola do bancário atormentando ainda mais a sua cabeça. Mais surreal impossível.
Foto: Dirce Vieira

Um comentário:

  1. Poética Bancária é um texto escrito em 1982, meu primeiro exercício de dramaturgia aos 22 anos. Fico feliz em saber que ele ainda suscita debates e expressa a desumanização do Ser e a corrupção do trabalho humano. Fico mais feliz ainda em saber que seus versos são simples, permitem uma leitura circense; provocam quem gosta e incomodam quem não gosta. Escrever é uma atitude simples, delicada e dedicada que conversa da mesma forma com o tempo da máquina de escrever e da explosão da internet. "Não sois máquinas, homens é sóis". ...
    Agora penso assim: "Os sóis... os sóis... os sóis estão mortos!". (A Doença do Acúmulo - 2007).

    Vamos ao debate
    beijos

    Léo Pereira

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