segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

'" SOU JORNALISTA, ESPECIALISTA EM IDEIAS GERAIS. SEI ALGUNS MINUTOS DE ALGUNS ASSUNTOS. E NÃO SEI NADA."

OTTO LARA RESENDE

CIA. IN CENA


Cristiano Mullins fundou a Cia.In Cena em 2006. Ele explica que não se trata de um grupo exclusivamente teatral, pois é aberto a projetos de artes plásticas, teatro, pesquisas, dança, fotografia e eventos. “As portas estão abertas a todas as manifestações artísticas”, afirma. Cerca de 40 atores fazem parte do catálogo da companhia. Integrantes fixos da companhia são ele, Sandro Tôrres, Marcos D´ Ávila, Isadora Castro e Neto Mahnic. O Grupo Charanga, que há quatro anos anima a abertura dos espetáculos da Mostra de Teatro Nacional de Porangatu – Tenpo, reúne mais de uma dezenas de artistas convidados. Suas performances tornaram-se uma tradição, e uma atração a mais na mostra.

Segundo o artista, este ano, 20 artistas se inscreveram para integrar a Charanga, mas só 12 foram escolhidos. Nas três edições anteriores, o clown, a linguagem circense e o clima carnavalesco marcaram as animações do grupo dentro do Circo Fábrica de Sonhos . Na edição 2009, o desafio foi maior. Como a Agência Goiana de Cultura, realizadora do evento em parceria com a Prefeitura de Porangatu, construiu uma estrutura especial que chamou de Teatrão , a proposta mudou. Cristiano teve de pensar em algo diferente para conquistar a plateia.


A opção recaiu sobre trechos de obras de Nelson Rodrigues para encenar. O enredo trágico de Valsa nº 6, Beijo no Asfalto, Engraçadinha, Vestido de Noiva ganhou ares performáticos simultâneos e irreverentes. Cenas gravadas em vídeo e trilha sonora da DJ Simone Junqueira contribuíram para dar o ar de seriedade a as encenações diárias. Mesmo no comando, Mullins deixa o ator livre para compor sua própria interpretação.


CRISTIANO MULLINS - 20 ANOS DE CARREIRA


O ator Cristiano Mullins circula por todos os gêneros da arte. Faz comédia, peça infantil, canta, dança, desenha figurinos, cenários e elabora maquiagens incríveis. Por baixo da aparente tranquilidade, há uma criatividade aguçada, uma inquietude que o leva a fazer de tudo um pouco em todos os segmentos da arte. Aos 35 anos, completados no dia 6 de novembro, Mullins recorda-se da estreia nos anos 1980, no Show do Apagador, formado por jovens universitários, entre eles o cantor Marco Antonini e o ator Sérgio Bandolla. Estudante de escola pública na Cidade Jardim, onde morava com a família, deu o primeiro passo rumo à carreira que mais tarde definiria como profissão.

Na Escola Professor José Antônio Gomes da Frota formou seu primeiro grupo de teatro, o Balaio de Gato. De lá, saía uma vez por mês para apresentar-se em bares e restaurantes. A atuação em dezenas de peças e a excentricidade de suas performances consolidaram os 20 anos de carreira do artista, iniciada na adolescência por influência do irmão, o também ator Daniel Mullins, morto há dois anos.

Versatilidade e desenvoltura nunca faltaram ao artista, que um dia, por acaso, achou na rua um flyer do espetáculo Jú Onze 24, comandado por Júlio Vilela, no Centro Cultural Martim Cererê, e não pensou duas vezes ao se apresentar para integrar o irreverente e divertido elenco do ator/diretor. De cara passou no teste. Ficou sete anos na trupe do Jú, entrando definitivamente na vitrine teatral.


O palco do Teatro Pyguá marcou sua estreia profissional . Em 1992, o produtor Luiz Roberto Pinheiro o convidou para fazer a peça O Gordo e o Magro. Mullins surpreendeu pela interpretação de seis personagens e o talento para a comédia . Com Luiz Roberto, faria outros espetáculos e acumularia experiência para investidas independentes . Dos clássicos Romeu e Julieta, Os Três Mosqueteiros e Peter Pan à Rainha Má de A Bela Adormecida seriam 17 espetáculos e muitas turnês com o grupo por várias cidades.

Até então, Cristiano Mullins não tinha consciência de que era um ator. “Na verdade eu brincava de ser ator. Só descobri que era arte o que realmente queria quando começaram a me chamar para fazer eventos”, conta o artista, que paradoxalmente investia em personagens performáticos para o circuito alternativo. Durante muito tempo apresentou-se na boate Jump, depois na Disel, e mais recentemente no Athena Bar. Cristiano cria seus espetáculos de acordo com o espaço que vai ocupar. “Casa noturna exige mais entretenimento. Não pode ser nada muito sério”, explica o ator, que chocou o público ao comer, em cena, um coração de boi cozido em um marinado vermelho feito de groselha na performance Mutação. “A plateia ficou assustada, porque tudo parecia muito real”, conta. O ator que não esconde seu fascínio pela performance, um estilo teatral que, segundo ele, tem vida curta e um período propício para a encenação.

Primeiro professor
A voz rouca inconfundível e o perfil excêntrico, aliado ao bom desempenho no palco, chamaram a atenção do diretor/professor Sandro di Lima, do Instituto de Educação Tecnológica, que o convidou para participar da peça A Visita da Velha Senhora, de Durreman. Foram sete meses de ensaios e o primeiro contato do artista com a pesquisa e o estudo de dramaturgia. “Sandro foi meu primeiro professor de teatro. Até então eu atuava intuitivamente. A partir daí passei a me preocupar em estudar teatro. Fiz meu primeiro curso em 1999 com a professora Mônica Serpa, no antigo Colégio Carlos Chagas”, ressalta.


Em 2004, Mullins concluiu o curso de Artes Cênicas na primeira turma da Universidade Federal de Goiás. “Acho muito importante o ator ter uma formação acadêmica. Ele não pode perder a sua essência como artista, a sua espontaneidade, mas deve ter conhecimento do que faz. Aperfeiçoamento é fundamental”, salienta. Cristiano Mullins gosta de ficar à vontade para criar seus personagens, observar pessoas e objetos para depois transformar em arte.

Apesar do gosto pela comédia, já encarou personagens dramáticos como fez em Melodrama, texto de Marcos Caiado, com o qual ganhou seu primeiro prêmio de melhor ator no 7º Festival de Poesia Encenada, promovido pela Federação de Teatro de Goiás, em 2005. Como uma coisa puxa a outra, Melodrama rendeu-lhe o 2º Prêmio de Teatro de Goiás, concedido pela Agência Goiana de Cultura. Com o dinheiro da premiação produziu a comédia Mulheres Privadas, em 2006.

Projetos
Para 2010, Cristiano Mullins está cheio de planos. O primeiro deles é dar um tempo na comédia, atuar com outros grupos de teatro e diversificar os papéis no palco. Quer buscar oportunidades até mesmo fora de Goiânia. Ele acredita que 2010 será um ano de mudanças. “Estou arrumando as malas com todas as coisas que já fiz, guardar tudo e entrar em um novo processo. Quero buscar o novo. Tenho convites para trabalhar com outros diretores, como Sandro di Lima”, revela. Com a Cia In Cena, planeja a montagem das peças A Morte Bate à Sua Porta, de Woody Allen, e Banheiro Feminino.

Sintonizado com o meio cultural, Cristiano Mullins afirma que o ator goiano tem obrigação de contribuir para o fortalecimento das artes cênicas na cidade. Foi partindo desse princípio que criou o projeto Postais Cênicos, com o objetivo de difundir, registrar as produções e homenagear os grupos de teatro, dança e circo de Goiânia. Na concretização, contou com o patrocínio da Lei Municipal de Incentivo à Cultura.

Os preparativos para a segunda edição integrando cinema, música , artes cênicas e visuais, cultura popular e outras manifestações artísticas estão bem adiantados. Ele informa que 40 profissionais deverão participar. Muito bem aceita pelo público, a coleção de postais com fotos de espetáculos de Goiânia foram distribuídos em vários pontos da cidade gratuitamente. Não foi só. Mullins comandou as três edições do Fest CulMix, no Centro Municipal de Cultura Goiânia Ouro, agregando exposições de artes plásticas, performances, espetáculos de teatro, shows musicais em um só espaço, com uma enorme.

Além do trabalho à frente de sua própria companhia, Cristiano Mullins também colabora com o processo de criação de outros grupos de teatro fazendo divulgação de espetáculos, figurinos e maquiagem. Na sua opinião, hoje os grupos de Goiânia estão se profissionalizando, investindo mais nas produções e na qualidade dos espetáculos. Todos procuram acompanhar o trabalho do outro e dar a sua colaboração no processo de produção. Mas, reconhece que ainda há muito o que ser feito. Reclama da dificuldade de sobreviver só de teatro, apesar de sentir-se um privilegiado. “ Até agora tenho conseguido viver da profissão. Mas, não posso esperar retorno de bilheteria. Tenho de investir em outros trabalhos como o teatro-empresa e animação de eventos para pagar minhas contas”, assegura.