EMOÇÃO DA LOUCURA
Admirador da obra de
Guimarães Rosa, o diretor Danilo Alencar incursiona pelo universo do escritor
mineiro que melhor retratou o sertão pela segunda vez. Se anteriormente, ele
ousou adaptar Grande Sertão: Veredas em Ser Tão Grande, dessa vez foi buscar
nas Primeiras Estórias o enredo para Os Avessos, baseado no conto Sorôco, Sua
Mãe, Sua Filha, a mais recente produção do Grupo Arte & Fatos, da
Coordenação de Arte e Cultura da PUC Goiás.
O espetáculo, que estreou
como um exercício teatral do grupo, ganhou dimensão maior na apresentação na
Terça no Teatro SESI. Com uma boa interpretação de seus atores, Danilo
conseguiu um resultado satisfatório com a nova montagem.
Narrada pelo padre do
lugarejo, a história é muito triste.
Difícil não deixar a
emoção aflorar com o drama vivido pelo sertanejo Sorôco, um viúvo pobre que
vive com a mãe e uma filha loucas. Sem recursos para cuidar delas, é obrigado a
embarcá-las no trem que as levará ao hospício em Barbacena (MG). Sorôco caminha
arrastando as duas debaixo do sol inclemente do sertão, com resignação, sem
lamentar a sorte.
Apesar dos poucos
recursos de, Danilo Alencar foi capaz de fazer um espetáculo de qualidade. Lançou
mão de objetos cênicos e alguns figurinos de Ser Tão Grande, criados pela
figurinista Rosi Martins, mostrando que com esforço e dedicação pode-se
construir algo novo. Tecidos toscos e sombrinhas bordados lembram peças de
Arthur Bispo do Rosário. As máscaras usadas pelas mulheres revelam o sofrimento
da loucura. Iluminação avermelhada ressaltam
a aridez de uma terra ingrata.
Um espetáculo de Danilo Alencar nunca é o
mesmo, por isso é sempre muito bom ver os seus trabalhos. A cada apresentação,
ele insere alguma mudança. Investe em pequenos detalhes, arranca dos atores
interpretações mais convincentes, e faz adequações no texto. Não foi diferente
com Os Avessos, que vi na estreia. Quem poderia, senão Danilo Alencar, fazer o
público acreditar no suave balanço do trem que parte deixando apenas a poeira
atrás de si, e um emocionado Sorôco, sozinho na estação, carregando a sua dor.