Primeira matéria de minha autoria publicada em 2010 no Magazine do Popular sobre o professor, ator e escritor Newton Murce. Acho importante registrar neste espaço.
Professor, ator e escritor, Newton Murce possui uma inquietude que o leva a questionar tudo, saber o por quê das coisas e se aprofundar nos temas de seu interesse. Sente necessidade de teorizar, para depois pôr em prática, de preferência com a máxima perfeição. Murce confessa não conseguir ser apenas ator, atuar no palco sem mergulhar na essência da obra. Essa necessidade de saber como o ator cria o corpo para a cena e como a psicanálise pode contribuir no processo de criação levou-o a um amplo e pormenorizado trabalho de pesquisa, sob a orientação da professora Nina Virgínia de Araújo Leite, que culminou na sua tese de doutoramento Corpoiesis: Um Ator, Uma Escrita, defendida no Instituto de Estudos da Linguagem, na Unicamp (SP), em 2006.
No período de estudo, Newton Murce deu um tempo no palco, mergulhando de cabeça na pesquisa que denominou Corpoiesis: A Criação do Ator, publicada pela Editora da UFG, em dezembro de 2009. Sem badalação, o livro chegou à livraria da Universidade Federal de Goiás, onde pode ser adquirido ao preço de R$ 15. Trata-se de um texto essencial para profissionais das artes cênicas, professores e pesquisadores.
Para Newton Murce, um ator nunca sai de uma produção do mesmo jeito que entrou. Daí a necessidade de entender como se dá esse processo."O que mais interessa ao artista é entender o ato da criação, como acorre, quais efeitos produz no próprio corpo, na vida. Não há como não mudar depois de um trabalho", afirma. Ele ressalta que seu trabalho diz respeito somente ao ator, do seu processo de criação, fundamentado em estudos da psicnálise. "Considero que o corpo do ator não é um corpo qualquer, do sujeito falante, sujeito do cotidiano, mas um corpo outro, novo, criado para a cena, corpo criado como poesia (corpoiesis)", argumenta.
Autores e teóricos ligados às artes cênicas e à psicanálise como Antonin Artaud, Grotowski, Peter Brook, Lacan, Freud, Deleuze e muitos outros serviram de suporte para a pesquisa. Murce também conversou com atores e atrizes para saber como se dava o processo de criação do personagem, e os efeitos produzidos no corpo com a experiência. Não era sua intenção provar no diálogo que manteve com Cacá Carvalho, Miriam Muniz, Ana Lúcia Torre, Ricardo Blat, Simone Spoladore, Luiz Peäetow, Eduardo Moskovis e integrantes dos grupos Lume e Galpão. Queria subsídios para entender a composição poética para a cena.
A leitura do livro Água Viva, de Clarice Lispector, associada à pesquisa resultou no monólogo Atrás do Pensamento, que estreou em 2007, premiado em algumas categorias no Festival de Teatro de Teresina, no Piauí. Para dirigi-lo convidou Luiz Peäetow, de Campinas (SP). "A obra de Clarice teve grandes efeitos em mim. Com o espetáculo pude praticar um pouco da teoria de como seria o processo de criação do corpo do ator dentro da cena a partir da teoria psicanalítica", afirma.
Mesmo se tratando de uma obra científica e específica para o segmento artes cênicas, Corpoiesis: a Criação do Ator aborda um assunto interessante para quem pretende entender melhor o processo que se dá quando o ator "veste" o personagem na cena. Caprichada, a edição ganhou capa ilustrada com desenho do artista Clóvis Graciano e apresentação do ator/diretor Marcos Fayad. "Sou testemunha de que o seu corpo foi submetido a mudanças radicais nos espetáculos tão diferenciados que encenamos. Ele tomou minhas ideias incipientes e as levou muito mais longe do que um ator comum o faria, tomou-as para si e elevou-as à categoria de obra de arte pessoal, sem se espelhar em ninguém. O ator é sua própria obra de arte e Newton Murce percebeu muito cedo em que isso consiste", escreveu o diretor da Cia. Teatral Martim Cererê, com quem Newton trabalha há 20 anos.
Dificuldade de se expor
Há 15 anos, professor de inglês do Cepae-UFG, Newton Murce estreou como ator aos 16 anos, atuando com Hugo Zorzetti, do Grupo Exercício e fundador do curso de Artes Cênicas na UFG. A estreia em Lições de Anonimato, em 1987, foi o primeiro passo em direção à carreira, e à busca de novas oportunidades no palco. Em 1988, integrou o elenco da Cia. Teatral Martim Cererê, recém criada pelo ator e diretor Marcos Fayad, participando da primeira versão da peça Martim Cererê, considerada um marco do teatro em Goiás.
Murce tem participado de praticamente todas as peças do grupo como Cabaré Goiano, Cara-de-Bronze, Na Carreira do Divino, Puro Brasileiro, Café Cantante Punhal Reluzente e a mais recente Theatro Muzycal Profano, a mais recente produção do grupo. Este ano, deve participar de mais um musical de Marcos Fayad. Ator competente, Newton Murce surpreende também como cantor. Segundo ele, a preparação vocal com a professora e maestrina Joana Christina Azevedo tem sido muito importante para dar segurança no palco.
Nascido em Goiânia, 40 anos, Newton Murce não dispensa nenhuma atividade que contribua para sua formação como profissional seja na escola ou no palco. Ex-integrante do Grupo Gwaya Contadores de Histórias, o ator adora escrever para crianças. Para este segmento especial, publicou Diferente Igual a Todo Mundo, Viagens e Haja Fôlego! "Sempre gostei de escrever e representar", conta o ator, que com a crítica teatral e professora Carmelinda Guimarães assina a biografia de Marcos Fayad. Tímido e reservado, revela ter dificuldade em se expor. "Tenho uma relação complicada com a exposição. Acho difícil, apesar de ser uma necessidade que se instalou em mim desde a infância, assim como o hábito de escrever. Sinto prazer com o que faço", explica.
Sempre atento ao movimento cultural da cidade, o ator acredita que a criação da Escola de Artes Cênicas contribuiu muito para melhorar o nível das produções locais e à formação de atores. "Não temos uma tradição teatral. É importante formar público, e para isso é preciso oferecer um bom trabalho", argumenta.
Corpo esculpido ou decomposto
Com a experiência de quem está no palco há 25 anos, interpretando os mais variados personagens, Newton Murce explorou com muita competência o processo de interiorização do personagem, e o processo que ocorre com o corpo do ator no momento da criação. Corpoiesis: A Criação do Ator é uma importante contribuição do ator goiano à bibliografia de artes cênicas. É muito bom saber que agora os atores têm à sua disposição um trabalho bem fundamentado para ajudá-los a compreender a complexidade do ato de interpretar e de conhecimento do próprio corpo. Murce contribui de forma admirável na formação dos novos atores.
Diferentemente do que o leitor possa imaginar, Newton não aplicou a psicanálise no campo da arte. Ela serviu de fundamentação para o entendimento do corpo, não o corpo biológico, orgânico, mas um corpo constituído pelo simbólico. No exaustivo processo de pesquisa, Newton conclui que diante do texto o ator se fragiliza em busca de um corpo novo, que já está ali no corpo do artista. Mas, que precisa ser esculpido ou decomposto para dar lugar ao novo, à composição poética. Isso ocorre pela repetição jamais idêntica em si mesma. É escrita poética, na sua opinião, que produz o novo, o corpoeisis, neologismo criado a partir do grego poiésis (criar) e poiétikos (inventivo).
Livro: Corpoiesis: a Criação do Ator
Autor: Newton Murce
Editora: UFG - Coleção Critérios
Páginas: 207
Preço: R$ 15
Professor, ator e escritor, Newton Murce possui uma inquietude que o leva a questionar tudo, saber o por quê das coisas e se aprofundar nos temas de seu interesse. Sente necessidade de teorizar, para depois pôr em prática, de preferência com a máxima perfeição. Murce confessa não conseguir ser apenas ator, atuar no palco sem mergulhar na essência da obra. Essa necessidade de saber como o ator cria o corpo para a cena e como a psicanálise pode contribuir no processo de criação levou-o a um amplo e pormenorizado trabalho de pesquisa, sob a orientação da professora Nina Virgínia de Araújo Leite, que culminou na sua tese de doutoramento Corpoiesis: Um Ator, Uma Escrita, defendida no Instituto de Estudos da Linguagem, na Unicamp (SP), em 2006.
No período de estudo, Newton Murce deu um tempo no palco, mergulhando de cabeça na pesquisa que denominou Corpoiesis: A Criação do Ator, publicada pela Editora da UFG, em dezembro de 2009. Sem badalação, o livro chegou à livraria da Universidade Federal de Goiás, onde pode ser adquirido ao preço de R$ 15. Trata-se de um texto essencial para profissionais das artes cênicas, professores e pesquisadores.
Para Newton Murce, um ator nunca sai de uma produção do mesmo jeito que entrou. Daí a necessidade de entender como se dá esse processo."O que mais interessa ao artista é entender o ato da criação, como acorre, quais efeitos produz no próprio corpo, na vida. Não há como não mudar depois de um trabalho", afirma. Ele ressalta que seu trabalho diz respeito somente ao ator, do seu processo de criação, fundamentado em estudos da psicnálise. "Considero que o corpo do ator não é um corpo qualquer, do sujeito falante, sujeito do cotidiano, mas um corpo outro, novo, criado para a cena, corpo criado como poesia (corpoiesis)", argumenta.
Autores e teóricos ligados às artes cênicas e à psicanálise como Antonin Artaud, Grotowski, Peter Brook, Lacan, Freud, Deleuze e muitos outros serviram de suporte para a pesquisa. Murce também conversou com atores e atrizes para saber como se dava o processo de criação do personagem, e os efeitos produzidos no corpo com a experiência. Não era sua intenção provar no diálogo que manteve com Cacá Carvalho, Miriam Muniz, Ana Lúcia Torre, Ricardo Blat, Simone Spoladore, Luiz Peäetow, Eduardo Moskovis e integrantes dos grupos Lume e Galpão. Queria subsídios para entender a composição poética para a cena.
A leitura do livro Água Viva, de Clarice Lispector, associada à pesquisa resultou no monólogo Atrás do Pensamento, que estreou em 2007, premiado em algumas categorias no Festival de Teatro de Teresina, no Piauí. Para dirigi-lo convidou Luiz Peäetow, de Campinas (SP). "A obra de Clarice teve grandes efeitos em mim. Com o espetáculo pude praticar um pouco da teoria de como seria o processo de criação do corpo do ator dentro da cena a partir da teoria psicanalítica", afirma.
Mesmo se tratando de uma obra científica e específica para o segmento artes cênicas, Corpoiesis: a Criação do Ator aborda um assunto interessante para quem pretende entender melhor o processo que se dá quando o ator "veste" o personagem na cena. Caprichada, a edição ganhou capa ilustrada com desenho do artista Clóvis Graciano e apresentação do ator/diretor Marcos Fayad. "Sou testemunha de que o seu corpo foi submetido a mudanças radicais nos espetáculos tão diferenciados que encenamos. Ele tomou minhas ideias incipientes e as levou muito mais longe do que um ator comum o faria, tomou-as para si e elevou-as à categoria de obra de arte pessoal, sem se espelhar em ninguém. O ator é sua própria obra de arte e Newton Murce percebeu muito cedo em que isso consiste", escreveu o diretor da Cia. Teatral Martim Cererê, com quem Newton trabalha há 20 anos.
Dificuldade de se expor
Há 15 anos, professor de inglês do Cepae-UFG, Newton Murce estreou como ator aos 16 anos, atuando com Hugo Zorzetti, do Grupo Exercício e fundador do curso de Artes Cênicas na UFG. A estreia em Lições de Anonimato, em 1987, foi o primeiro passo em direção à carreira, e à busca de novas oportunidades no palco. Em 1988, integrou o elenco da Cia. Teatral Martim Cererê, recém criada pelo ator e diretor Marcos Fayad, participando da primeira versão da peça Martim Cererê, considerada um marco do teatro em Goiás.
Murce tem participado de praticamente todas as peças do grupo como Cabaré Goiano, Cara-de-Bronze, Na Carreira do Divino, Puro Brasileiro, Café Cantante Punhal Reluzente e a mais recente Theatro Muzycal Profano, a mais recente produção do grupo. Este ano, deve participar de mais um musical de Marcos Fayad. Ator competente, Newton Murce surpreende também como cantor. Segundo ele, a preparação vocal com a professora e maestrina Joana Christina Azevedo tem sido muito importante para dar segurança no palco.
Nascido em Goiânia, 40 anos, Newton Murce não dispensa nenhuma atividade que contribua para sua formação como profissional seja na escola ou no palco. Ex-integrante do Grupo Gwaya Contadores de Histórias, o ator adora escrever para crianças. Para este segmento especial, publicou Diferente Igual a Todo Mundo, Viagens e Haja Fôlego! "Sempre gostei de escrever e representar", conta o ator, que com a crítica teatral e professora Carmelinda Guimarães assina a biografia de Marcos Fayad. Tímido e reservado, revela ter dificuldade em se expor. "Tenho uma relação complicada com a exposição. Acho difícil, apesar de ser uma necessidade que se instalou em mim desde a infância, assim como o hábito de escrever. Sinto prazer com o que faço", explica.
Sempre atento ao movimento cultural da cidade, o ator acredita que a criação da Escola de Artes Cênicas contribuiu muito para melhorar o nível das produções locais e à formação de atores. "Não temos uma tradição teatral. É importante formar público, e para isso é preciso oferecer um bom trabalho", argumenta.
Corpo esculpido ou decomposto
Com a experiência de quem está no palco há 25 anos, interpretando os mais variados personagens, Newton Murce explorou com muita competência o processo de interiorização do personagem, e o processo que ocorre com o corpo do ator no momento da criação. Corpoiesis: A Criação do Ator é uma importante contribuição do ator goiano à bibliografia de artes cênicas. É muito bom saber que agora os atores têm à sua disposição um trabalho bem fundamentado para ajudá-los a compreender a complexidade do ato de interpretar e de conhecimento do próprio corpo. Murce contribui de forma admirável na formação dos novos atores.
Diferentemente do que o leitor possa imaginar, Newton não aplicou a psicanálise no campo da arte. Ela serviu de fundamentação para o entendimento do corpo, não o corpo biológico, orgânico, mas um corpo constituído pelo simbólico. No exaustivo processo de pesquisa, Newton conclui que diante do texto o ator se fragiliza em busca de um corpo novo, que já está ali no corpo do artista. Mas, que precisa ser esculpido ou decomposto para dar lugar ao novo, à composição poética. Isso ocorre pela repetição jamais idêntica em si mesma. É escrita poética, na sua opinião, que produz o novo, o corpoeisis, neologismo criado a partir do grego poiésis (criar) e poiétikos (inventivo).
Livro: Corpoiesis: a Criação do Ator
Autor: Newton Murce
Editora: UFG - Coleção Critérios
Páginas: 207
Preço: R$ 15