sexta-feira, 28 de outubro de 2016



GOIÂNIA EM CENA


                             OCASO DE UM FESTIVAL

Peça do Grupo Arte & Fato foi uma das atrações do festival


Depois de dois anos, o Festival de Artes Cênicas Goiânia em Cena retornou à ao calendário do aniversário da capital, que em 2016 comemorou 83 anos. Com 60 atrações de teatro, dança, circo e música na grade de programação, o evento não alcançou seu principal objetivo: o público. 

Praticamente sem divulgação na mídia, sem cartazes informativos, sem programação impressa, o festival não conseguiu atingir o público estimado em 10 mil pessoas. O que era para superar as expectativas, terminou em decepção para os organizadores.  “Não conseguimos lotar nenhuma casa”, lamenta a coordenadora do evento Marci Dornellas. 
 
Realizado de 12 a 23 de outubro em praças, parques, ruas, shopping e teatros, o festival conquistou um público ínfimo para a dimensão de seu programa. Apenas dois eventos tiveram plateia de 300 espectadores. Em 12 dias, foram oferecidos 60 espetáculos de nível muito bom de atores, grupos e companhias de Goiânia, São Paulo, Rio, Bahia, Brasília gratuitamente ou a preços populares de R$ 20 (inteira) e R$ 10 (meia). Infelizmente, por não ter conhecimento ou por não se sentir motivado a sair de casa, o espectador não compareceu.  “O feriadão no Estado e na Prefeitura, aliado a outros eventos na mesma data prejudicaram o festival”, acredita.  
  
Inspirado no tradicional Porto Alegre em Cena, o Goiânia em Cena chegou a ser uma das realizações mais aguardadas pela classe artística. Grandes nomes do teatro brasileiro e até internacional atraíram milhares de espectadores aos locais de apresentação. Havia disputa de ingressos.  No seu ocaso, precisa de estímulo para continuar existindo, investimento em divulgação e maior empenho de seus realizadores para que volte a ser o maior e o melhor da região. 

Praticamente ignorado pelo público, o Festival Goiânia em Cena também não teve a atenção merecida das autoridades. Nem mesmo o secretário municipal de Cultura, responsável pela sua realização, apareceu para assistir algum espetáculo. Em 2014 e 2015, o festival não foi feito e nenhuma explicação foi dada pela SeCult. 

O Festival Goiânia em Cena foi realizado com recursos do Fundo Municipal de Cultura, e orçado em R$ 190 mil. Como o empenho foi feito na data certa, muitos artistas e produtores estão recebendo seus cachês. Pelo menos nesse quesito a SeCult acertou dessa vez. 

Público foi pequeno no espetáculo de dança

            
    
  

quinta-feira, 20 de outubro de 2016

ANÁLISE




                               AMIGAS, NEM TANTO ASSIM


 
Mauri de Castro, Ivan Lima, JonatasTavares e João Bosco Amaral

  
Quando quatro atores experientes unem seus talentos no palco, o resultado só pode ser muito bom.  Pela primeira vez, Ivan Lima, Mauri de Castro, Jonatas Tavares e João Bosco Amaral atuam juntos na comédia de costumes Amigas, Pero no Mucho, da paulista Célia Regina Forte, sob a direção de Rafael Blat. A narração em off é da atriz Irene Ravache, madrinha da produção, que estará em cartaz nesta quarta (19/10), às 21 horas, no Teatro SESI, dentro da programação do Festival de Artes Cênicas Goiânia em Cena. 

O espetáculo estreou no final de maio deste ano, no Teatro Madre Esperança Garrido, surpreendendo com a receptividade. Foram cinco dias de casa lotada, e críticas muito favoráveis da plateia. Célia Forte escreveu o texto inspirada em suas velhas tias, que quando se encontravam davam o que falar. É assim com as “amigas” Débora, Sara, Fran e Olívia. O encontro das quatro acaba em uma sucessão de revelações de todo tipo, afinal nenhuma delas é “santa”. 

Todas têm seus defeitos, neuroses e segredos, desvio de caráter. As revelações, algumas estarrecedoras, vão se sucedendo ao longo da peça, gerando muita intriga e muita confusão. Invejosas, falastronas, irônicas, falsas, elas se amam, mas também se odeiam. A autora soube dosar com sabedoria as intrigas, a mordacidade de cada uma, e premeditar os esclarecimentos, que acabam em muitas gargalhadas. E quem não gosta de fofoca, de maledicência, de rir dos defeitos dos outros que atire a primeira pedra.  Então ria com Amigas, Pero no Mucho. 
 
Completando 50 anos de carreira, Ivan Lima, também produtor do espetáculo, vive Fran, uma senhora de meia idade divorciada que, sem constrangimento algum, dá em cima do marido das amigas. Adora uma boa fofoca. Olívia, interpretada por Mauri de Castro, vive um casamento de aparências. Desconfiada, tem também mania de perseguição. Esconde sua real situação com o marido das outras amigas, fingindo ter uma família feliz. Débora, a personagem de Jonatas Tavares, é divorciada. É na sua casa que as amigas se reúnem. Irônica e desbocada, se considera a dona da verdade. Sara, vivida pelo ator João Bosco Amaral, é dissimulada e falsa. Tem segredos que esconde com unhas e dentes. Descarrega as frustrações no cigarro. Fuma compulsivamente. 

Há algum tempo sem fazer comédia, envolvido que está em outros projetos, Mauri de Castro, incorpora Olívia com muita sutileza, assim como Jonatas Tavares, cuja personagem permanece todo o tempo no palco, e exige muito do ator. Mauri  dosa com sabedoria as atitudes contidas de sua personagem. Jonatas expõe com segurança os sentimentos de Débora, a amiga de todas as horas, que tem o controle de tudo, o ombro amigo para oferecer. Envolvido com trabalhos mais densos, dois deles baseados na obra de Edgar Allan Poe, João Bosco Amaral estreia na comédia. Ele construiu uma Débora hábil na arte da dissimulação. Veterano ator de teatro, TV e cinema, Ivan Lima faz uma Fran divertida, cínica, traidora.  

Coeso e hilariante, o elenco comandado com habilidade por Rafael Blat, a comédia expõe de forma hilariante as fraquezas humanas, como é possível falar de assuntos melindrosos sem apelação. Criado por Fábio Marques, o figurino luxuoso e exuberante escapa do ridículo das produções do gênero, assim como cenário, que remete à uma sofisticada residência. O exuberante figurino foi inspirado, segundo Ivan Lima, nos elegantes vestidos usados pela bela atriz Greta Garbo no filme A Dama das Camélias (1936).

A intenção da autora, explica Ivan, sempre foi a de atores interpretarem as “amigas”. É essa, explica o ator,  a graça e a irreverência de todo o espetáculo. Amigas, Pero no Mucho foi encenada pela primeira vez nos anos 1970 dirigida pelo consagrado ator Paulo Autran. Permaneceu cinco anos em cartaz. Em 2015, o ator Marcelo Serrado estreou a peça, sob a direção de José Possi Neto, o que prova que o texto de Célia Forte continua muito atual.