Deixamos
de registrar a maior parte das nossas memórias. Quando menos se espera o tempo
passou, as lembranças foram se apagando, e tudo fica mais difícil de resgatar.
Já não conseguimos mais rever os pequenos detalhes, minúcias de acontecimentos
e fatos.
Vivemos
no mundo do efêmero. Daí a importância de registrar a história, nossa e dos
outros. Verdade que nem sempre encontramos tempo ou disposição para fazê-lo.
Vamos deixando tudo para depois.
Infelizmente, o que seria fundamental para o futuro, para pesquisadores
e historiadores vai se perdendo pela ação inexorável do tempo.
O
que é notícia hoje já não é mais dentro de poucas horas. Diante da infinidade
de informações, esquecemos rapidamente determinados assuntos. A internet, essa
poderosa ferramenta contemporânea, largamente utilizada torna-se nosso diário
atual, nossa fonte de informação e documentação. Porém, arquivar fotos, guardar livros, filmes e vídeos, panfletos e
catálogos, recortes de jornais e revistas é tão importante quanto os
apontamentos, as anotações, os diários e os
impressos.
Tudo
é memória. Tudo compõe a história. Futuramente, esses dados serão
compartilhados, manuseados, pesquisados, compreendidos. A história do teatro em Goiás vem sendo
construída. Muitos são os registros já feitos sobre os primórdios do teatro
goiano, o legado, experiências e vivências de grupos, atores, atrizes,
diretores e outros temas relacionados.
Autor, diretor, professor e criador do Grupo
de Teatro Exercício, Hugo Zorzetti assina uma coleção sobre a História do
Teatro em Goiás (Editora UFG/2014). São três livros imprescindíveis para quem
atua na área. Memória do Teatro Goiano – A Cena na Capital focaliza
personalidades históricas como Otavinho Arantes, fundador do Teatro Inacabado,
Cici Pinheiro, atriz audaciosa que ousou beijar seu parceiro de cena na
primeira novela levada ao ar em Goiânia, causando o maior rebuliço na
sociedade, e João Bennio, um mineiro quase goiano que atuou tanto no teatro
como no cinema.
-
No
segundo volume das memórias, Hugo Zorzetti aborda A Cena no Interior. Ele
resgata a cena teatral de Morrinhos, fala sobre a atuação marcante da família
Diniz, fundamental para agitação cultural na cidade. A fundação do Teatro
Juquinha Diniz é outro foco da obra de Zorzetti, um profundo conhecedor do
fazer cultural de Goiás. Outro ponto importante da obra diz respeito a cena
teatral de São Luís de Montes Belos, e sua grande incentivadora, a atriz e
diretora Carmosina Vitória, em Trindade, Anápolis, Quirinópolis, Pirenópolis e
Silvânia.
Vale
apena conhecer o teatro feito durante a ditadura militar (1964/1985). Zorzetti
fala sobre assuntos que na época eram tabu. Censura, perseguição política a autores,
atores e diretores são alguns temas do terceiro volume da série Memória do
Teatro Goiano - A Cena da Ditadura. A
atuação marcante do Teatro Exercício, a criação do Tese, grupo de teatro do Colégio Universitário
(Colu), e do Teatro Universitário Galpão são temas da obra, que traz também
temas polêmicos para a época como a censura, a perseguição política, os
protestos contra o regime no palco, a saga dos pioneiros do teatro. Zorzetti
resgata a história de muitos atores que deram imensa contribuição à arte e que
continuam atuantes no meio.
Atriz, diretora e historiadora, Renata Caetano
é autora do livro Palco em Cena, que traz amplas entrevistas dos diretores
Sandro di Lima, Danilo Alencar, Mauri de Castro, Samuel Baldani, nomes
fundamentais da cena teatral de Goiás. A autora elege o texto teatral como
ponto de discussão: atos, cenas, personagens, estilos, iluminação, cenografia.
Renata contextualiza cada parte nos aspectos históricos a partir dos anos
1960/1970 e personagens, no caso os quatro diretores.
Teatro Goiânia: Histórias e Estórias, de Gilson P. Borges |
Teatro Goiânia
Um
dos mais importantes espaços culturais da capital, o Teatro Goiânia ganhou
um livro inteirinho sobre ele, escrito por Gilson P.Borges. Teatro Goiânia: Histórias e Estórias integra
a coleção Goiânia em Prosa e Verso, lançada pela Secretaria Municipal de Cultura,
em parceria com a Editora UFG, em 2007. Ilustrado com fotos da época da sua
construção, a obra resgata toda a história do Cine Teatro Goiânia, as primeiras
peças encenadas, os primeiros filmes exibidos, a primeira grande reforma que o
transformou apenas em teatro e outros assuntos interessantes. Gilson mergulhou na pesquisa levantando todas
as informações sobre o prédio art déco, tombado pelo Patrimônio Histórico.
Inaugurado em 1945, nas comemorações do Batismo Cultural de Goiânia, é
considerado um marco da cidade.
Gilson
P.Borges também organizou o livro Memória da Cena Teatral Goiana 1. Trata-se do
primeiro volume de uma série que o autor prepara sobre grupos, diretores,
atores, dramaturgos e técnicos de teatro em Goiás. O organizador baseou seu trabalho
a partir da criação do Banco de Dados do Teatro Goiano, à disposição dos
interessados na Biblioteca Carmelinda Guimarães do Instituto Tecnológico de
Goiás Basileu França, ex-CEP Basileu França (Av. Universitária, nº 1750, Setor
Universitário – Goiânia).
No
primeiro livro, Gilson P. Borges registrou a obra dos grupos Trama Teatro, do
diretor Deusimar Gonzaga, Teatro GTI, do ator Bruno Peixoto, Olho da Rua e
Reinação, da atriz Rita Alves. O Grupo de Teatro Bastet, de Thiago Moura também
mereceu destaque nas memórias, bem como o Grupo Trupicão Cia. de Teatro, de
Sandro Freitas. Um dos mais atuantes da cena teatral, o trabalho do Grupo
Zabriskie, de Ana Cristina Evangelista e Alexandre Augusto e Cia. de Teatro
Novo Ato, de Luiz Cláudio e Marília Ribeiro estão registrados na obra.
Fundada
no Rio de Janeiro pela atriz, diretora e acrobata Lua Barreto, a Cia. Corpo na
Contramão tem sua história contada no livro de Gilson Borges. O leitor poderá
conhecer também o trabalho realizado pela Cia.Teatral Oops!... de João Bosco
Amaral e Sol Silveira. Além dos textos, o livro é ricamente ilustrado com
fotografias feitas pelo próprio autor, o que enriquece muito o seu trabalho.
Cada grupo pode falar da criação do grupo, a técnica desenvolvida e contar
curiosidades de sua atuação. Não houve, por parte do organizador, a preocupação
de reescrever os textos, que são narrados em primeira pessoa.
Memória
da Cena Teatral Goiana 1 apresenta um panorama amplo sobre os grupos da cidade,
com ótimo material de pesquisa. Espera-se que tenha continuidade, pois ainda há
dezenas de outros esperando contar sua história. Editado pela Nega Lilu
Editora, a obra é patrocinada pela Lei Municipal de Incentivo à Cultura.
Palco Aberto, de Renata Caetano |
Bibliografia
- ZORZETTI, Hugo.
Memória do Teatro Goiano – A Cena na Capital. Goiânia. Editora UFG, 2014.
- ZORZETTI, Hugo.
Memória do Teatro Goiano – A Cena no Interior. Goiânia. Editora UFG, 2014.
- ZORZETTI, Hugo.
Memória do Teatro Goiano – A Cena na Ditadura. Goiânia. Editora UFG, 2014.
- CAETANO, Renata. Palco
Aberto. Goiânia. Gráfica e Editora América. 2009.
- BORGES, Gilson P.
Teatro Goiânia: histórias e estórias. Goiânia. Editora da UCG. 2007.
- BORGES, Gilson P.
Memória da Cena Teatral Goiana I. Goiânia. Nega Lilu Editora. 2015.
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