sexta-feira, 17 de junho de 2016




CARA-DE-BRONZE
 
 

CIA. MARTIM CERERÊ RECRIA NO PALCO A BONITEZA DO SERTÃO
Estreia Cara-de-bronze


Mesmo tendo vivido boa parte de sua vida no Rio de Janeiro, para onde o pai o levou para estudar, o diretor teatral, dramaturgo e ator Marcos Fayad nunca deixou de amar suas origens. De volta a Goiás no final dos anos 1980, enveredou pelos temas regionais, levando para o palco a beleza dos nossos ancestrais em Martim Cererê, o cerrado goiano em Cerrado Celular, a autêntica música caipira em Puro Brasileiro, a solidão do homem sertanejo em Voar e muitas outras peças que retratam a terra Goiá, o homem, seus hábitos e costumes. 

No seu último papel como ator, viveu o atormentado Antonin Artaud em A Realidade É Doida Varrida, que estreou em uma capelinha dentro do Clube Antônio Ferreira Pacheco, ao lado do Teatro SESI. A pequenina capela transformou-se no manicômio onde Artaud viveu a maior parte de sua vida. Fayad mergulhou de cabeça na insanidade do personagem e com ele viajou para São Paulo e Rio de Janeiro. Muito bem no papel, o espetáculo solo foi um sucesso. Assim como o solitário caipira do solo Voar, criado pelo escritor Gil Perini. 

Depois de Artaud, Fayad fez parênteses de três anos para tratar um câncer. Passou por um delicado transplante de medula, e um tratamento delicado. Mas, não perdeu a esperança. Continuou a ler, pesquisar, escrever. Refeito do susto, tratou de remontar um dos seus espetáculos mais marcantes: Cara-de-bronze. Batalhou recursos do Fundo Estadual de Cultura, e pôs mãos à obra. Queria retomar a adaptação da obra de Guimarães Rosa, um conto extraído do livro Corpo de Baile, publicado há 60 anos. A história se passa em um único dia dentro de um curral de ajunta de bois. Dez vaqueiros conversam sobre o dono da fazenda, o tal Cara-de-bronze, homem poderoso e sábio como Deus, escuro e feio como o diabo. Cara-de-bronze vive sua solidão dentro de um quarto da enorme casa de sua fazenda. É um enigma para seus empregados.

Encontrar atores dispostos a enveredar pelo sertão do autor de Grande Sertão: Veredas, não foi tarefa fácil. Muitos fizeram o teste. Poucos, os escolhidos. Seis meses de preparação, entre ensaios, criação de cenário, figurinos e iluminação, foi o tempo que levou até a estreia. 

Fayad inspirou-se nas fazendas de criação de gado, nos vaqueiros e no universo sertanejo, para compor o espetáculo. A trilha sonora, do violeiro Roberto Corrêa, já estava pronta desde 1999, quando levou Cara-de-bronze ao palco pela primeira vez. Cercou-se de profissionais experientes para recriar a fazenda do misterioso Cara-de-bronze, presença constante no texto, mas que nunca aparece. Com sua viola, Denis Malaquias pontua todo o espetáculo com sua cantoria. A iluminação competente de Rodrigo Assis dá ao ambiente as nuances do dia e do anoitecer. O galo canta e os passarinhos piam nas árvores do quintal, os bois berram no curral. A cozinheira Colomira (Narla Araújo) serve comida e cafezinho.  

O difícil texto de Guimarães Rosa ganha vida no palco. Transporta o espectador para dentro do palco, à realidade dos vaqueiros, que falam do patrão nunca visto. Dois veteranos do palco, Danilo Alencar, o velho Tadeu e Newton Murce, o peão Grivo, interpretam seus papéis com muita veracidade. Rigoroso nos detalhes, o diretor não deixou de fora a catira, o berrante, a cantoria entoada Guerhard Sullivan, Edmar Pereira, André Larô, Saulo Dallago, Tiago Barreto, Tarik Hermano e Tarcísio Pires . 

Exigente, rigoroso, às vezes irracível, Marcos Fayad exige o máximo de dedicação de cada ator.  Emociona em diversos momentos. Cara-de-bronze  é uma bela recriação da história do autêntico sertanejo, que ama sua terra e nela quer ficar para sempre.   

Nos dias 1, 2 e 3 de julho, Cara-de-bronze estará em cartaz no Teatro Goiânia, depois de sua aguardada  estreia no Teatro SESI, em junho.   


Fotos: Corália Elias