quarta-feira, 13 de julho de 2011

LIÇÕES DE MOTIM


Anthropos Cia. de Arte
Texto de Hugo Zorzetti, produzido pela Anthropos Cia. de Arte,  estreou no Teatro Sesi, fez temporada no Goiânia Ouro, e deve retornar ao palco do Sesi em agosto

Professor de teatro, autor teatral, escritor, Hugo Zorzetti é um observador atento dos fatos cotidianos. As ocorrências diárias são um prato cheio para suas peças, a maior parte comédias que satiriza fatos e pessoas. Elas são a matéria prima do seu trabalho.

Lições de Motim, que a Anthropos estreou no Teatro Sesi, fez temporada no Centro Municipal de Cultura Goiânia Ouro, e deve retornar ao Sesi em agosto, narra uma história que de tão corriqueira, os jornais e os canais de TV já nem noticiam mais.

Durante 10 anos uma velha senhora, viúva e solitária, teve sua casa roubada pelo mesmo ladrão. Ela cansou de registrar Boletim de Ocorrência na polícia, que já nem dava mais atenção as suas reclamações. No decorrer dos anos, ela foi ficando sem os eletrodomésticos, os botijões de gás, os utensílios da cozinha. Até pano de prato o sujeito não se acanha em levar. Aos poucos a casa vai ficando vazia. Isso acontece até que a própria vida se encarrega de dar um desfecho para a situação.

Um belo dia, o larápio entra na casa da velha senhora e ao sair fica preso na esquadria da janela. Ele tenta sair de todas as maneiras, mas não consegue desvencilhar-se das grades. Fica como um rato preso na armadilha. Só a idosa pode salvá-lo chamando a polícia para salvá-lo, ou deixá-lo morrer enforcado na janela. É chegada a hora do acerto de contas. E a velhinha não perde tempo.

O ladrão, que a atormentou por 10 anos está agora em suas mãos. Indefeso, humilhado, com medo, ele implora para que ela chame a polícia para tirá-lo dali. Não é o que ela quer, pois a polícia que é paga para proteger os cidadãos nunca se interessou pelo caso. A velha senhora está entre a cruz e a espada. Está aí questão crucial da peça: fazer, ou não justiça com as próprias mãos já que não acredita mais na polícia.

Produção simples, com poucos recursos cênicos, Lições de Motim envolve o espectador de tal forma que o público vai entrando na história. Mesmo cometendo alguns deslizes (como levantar o corpo e ficar ereta enquanto a idosa é emborcada), talvez por ser estreia, Renata Caetano segura bem a personagem. Liomar Veloso faz um ladrão convincente, que se debate desesperadamente nas grades da janela como o rato se debate na armadilha.

Lições de Motim termina de uma forma abrupta. A platéia fica à espera de um desfecho. Mas o término da história fica a seu critério. Bom texto, boa montagem, Lições de Motim mostra que Hugo Zorzetti continua em plena forma.

Foto: Josemar Callefi